“Um ficção livremente inspirada na vida de Céline Dion”. A história da cantora imortalizada por ser a intérprete de “My Heart Will Go On”, a canção-tema de “Titanic”, chega aos cinemas pelas mãos e na figura de Valérie Lemecier, também canadense como a sua retratada.

A princípio, é natural até torcer um pouco o nariz para o que a cineasta e atriz faz, recontando, da infância ao estrelato, a jornada de La Dion como uma feia, talentosa, porém, histriônica aspirante a artista. Lemercier a vive em todas as fases da vida e faz desse “Aline – Voz do Amor”, distribuído pela Imovision aqui no país, uma cinebiografia que carrega no kitsch, mas nunca perde o prumo. Lemercier faz um filme exagerado, delirante até extremamente kitsch na sua estética, montagem e tom, mas, carregado de emoção.

As perucas, figurinos e tudo o mais, além das atuações da mãe Sylvette (Danielle Fichaud) e do empresário-tornado-marido Guy-Claude (Sylvain Marcel), fazem do filme uma peça de humor também constante, que se entremeia com organicidade a partir da performance de Lemercier como Aline Dieu. Ela logicamente recorre à dublagem em várias cenas nos palcos, mas entrega uma composição apaixonada de Dion, em um filme dado a excentricidades sim ainda que extremamente honesto também.

“Esse é um trabalho perigoso
Quanto mais se dá mais querem”

Tudo o que “Bohemian Rhapsody” queria ser mas não é por conta da edição canhestra e visão pouco respeitosa da vida de Freddie Mercury (mas que bem sabemos rendeu até um Oscar!), esse Aline – A Voz do Amor” é. Dos sonhos da jovem Dieu de ser visível através de sua voz, de poder viver seu amor com Guy-Claude sem julgamentos – apesar da diferença de idade massiva -, de crescer e brilhar nos palcos do mundo, tudo está no filme. E cativa.

La Dion autorizou? Bom, o filme usa todas as músicas dela, em inglês e também em francês de Quebec. Como “Velvet Goldmine”, de Todd Haynes, que pode até não ser identificado como uma cinebiografia ficcional de David Bowie mas não deixa de ser, “Aline – A Voz do Amor” traz uma versão sobre a vida, as lutas, o espírito indômito da lenda canadense, inclusive, ficando entre o melodrama com tons mais bem humorados em boa parte de sua duração. A perda da voz por estafa, a frustração por ter que fazer shows e ficar longe do filho pequeno, a incerteza se deve se aposentar após extenuantes temporadas em Las Vegas, configuram alguns dos momentos mais interessantes desse filme de Lemercier extremamente convidativo a ser visto e ouvido – só baixar a trilha sonora do filme nas plataformas musicais.