Bem… Até onde algumas pessoas podem ir para ferrar com a vida de uma outra?

E o quão rápido as coisas podem ir do céu ao inferno para alguns?

Essas são perguntas que ficam na mente ao final do sétimo episódio desta sexta temporada de Better Call Saul, intitulado “Plan and Execution”. É uma hora poderosa de televisão, com direito a um final impactante e na qual todo o meticuloso trabalho de construção da narrativa ao longo dos últimos episódios é recompensado.

Aliás, não só nos últimos episódios: essa construção vem desde o começo da série! Afinal, o caso envolvendo os idosos e a companhia Sandpiper está presente em “Better Call Saul” desde a primeira temporada e nos fez dar umas boas risadas até então. Neste episódio, só gera tensão: o suspense de vermos as peças do golpe de Jimmy e Kim contra Howard se encaixando gradativamente é algo admirável, do ponto de vista de roteiro e encenação.

Mas o episódio não é só tensão. Ele começa divertido e em ritmo frenético, quando vemos Jimmy fazendo o que pode para manter o golpe de pé. Já Kim sacrifica algo potencialmente muito bom a fim de ajudar no esquema e passa a comandá-lo. É quando o diretor/roteirista do episódio, Thomas Schnauz, amplifica o humor maluco com os jovens cineastas parceiros de Jimmy – uma delas vestida de elfa – e movimentos de câmera circulares que cercam as pessoas em cena e amplificam o riso nervoso.

Em um aparte, ver o coitado do Bob Odenkirk correndo esbaforido em algumas cenas para fazer o plano dar certo desperta lembranças do ataque cardíaco e do susto que o ator sofreu durante as filmagens. E ainda dizem que atuar é moleza…

Já quando o episódio chega à reunião na HHM, sai o humor e entra a tensão, conduzida pelos enquadramentos que ressaltam o mundo se comprimindo sobre Howard – há uma bela tomada dele subindo uma escada, pequeno como um rato em um labirinto – e uma atuação primorosa de Patrick Fabian. Quem diria, aquela figura antipática do começo de “Better Call Saul” se provou algumas vezes como um sujeito legal, no fundo, e agora sentimos o máximo de empatia por ele por causa dos roteiros e da atuação de Fabian.

Na outra linha narrativa do episódio, temos Lalo, e nenhum personagem de Better Call Saul é mais imprevisível que ele. Ora, a primeira vez que o vemos no episódio, ele sai de dentro de um bueiro de esgoto! Depois vai tomar banho e volta pro esgoto – imprevisível de fato… Porém, ele também tem um plano, construído meticulosamente. As cenas com Lalo são tensas e o plano-detalhe observando uma barata, despertando no espectador uma associação com Saul, é um momento visual inspiradíssimo.

Lalo e sua imprevisibilidade nos conduzem à cena final do episódio, que não merece ser estragada pois cada espectador precisa sentir o impacto dela por si próprio. Basta dizer que é mais um momento poderoso de Better Call Saul, tão forte quanto alguns de Breaking Bad. Só um enquadramento do rosto de Odenkirk já é suficiente para ampliar em mil vezes o suspense. Como um personagem diz nesta cena, ela é sobre “a vida que escolhemos”, e as consequências de cada escolha.

E o mais impressionante é que não poderia ocorrer de outro modo. Porque tudo foi construído até chegarmos a esse momento. Assim como seus personagens, “Better Call Saul” é um golpe, ora engraçado, ora trágico e muito bem construído, durante um longo tempo.

Agora, a série dá uma pausa e a segunda parte dessa última temporada retorna em 12 de julho. Nossa cobertura voltará então. Será uma longa espera…