Assim como muitos personagens nas histórias de J. R. R. Tolkien, a série Os Anéis de Poder parece ela própria estar numa encruzilhada. Há muito o que se admirar neste quinto episódio, intitulado “Partidas”, mas também sofre com uma quebra de ritmo para a temporada, e deixa as engrenagens de algumas das narrativas apenas girando, sem parar. Para usar um português claro, é o caso da boa e velha encheção de linguiça.

Ora, no front dos Pés-Peludos, acompanhamos a migração do povo, enquanto Nori se aproxima mais do Estranho. Aparecem, então, uns lobos selvagens – com uma computação gráfica meio decepcionante e falsa para os padrões de Os Anéis de Poder até aqui, é preciso dizer – e o Estranho os salva. Apesar do bom início e da bela canção dos Pés-Peludos que abre o episódio, é uma trama que parece estar em banho-maria dentro do seriado.

Em Númenor, mais embromação: Pharazón faz jus às ambições do reino dos homens e se mostra pronto para ver a guerra como uma oportunidade. Mas a partir daí, fazer com que seu filho queira incendiar os navios quase de partida para a Terra-média, parece um salto bem grande para os roteiristas – ficou faltando alguma cena? Do jeito que foi mostrado no episódio, parece tudo forçado para colocar Isildur de volta à tripulação e no caminho da aventura. E só no fim do episódio, os navios partem – enfim!

Pelo menos os roteiristas e o diretor Wayne Che Yip gastam aqui um tempo válido para tornar Galadriel ainda mais interessante, ao mostrá-la manipulando Halbrand para atingir seus objetivos e se mostrando fera com a espada.

PESO DAS OBRIGAÇÕES DAS TRAMAS

Já nas terras do sul, tudo se encaminha para uma batalha. Até aí, tudo bem, mas fazer com que Arondil e Theo decifrem o mistério do punho orc ao praticamente topar com a solução ao lado deles parece uma conveniência de roteiro sem vergonha. Novamente, a série coloca quase lado a lado uma cena ruim a uma cena boa, quando nessa mesma subtrama vemos alguns traços da personalidade de Adar, que até agora não se mostra um vilão malvado e unidimensional. Sua interação com o orc no início é interessante, e quando um aldeão o confunde com Sauron, Adar se mostra visivelmente enfurecido, o que também adiciona camadas ao personagem.

E em Khazad-dum, temos o momento mais interessante do episódio do ponto de vista visual: o flashback que mostra a luta élfica contra um Balrog pela posse de uma Silmaril, uma das joias sagradas do universo tolkeniano que é revelada como a fonte do mithril que os elfos tanto querem dos anões. Claro que elementos de “O Silmarillion” entrariam no seriado, isso era questão de tempo, mas essa revelação tem impacto e poder. A cena é praticamente uma ilustração de Alan Lee, o artista que ilustrou passagens dos livros de Tolkien, ganhando vida na tela.

Essa revelação também serve a um propósito dramático, pois ela coloca Elrond em conflito, dividido entre a amizade com Durin e o dever para com o seu povo. Afinal, os elfos vão querer a mithril, como o rei Gil-Galad deixa claro. Será que veremos influência dos elfos na queda dos anões no futuro da série? É para onde as coisas parecem se encaminhar.

No fim das contas, depois do início forte da temporada, esses episódios do miolo de Os Anéis de Poder parecem sentir o peso das suas obrigações de construção de tramas e de universo. Conveniências e uma condução meio aos trancos e barrancos começam a aparecer. Felizmente, ainda continuam aparecendo momentos e ideias para manter o interesse. Mas seria bom algumas dessas tramas começarem a chegar logo a algum lugar. E que, por favor, a vindoura investida de Adar e dos orcs contra os homens do sul não seja uma espécie de Abismo de Helm light. Seria bom a série buscar um pouco do seu próprio estilo, sua própria narrativa, sem precisar pegar coisas emprestadas da trilogia de Peter Jackson.

Enfim, um episódio ok, com momentos esquisitos e outros ótimos que acabam se equilibrando. Um momento de definição parece ter chegado para a série. Vamos ver para onde tanta andança leva no próximo episódio.