Após os dramáticos eventos do inesquecível capítulo anterior, “Honeymoon States” devolve ao humor o domínio da última temporada de “Succession”, como já havia sido demonstrado nos dois episódios que abriram o ano da prestigiada série de Lance Armstrong. Nem mal Logan Roy (Brian Cox) passara desta para uma pior, voltamos aos jogos pelo poder com as intrigas e pernadas de sempre, mas, aqui, amplificados com leves doses de constrangimento, falta de noção, medo e vingança.  

No melhor estilo ‘Rei Morto, Rei Posto’, o episódio se passa no dia seguinte à morte de Logan e já mostra a luta pelo poder da WayStar em um momento decisivo da possível venda dela. Os filhos do magnata estão de um lado e a turma administrativa e jurídica – Karl (David Rasche), Gerri (J. Smith-Cameron), Frank (Peter Friedman) – do outro. Sem o corpo do defunto esfriar, as duas partes travam uma briga entre elas e si mesma para ganhar o poder. Desta forma, a sala e a cozinha da casa do empresário se tornam trincheiras onde cada pelotão prepara estratégias para ganhar território. 

Das figuras satélites de “Succession”, destaca-se Karl: discreto ao longo de toda a série, ele encontra o momento de maior projeção em “Honeymoon States”. O chefe financeiro da empresa sabe que não possua nada de desabonador como os demais para assumir o cargo e faz de tudo um pouco para tirar os adversários do caminho. Lembrando a crueldade do finado magnata, o executivo humilha Tom (Matthew Macfadyen) ao colocá-lo no seu triste e verdadeiro lugar.  

Falando do ex-genro de Logan, o coitado é o famoso ‘Dead Man Walking’ vagando de um lado para o outro, se escorando em qualquer um para saber se terá sustentação, mas, encontrando apenas o vazio após ter perdido a única pessoa que (teoricamente) o apoiava. Sorte a nossa “Succession” ter um sujeito como Macfadyen para transformar o patético em doce ironia e o desespero sem autopiedade, descambando para a deliciosa conversa com Greg (Nicholas Braun, bichinho achou que poderia ser CEO, gente) na pregação do Silas Malafaia novaiorquino. 

FIM DA UNIÃO? 

O início de “Honeymoon States” traz o trio de irmãos sozinhos em diferentes momentos: Kendall (Jeremy Strong) desolado, Roman (Kieran Culkin) de boa fazendo a barba e Shiv (Sarah Snook) abalada com o olhar para o vazio. Cada um a seu modo encarando o luto e as incertezas dos próximos passos, especialmente, Shiv que, não bastasse o caos da morte do pai, recebe a notícia de que está grávida – será de Tom? 

Até a metade do episódio, o trio está unido como nunca estivera antes – em outros tempos após a ligação não atendida de Lukas Matsson (Alexander Skarsgård), um deles já teria mandado um zap por baixo dos panos para articular um novo golpe ou estratégia. Agora, se você esperava que isso duraria muito tempo, me perdoe, mas, você não conhece “Succession”: o surgimento de uma carta supostamente escrita por Logan encontrada no cofre pessoal dele faz tudo voltar a ser como antes. 

Quando, onde e em quais circunstâncias aquele documento foi escrito pouco importa nem a razão de ter sido conservado; o que realmente interessa é que ele existe e traz Kendall como o escolhido para ser o sucessor. Porém, nada com Logan seria fácil e não é a morte que mudaria isso o nome do filho traçado, gerando a dúvida se é um risco ou um sublinhado. É Lance Armstrong jogando no terreno machadiano de “Dom Casmurro” dos mistérios de uma vida que irão nos perseguir e maltratar sem que a resposta seja concreta. 

Logan realmente amava Kendall como garante Frank em certo momento? O magnata viu no filho a pessoa mais preparada para assumir seu lugar? Ou tudo não se passava de um grande esquecimento de um documento feito há muito tempo e que deveria ter sido jogado fora? Sublinhado ou riscado? A decisão final sobre revelar certos podres do patriarca dos Roys como forma de mostrar que a passagem de bastão na WayStar não é tão traumática e a chantagem a Hugo (Fisher Stevens, ótimo) mostram como estas dúvidas impedem o filho de seguir o próprio caminho, sendo assombrado pelo fantasma do pai.  

Para completar, Shiv: ela que sempre procurou ser levada à sério e, entre todos os irmãos, foi quem teve a postura mais profissional ao longo de todas as temporadas, nota, mais uma vez, ter sido deixada de lado. “Falta experiência”, diz Kendall sobre ela, como se a ele não faltassem problemas maiores. Porém, o que esperar da WayStar? Seria otimismo demais a empresa conhecida por seus casos de assédios nos cruzeiros, misoginia escancarada e um grupo principal dominado por homens abrir espaço para uma CEO feminina. E demonstrado a partir de (mais uma) grande atuação de Sarah Snook, Shiv tem a plena consciência de que a escolha dos irmãos para liderar a empresa não termina ali; foi uma grande batalha (talvez, a guerra?) perdida. 

No meio de tantas e tantas coisas, “Honeymoon States” ainda reserva pequenas pérolas como a entrada de Sandy (Larry Pine) na cadeira de rodas deixando a dúvida se estava rindo ou não da desgraça dos Roys, a treta entre Kerry (Zoe Winters, excelente) e Marcia (Hiam Abass), as “resenhas” da morte de Logan, Connor comprando a mansão e tantos outros momentos. Pode até não ter o nível de brilhantismo do domingo passado, mas, mantém “Succession” em estado de glória nesta reta final.