O nome oficial da rua é Bartolomeu Bueno, homenagem ao bandeirante Anhanguera. Os moradores, no entanto, chamam-na de Rua da Cambaúba, planta similar ao bambu que era usada pelos indígenas para fabricação de flechas. Já “Cambaúba”, o filme, encarna justamente o embate entre esses dois Brasis. 

No centro dele, a diretora Cris Ventura, que se coloca como personagem de seu filme. Moradora da rua, ela dá cabo de uma pesquisa sobre a história do lugar. Seu objetivo: escrever um roteiro a partir de seus achados. “Cambaúba”, o filme, é antes a preparação de um filme – ou, se preferirmos, a busca por imagens que deem conta daquele lugar. 

Inicia-se, então, uma série de conversas que se aproximam, por um lado, da entrevista documental, ao mesmo tempo em que a decupagem reforça, por outro, o jogo narrativo e ficcional. 

A encenação das conversas entre os moradores a partir do campo e contracampo, por exemplo, reforça essa tensão. Mais revelador é o momento em que Ventura, com uma peixeira na mão, investiga os estranhos barulhos que assombram a rua – a câmera a encara por detrás de um arbusto, escondida como um monstro tramando seu bote. 

Essa aproximação com o terror se dá pelo fato de que a rua, como nos dizem os moradores, é assombrada pelo fantasma do bandeirante. Nestas cenas, a gente pensa logo em “O Som Ao Redor”, com essa investigação de um espaço e do passado que o assombra – e que se torna carne imagética com o cinema. 

Tudo culmina numa sequência eletrizante em que o bandeirante penado e as entidades indígenas e africanas batalham ao longo da vizinhança. A coisa tem direito até a névoa de filme de terror e tudo. Coisa de cinema. 

No fim das contas, Cambaúba, o filme e a rua, é a encruzilhada onde os caboclos e os santos dançam.