Em seu novo longa, Christophe Honoré reimagina “Um Conto de Natal” como uma comédia sexual francesa. “On a Magical Night”, exibido no Festival de Londres, tem em seu centro uma Chiara Mastroianni vulnerável e imperdível em uma performance premiada na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, onde estreou.
Diferentemente do protagonista da obra de Charles Dickens, a avareza da professora universitária Maria (Mastroianni) não é financeira, mas sentimental: durante os anos de seu casamento com Vincent (Benjamin Biolay), ela se tornou fechada e reservada, tendo infinitos casos extraconjugais com homens mais novos para estancar uma necessidade afetiva que ela não conseguia mais repassar ao marido.
Após uma dessas escapulidas, Vincent acha mensagens comprometedoras em seu celular e a confronta, o que a faz sair de casa e passar a noite em um hotel do outro lado da rua. Lá, ela é visitada por uma versão de 20 e poucos anos de Richard (Vincent Lacoste), bem como por todos os seus ex-affairs extraconjugais – e é forçada a encarar seu passado de frente.
Uma visitante em particular chega com uma proposta indecente: Irène (Camille Cottin), a amante que Richard largou na juventude para se casar com Maria, aparece pedindo permissão para reconquistar seu antigo amor. Ela, encantada em encontrar a versão de Richard pela qual se apaixonou décadas antes, permite que Irène tente a sorte com a versão mais velha do marido.
‘O amor é sempre um lugar compartilhado’
O desencadear da trama, também escrita por Honoré, é uma grande discussão marital recheada de elementos fantásticos. Vincent é o homem que, diante de uma decepção conjugal e o retorno de seu antigo amor, se pergunta se tomou a decisão certa. Maria, por sua vez, é um ser muito mais multifacetado.
Ela acredita no amor, mas mente para si mesma sobre a sua natureza (quem nunca?). Maria não mostra um pingo de remorso por conta de suas puladas de cerca e sempre encontra justificativa para seu comportamento. Durante a briga com Richard, a protagonista chega a afirmar que traições são a maneira como casamentos longevos sobrevivem.
Ao romantizar o passado, ela se prende à versão de Richard que ficou para trás e, por conta disso, sempre procura homens novos para ter de novo a paixão de outrora. Seu marido, no entanto, chega ao cerne dessa questão ao concluir, por volta dos 50 minutos de filme: “o amor é sempre um lugar compartilhado, um passado”.
No final das contas, “On a Magical Night” é uma fábula sobre se reconciliar com o passado que confia na audiência o suficiente para fazer perguntas pertinentes sobre o amor. Com um design de produção impecável (cortesia de Stéphane Taillasson) e charme de sobra, o filme rende uma excelente sessão a dois – ainda que com um leve risco de DR.