Rio de Janeiro, três séculos no futuro. O apocalipse veio. Algumas pessoas, os poderosos, se esconderam em cavernas nas montanhas. Agora, dois deles, munidos de primitivos equipamentos de filmagens, decidem explorar as ruínas do mundo civilizado. 

Em exibições de filmes como “Xamã Punk”, eu sempre volto minha atenção ao público ao meu redor. O grande momento da noite foi quando um cachorro invadiu a Cine-Tenda, onde os filmes são exibidos, e roubou o sapato de uma mulher. A coitada correu pela sala escura gritando “Solta! Solta!” enquanto a plateia se acabava de rir. O mesmo cachorro tentou roubar um guarda-chuva minutos depois, desta vez sem sucesso. 

O filme seguia sendo projetado. Pude notar um número impressionante de pessoas mexendo no celular a essa altura. “Xamã Punk”, a programação oficial nos diz, é rotulado como “experimental”. Eis aí um rótulo cansativo quando aplicado a filmes que, enquanto experimentos, não nos oferecem muito. 

E, se não oferecem muito, é porque não criam nenhuma imagem que nos mostre novas possibilidades, que nos transforme (“A Filha do Caos”, exibido no último Festival do Rio, vem à mente como outro exemplo). Em “Xamã Punk”, não há nada em suas ruminações imagéticas cheias de mato e luz que seja digno de nosso interesse (“ruminações imagéticas cheias de mato e luz” faz o filme soar mais interessante do que é, percebo agora). 

“Xamã Punk”, segundo o diretor contou à plateia antes da exibição, foi rodado com apenas R$16.000,00. A gente consegue até imaginar os realizadores bolando as cenas em um quarto e partindo animadamente para os matagais da cidade aos fins de semana, com a câmera em riste e a vontade de filmar. Oxalá o filme passasse um terço dessa vivacidade.