É de lei: toda vez que um jogo é adaptado para o cinema existe uma resistência enorme do público. Não que os gamers não queiram ver seus jogos favoritos em outros meios, mas o histórico problemático dessas adaptações desanima tanto os fãs de videogames quanto os amantes da sétima arte. Desafiando esta lógica, “Detetive Pikachu” pode ser considerado uma das poucas adaptações de jogos no cinema que não é totalmente descartável. Mesmo sendo apoiado em uma história monótona e atuações medianas, o longa definitivamente apresenta esforços consideráveis para agradar seu público.

Baseado no game homônimo de 2016, “Detetive Pikachu” apresenta um mundo no qual os Pokemóns vivem em parceria com os humanos, principalmente, em Ryme City, onde a realização de batalhas dos bichinhos são proibidas. É neste cenário que Tim Goodman (Justice Smith) se junta a Pikachu (voz de Ryan Reynolds) para investigar o desaparecimento de seu pai, com o qual mantinha uma relação distante e problemática.

Mesmo se apoiando primordialmente na trama familiar, o roteiro não consegue convencer seu público em relação as motivações de Tim. Todas suas experiências familiares são apoiadas em flashbacks e cenas em que o rosto de seu pai sequer aparece em detrimento do plot twist sobre a identidade do mesmo. Assim, acompanhamos o protagonista em uma trajetória despida de emoção, a qual precisa se apoiar em diversas subtramas para criar um conteúdo mais convincente.

Para isto acontecer, Tim e Pikachu se envolvem em uma problemática sobre a convivência do ser humano com outras espécies e a realização de experimentos científicos em Pokemóns. Quando consideramos o grande apelo para o público infantil presente no filme se torna totalmente válida a inserção destas situações, apesar de também serem exploradas de forma superficial. O principal exemplo disto é o clichê de que experimentos científicos são realizados de forma cruel e que a libertação dos objetos de estudo não apresenta nenhum risco para eles próprios.

Assim, novamente, a história se enche de firulas para não admitir sua falta de conteúdo. Os diálogos apresentam outro problema no roteiro: são mal escritos e não contribuem para além do que é visto em cena. Com essa combinação, é apresentado um filme o qual se esforça para não deixar transparecer suas deficiências, mas abertamente constrói um desfecho previsível.

Visual como salvação

Com um roteiro fraco, a produção busca apurar mais seu lado visual. Neste sentido, a concepção dos Pokemóns é realmente bem-feita: não apenas os efeitos são executados com sutileza, como o próprio design das criaturas é adaptado para a ação que elas devem desempenhar.

A direção de fotografia de John Mathieson também se destaca. Em seus primeiros minutos, o longa mostra referências ao estilo noir, com o jogo de sombras e luzes, quando apresenta Ryme City, realçando a expressão dos personagens juntamente do exagerado neon.

Infelizmente, após estas primeiras impressões, o longa abandona esta abordagem mais sugestiva. O primeiro momento para esta quebra é uma cena de ação mal desenvolvida, o que se torna uma constante em “Detetive Pikachu”. Estas sequências as quais exigem maior dinâmica e interação do elenco com seu cenário e personagens de CGI são mal executadas, nada convincentes.

Isso piora com as atuações medianas de todo o elenco. Justice Smith e Kathryn Newton, por exemplo, não apresentam carisma, tornando um esforço significativo acompanhá-los. Grandes atores como Bill Nighy e Ken Watanabe aparecem em papeis superficiais, restando apenas a Ryan Reynolds salvar o time com um ótimo trabalho de dublagem com o Pikachu.

Fan Service para todas as idades

Sabe o famoso fan service? Que nem sempre adiciona muita coisa para a história, mas geralmente é bem visto pelo público? Então, “Detetive Pikachu” faz questão de entregar para seus fãs. Claro, os efeitos visuais contam muito para que o espectador tenha uma boa nostalgia e referências dos Pokemóns, seja dos jogos ou das séries de animação.

Para potencializar mais ainda este feito, o longa faz questão de mostrar Pokemóns de diferentes gerações. Mesmo no canto da tela, vemos as figuras que marcaram épocas diferentes da série. Assim, um filme claramente dirigido ao público infantil não deixa de tentar dialogar com seus espectadores mais velhos.

Em um cenário onde as adaptações de jogos não conseguem captar a essência do material original, “Detetive Pikachu” mostra um caminho para ser estudado e, até mesmo, seguido (com melhorias, por favor). Apesar de não ser nenhuma grande obra do cinema, o longa possui esforços significativos para não apresentar uma trama totalmente vazia e desinteressante, o que o torna, ao menos, digno de uma crítica como esta.