Uma road trip no fim do mundo com um cachorro e dois robôs para conversar – é isso que Tom Hanks dispõe para emocionar o público em ‘Finch’. Sabendo que o ator consegue entregar um bom desempenho mesmo ao lado de objetos inanimados, como ocorreu em ‘Náufrago’, o diretor Miguel Sapochnik (“Game of Thrones”) mantém a narrativa focada no protagonista com uma história simples, fácil de ser entendida e, ao mesmo tempo, eficiente ao emocionar com as histórias agridoces contadas pelo protagonista.

“Finch” acompanha o personagem-título (Tom Hanks) um sobrevivente na Terra pós-apocalíptica devido a várias tragédias ambientais. Para garantir que seu cachorro Goodyear sobreviva sem ele, Finch cria o robô Jeff (Caleb Landry Jones) e lhe passa importantes informações e valores humanos.

Sem nenhuma concorrência, Tom Hanks entrega uma ótima performance conforme cada cena exige. Ele também desenvolve um personagem complexo mesmo sem tantas oportunidades, pois, apesar da sua situação fragilizada e missão de salvar seu cão, ele ainda é um sobrevivente doente e cansado de tudo o que presenciou até ali.

Em parceria com o ator, reinam os efeitos visuais muito bem executados e verossímeis para a realidade proposta. “Finch” foi um filme pensado para ser exibido nos cinemas, por isso acredito que as cenas de maior dimensão dos problemas ambientais e com efeitos mais imersivos realmente devem ser melhor apreciadas na telona. Apesar disto, o visual do longa é uma parte essencial na imersão dessa história, mérito de Sapochnik como o diretor dos episódios grandiosos de “GOT”, algo que transparece nesse aspecto também no filme.

UM POUCO MAIS DE SCI-FI IA BEM

Mesmo existindo um robô muito bem construído visualmente, é perceptível que, em diversos momentos, o roteiro perde a oportunidade de se aprofundar mais no sci-fi, em mostrar mais sobre essa distopia. Uma grande falha é não mostrar outros seres humanos, como vivem, as alternativas de sobrevivência… Enfim, é aquela coisa: você não vai encher o filme de personagens para no final não os explorar bem, mas vez ou outra pode matar a curiosidade do público aproveitando algumas cenas de conflito como o carro que persegue Finch, podendo ir além e mostrar o rosto de outros habitantes, as condições daquele mundo.

Considerando a filmografia do Tom Hanks, provavelmente ‘Finch’ não entra no top 3 de filmes mais marcantes de sua carreira devido à simplicidade de sua proposta. No geral, não existem muitos momentos grandiosos na trama, mas, é possível separar algumas cenas mais valorosas e marcantes, que provavelmente serão o motivo para o público se lembrar do filme futuramente – entre elas, é inevitável citar a emocionante cena em que Finch ensina Jeff a jogar a bola para Goodyear.

Um momento simples, cotidiano, se não fosse um mundo pós-apocalíptico – é esse contraste entre os pequenos prazeres da vida e o peso de existir em condições tão inóspitas que gera os maiores diálogos e eterniza de fato “Finch”. 

PERPETUAÇÃO DOS VALORES HUMANOS

Logo nos primeiros minutos, imaginei “Finch” como uma jornada totalmente triste e arrastada, aquele tipo de história pesada e árdua de acompanhar. Mas, na realidade, existe uma leveza muito grande em como a trama é desenvolvida. O robô Jeff e as pequenas descobertas sobre o mundo trazem pitadas de humor, o que funciona muito bem quando ele adquire experiências humanas positivas, porém, se depara também com vivências mais tristes e pesadas, dando densidade à história.

Devido a essa dualidade na visão de Jeff, a produção com quase duas horas não parece ser tão longa, variando como uma dramédia no fim do mundo. Os conflitos são previsíveis e até repetitivos, mas não atrasam o desenvolvimento do filme e dão a seus personagens as oportunidades de crescerem na tela, de se desenvolverem melhor. Existe primeiramente a normalidade de Finch que é apresentada de forma ágil, depois, os conflitos climáticos os quais são sempre convenientes demais para a narrativa avançar, mas, devido ao pouco conhecimento do personagem e do público como o mundo funciona, eles são desculpáveis.

Já nos conflitos entre Jeff e Finch é onde a trama realmente ganha valor já que é extremamente difícil para o protagonista aceitar o comportamento banal numa situação urgente como a sua. É basicamente uma dualidade entre as novas experiências de Jeff e o adeus a um mundo tão cruel por parte de Finch. Assim, o protagonista narra pequenas histórias ao robô como forma de perdurar valores humanos, tanto os aspectos ruins e inesperados, quanto a bondade e relacionamentos pessoais, passando a frente o que existe de melhor e pior no ser humano, da mesma forma que a vida real é.