Não sou um dos mais entusiastas da direção de Catherine Hardwicke. A diretora iniciou a história no mundo dominado por homens com os dois pés direitos, no drama quase documental “Aos Treze” (2003), um dos primeiros clássicos cult do século protagonizado por Evan Rachel Wood, Holly Hunter e Nikki Reed – esta última, uma das roteiristas, já que o filme é livremente inspirando em sua adolescência.

Depois veio outro bom filme, “Os Reis de Dogtown” (2005), um dos primeiros filmes de um dos atores sensação dos anos 2000, Emile Hirsch (por sinal, por onde anda?) e ainda tinha Heath Ledger e Reed. Depois disso, ela viu a popularidade crescer com “Crepúsculo” (2008) – o primeiro filme da saga e logo depois veio com “A Garota da Capa Vermelha” (2011). E alguns outros de pouca expressão.

Esta breve introdução é tão somente para dizer que seu novo filme, “Mafia Mamma: De Repente Criminosa” é uma baboseira deliciosa imperdível. Vamos por partes.

EMPODERAMENTO FEMININO NA MÁFIA

Kristin (Toni Collette) é uma mulher de meia idade, classe média que sofre três grandes perdas em um único dia: o filho único está saindo de casa para faculdade, o marido em juventude tardia é flagrado com uma mulher mais nova e o avô na Itália morre. Pelo menos, ela recebe uma ligação da Itália de Bianca (Monica Bellucci), informando que é uma herdeira. Mas herdeira de quê? Bom, é isso que ela resolve descobrir. Logo de cara ela esbarra no IRRESISTÍVEL Lorenzo (Giulio Corso) e sua ideia de comer, rezar e f*der (alusão ao livro “Comer, Rezar, Amar”, de Elizabeth Gilbert) parece promissor.

Mas nem tudo que parece é, não é mesmo?

Kristin descobre que herdou não apenas a vinícola da família como agora é a chefona da máfia mais temida da região. Para piorar, há disputa de territórios, uma guerra declarada! Espere de “Mafia Mamma” muitas trapalhadas, tiroteios, mortes e um banho de sangue ao melhor estilo filmes de trash de terror, mas aqui, envernizado com muita classe e diversão.

Para além do centro principal do filme, há a grande construção do enredo: o empoderamento feminino. Vejam bem, quando pensamos em filmes de máfia o que vem na cabeça senão “O Poderoso Chefão” (supracitado no filme) e alguns clássicos de Martin Scorsese? E mais, sempre representados e protagonizados por homens e, claro, italianos.

A grande sacada de “Mafia Mamma” está na desconstrução desses estereótipos enraizados pelo cinema de homens no poder e mulheres fragilizadas que lhe servem de apoio. Bem, Kristin é uma mulher fragilizada, um tanto neurótica e atrapalhada que descobre o poder em si somente depois que detém o poder em suas mãos e domínios patriarcais. Ela agora é “the boss!”.

DOBRADINHA BELUCCI E COLLETTE

Hardwicke nos entrega dramédia, comédia e ação na mesma proporção sem cair no marasmo e, principalmente, zoando desses filmes/gêneros demasiadamente masculinizados. A cena inicial dá o tom do que será a película de pouco mais de 100 minutos, com corpos estirados no chão e Bianca rancorosamente dizendo “isso significa guerra” e cuspindo logo em seguida. A sequência do velório e a explosão não deixam filmes de ação que se levam a serio demais em nada. E os corpos mutilados? Temos!

E o que dizer de Monica Bellucci? Essa mulher é um acontecimento e a tensão sexual entre sua personagem e da Collette deixa um gosto de quero mais.

Falando em Toni Collette, a atriz sabe como poucas interpretar mulheres à beira de um colapso. E para quem estranha sua imersão na comédia, sabiam, o seu primeiro grande filme foi em uma comédia romântica que já é um clássico: “O Casamento de Muriel” (1994), além de outros trabalhos em sua extensa carreira, o humor não é uma novidade para a australiana.

Como já dito, “Mafia Mamma: De Repente Criminosa” é um divertido ode ao poder feminino em um mundo dominado pelos homens. E, como sátira arranca boas risadas.