Dentre tantas situações inesperadas da pandemia da Covid, com certeza, a quarentena forçada foi uma grande bomba-relógio para conflitos conjugais e familiares. Agora, se conviver ininterruptamente com quem se ama já é desafiador, imagine passar semanas, meses dentro de uma casa com um ex-afeto. Esse é o drama de Linda (Anne Hathaway) e Paxton (Chiwetel Ejiofor) na dramédia ‘Locked Down’, um casal que já possuía uma relação saturada e ficou preso um ao outro durante o decreto de isolamento social. Essa história, apesar de tão palpável, nos lembra de uma triste verdade: ainda não estamos prontos para achar graça de qualquer coisa sobre a pandemia – principalmente no Brasil. 

Apesar de ser naturalmente melancólico, o filme dirigido por Doug Liman (“Sr. & Sra. Smith” e “No Limite do Amanhã”) possui uma forte tendência ao humor, tentando deixar sua história bem menos dramática. Graças à dupla Hathaway e Ejiofor, o lado cômico consegue se sobressair facilmente, porém, sempre soa como um humor equivocado porque a mudança de texto do drama para a comédia não é nada sutil, fragmentando a trama diversas vezes.   

Mesmo com essa falha no ritmo presente desde o início, a história em si apresenta facilmente o cotidiano do “novo normal”: as constantes chamadas de vídeo, idas ao mercado e até mesmo demissões em empresas. 

Onde tudo desanda? 

Com a trama basicamente voltada aos protagonistas, ‘Locked Down’ demora bastante até revelar completamente como o casal chegou até o esgotamento da relação. Paxton e Linda são desenvolvidos separadamente e é perceptível a diferença entre ambos, porém, sem personagens secundários, é esperado mais cenas do casal juntos, o que não ocorre. 

Com um início desanimador, ‘Locked Down’ se perde de vez quando decide unir o casal em um assalto improvável. Desde como o plano começa a ser arquitetado até a própria execução é uma bagunça desnecessária.  

O filme poderia até ser mediano caso focasse nos conflitos pessoais dos personagens e no próprio cenário escolhido, porém, existe uma necessidade infundada de criar um plot twist, uma ação maior para ambos interagirem. Na realidade chega até a ser irônico ver que o maior momento de diálogo e romance entre os dois é visto fora da casa onde eles estavam confinados. 

No meio de tudo isto, o propósito de falar sobre a pandemia se perde, as vivências do isolamento social são deixadas de lado e ‘Locked Down’ acaba se tornando mais uma produção digna de cair no esquecimento. Ainda existem momentos bons como a leitura de poesia escrita por Paxton, as atuações de Chiwetel e Hathaway e até mesmo a cena pós-crédito, mas nada que consiga fazer a produção ser lembrada.