Era uma vez, em 1993, a história de dois irmãos ítalo-americanos, moradores do Brooklyn que trabalhavam como encanadores e se viam em um mundo mágico repleto de cogumelos, canos, uma princesa e um vilão na forma de uma tartaruga vitaminada. Quase sempre bêbados nos bastidores, Bob Hoskins e John Leguizamo deram vida a Mario e Luigi, enquanto Dennis Hopper era Koopa (humano mesmo) netsa que foi a primeira adaptação de um game para o cinema, dirigida pelo casal Rocky Morton e Annabel Jankel. E foi um fracassso. 

Passados 30 anos e o êxito de adaptações como The Last of Us, chega a hora de uma nova tentativa para o mascote da Nintendo, a mais mítica empresa produtora de games no mundo. E desta vez, com o devido envolvimento na produção executiva de Shigeru Miyamoto, o gênio que criou Mario, Donkey Kong e “The Legend of Zelda”, “Super Mario Bros. – O Filme” promete ser um dos grandes lançamentos do ano. 

Surgida das cinzas do Blue Sky Studio (responsável por “A Era do Gelo” e “Rio”), a Illumination, conhecida pela saga Meu Malvado Favorito, foi a escolhida para transpor o universo dos consoles para uma animação que é, de fato, um desbunde. A estrutura básica é uma jornada do herói com Mario e Luigi saindo dos esgotos do Brooklyn para o Reino dos Cogumelos e se envolvendo em confusões ao ficar no meio da guerra entre Bowser e a princesa Peach. 

PARA AGRADAR AOS FÃS 

A versão dublada, que foi a que essa crítica assistiu a convite da Universal, deixa um pouco a desejar em comparação ao original e o elenco de estrelas que dubla os principais personagens – do malfadado Chris Pratt como Mario, passando por Anya Taylor-Joy como a princesa Peach a Jack Black fazendo Bowser.  

Ainda assim, a diversão está assegurada pela beleza da animação que permitiu sacadas geniais como a ideia da jogabilidade fluida nos enquadramentos e planos que mostram Mario pulando pelos canos e batendo nos tijolos do reino dos Cogumelos ou mesmo a colaboração entre Koji Kondo e Brian Tyler na trilha sonora.  

Os detalhes desde o design dos personagens até os cenários são incríveis, com direito a muitos easter eggs saborosos com pistas de outros títulos da Nintendo – Kirby e Megaman entre eles. E claro, a construção de personagens como a Princesa Peach está em diálogo com a contemporaneidade, quando ela deixa de ser a Donzela em Perigo e passa a ser uma heroína, enquanto Bowser é representado como uma vilanesca tartaruga apaixonada.  

Outro acerto é manter boa parte da trama no universo fantástico, explorando as possibilidades e os poderes que Mario (e também Peach!) adquirem ao comer cogumelos, tocar na flor de fogo, na estrela ou pegar o rabo da raposinha) para só retornar a Nova York no desfecho.  

CAMINHO ABERTO PARA NOVAS ADAPTAÇÕES 

O resultado é bom, ainda que careça da profundidade e da genialidade do storytelling de outros estúdios de animação, com uma história trivial, mas que funciona como um filme para toda a família. Porque na verdade verdadeira, “Super Mario Bros” deve comunicar bem com um público infantil mesmo, entre a infância e a pré-adolescência.  

Mas para qualquer criança ou adolescente que cresceu jogando “Super Mario World”, “Donkey Kong Country” e especialmente “Mario Kart” é fascinante ver os mundos e “fases” dos jogos na tela do cinema – a cena em que Mario, Peach, Toad e Donkey Kong fogem de Bowser e sua tropa de koopas na Rainbow Road é eletrizante! Dá um gostinho de quero mais ainda mais considerando que, no ano passado, foi criada oficialmente a Nintendo Pictures a partir da aquisição do Estudio de CGI Dynamo Pictures.  

Se “Super Mario Bros. – O Filme” for o êxito esperado deve iniciar uma nova fase cinematográfica capitaneada por Nintendo e Illumination, quem sabe tendo Link e Zelda como os próximos protagonistas de uma franquia nos cinemas.