Em 2019, o cineasta espanhol Rodrigo Sorogoyen realizou um curta de ficção que rodou o mundo, inclusive sendo indicado ao Oscar da categoria em 2019. A receita, simples, provocativa, resulta em um drama acentuado – especialmente para mães – em que uma mulher recebe uma ligação do filho pequeno deixado sozinho pelo pai na praia. Ela está na Espanha. Ele está na França, na fronteira litorânea entre os países. O pai não é encontrado e a criança está assustada. O celular descarregando. O drama se acentua a tal ponto que se transforma em uma experiência aterradora com um desfecho impactante. 

O que aconteceu com o menino Ivan, uma década após o desaparecimento? 

Dois anos depois, Sorogoyen expande a narrativa em “Madre”, mesmo nome do curta, com Marta Nieto – melhor atriz na mostra Horizontes do Festival de Veneza – novamente no papel da mãe em busca de respostas e de um motivo pra seguir vivendo. O filme chega à plataforma Reserva Imovision, sendo uma opção cinematográfica muito instigante e de tensão dramática constante. A tensão, inclusive, se desenha nos não-ditos, a partir da relação que se desenrola entre a mãe, Elena, e o adolescente que lembra seu filho desaparecido, Jean (Jules Porier). 

MARTA NIETO EXCELENTE

“Madre” se detém na psicologia de Elena, sua vida – ela está há dez anos naquela cidade praiana, trabalhando em um bar -, que é quase uma não-vida, em constante compasso de espera. Magra, abatida e calada, ela vive às turras com o namorado, que quer tirá-la do casulo. Mas algo se acende no seu rosto quando encontra Jean um dia na praia. Entre o desejo e o afeto, ela constrói um vínculo com ele, um adolescente pronto para se rebelar.  

Sempre buscando, Elena vai mergulhando em areias movediças. Leva Jean para passear, bebem juntos, ele a apresenta uma floresta escondida. E a tensão aumenta quando os pais do jovem não entendem o que aquela mulher de 39 anos pode querer sendo amiga do filho. O namorado tenta afastá-la, mas como um imã, Elena sempre vai até Jean. E nesse movimento contínuo, consegue sair do seu luto e aceitar sua dor.  

De uma lógica simples no desenvolvimento, apesar de um trabalho visual de uma beleza dolorosa – as luzes do amanhecer e entardecer na praia, os quadros abertos deixando os personagens mergulhados na imensidão entre a areia e a água – o que mais atrai em “Madre” é a atuação de Marta Nieto. Poderia ir além sim, mas não. Quieta nessa ambição.