O curta roraimense Mãri-Hi: A Árvore do Sonho, do diretor Morzaniel Ɨramari, nos introduz em um aspecto interessante da cultura do povo Yanomami, ao apresentar o conhecimento deles sobre sonhos. No filme, vemos a câmera passeando por dentro da floresta amazônica até enfocar os yanomami, enquanto a voz do xamã Davi Kopenawa nos conta a lenda indígena da Árvore do Sonho.

É uma interpretação bonita e poética do fenômeno onírico e que, de certa forma, se relaciona com o cinema. Na visão yanomami, há uma ligação entre o sonhar e contar histórias: o sonho se apresenta como uma forma de narrativa, de acordo com o conhecimento transmitido a nós pelo xamã, e por conseguinte pelo filme. E contar histórias é, basicamente, a essência do cinema, a razão pela qual a grande maioria dos filmes são feitos.

Por evocar esse paralelo, Mãri-Hi: A Árvore do Sonho já demonstra se tratar de um trabalho especial. E em 2023, neste ano em que o sofrimento do povo Yanomami ganhou a imprensa global e fez o Brasil passar vergonha diante do mundo pela forma como trata seus povos nativos remanescentes, a beleza dessa tradição e desta visão de mundo se tornam ainda mais pungentes.

O resultado, cristalizado no filme, é um curta simples em sua forma, mas que apresenta e valoriza a complexidade e a poesia de suas ideias.