O título em português – “O Pior Vizinho do Mundo” – deve enganar meia dúzia logo de cara, afinal, a expectativa é ver uma comédia de riso solto e não uma produção que trata sobre suicídio. Também acaba por dar certa previsibilidade, pois, fica difícil acreditar que o bom moço Tom Hanks será capaz de segurar a carranca por tanto tempo. Por outro lado, não esconde a sensação de ser aquele tipo de filme com gostinho de déjà vu, capaz de segurar o público, mas, sem a menor chance de ser memorável. 

Baseado no best-seller “A Man Called Ove”, de Fredrik Backman, e no longa homônimo sueco indicado ao Oscar 2017 em Filme Internacional e Maquiagem e Penteado, “O Pior Vizinho do Mundo” acompanha Otto (Tom Hanks), sujeito metódico e rigoroso, mas, completamente amargurado e solitário após a morte da esposa, vítima de câncer. Na visão dele, o suicídio acaba sendo a melhor saída, porém, a chegada de uma família de origem mexicana à vizinhança muda o rumo da vida. 

TEMOR NO HUMOR… 

Se temas delicados da sociedade como racismo, homofobia ou xenofobia são constantemente retratados na cultura pop, o suicídio está no meio de uma penumbra. O dilema de abordar sem publicizar ou evitar o assunto para não dar ideias e despertar gatilhos são um campo minado para quem se arrisca no tema – basta lembrar a polêmica e (justas) críticas encaradas por “13 Reasons Why”

O desafio se torna ainda maior para “O Pior Vizinho do Mundo” pela dose mórbida de humor com Otto sendo quase uma espécie de Odorico Paraguassu sem conseguir morrer. Aqui, tanto o roteiro de David Magee e a direção de Marc Forster (ambos parceiros no excelente “Em Busca da Terra do Nunca”) demonstram esta hesitação em abraçar a veia irônica e fracassada do personagem.  

Diante disso, cabe jogar – sem sucesso – a parte cômica para figuras ora estereotipadas como a atrapalhada e falante família de origem mexicana ora sem graça mesmo com o vizinho de exercícios excêntricos – me recuso a falar do momento vergonha alheia de Hanks com o palhaço, sequência atrapalhada pela montagem que quebra toda a dinâmica do momento. 

…ACERTO NO DRAMA 

A produção fica mais confortável mesmo no drama, ainda que não fuja de um certo didatismo sobre a temática – nota-se o cuidado do roteiro em pontuar ações com o intuito de orientar pessoas com dificuldades e que pensam em suicídio como, por exemplo, dividir suas angústias para com o próximo e se aproximar dos amigos. Mesmo com subtramas desnecessárias (todo o lance envolvendo a imobiliária simplesmente não funciona), há Tom Hanks e a capacidade impressionante de nos conduzir através da sua gentileza e talento cativantes.  

Por fim, vale destacar os flashbacks emocionantes aliada a ótima atuação do filho do astro, Truman: impossível não se comover com a razão dele tomar apenas uma sopa em um jantar romântico. “O Pior Vizinho do Mundo” pode passar longe de surpreender e nem chega perto dos melhores longas de Hanks e Forster, mas, consegue prender o público e passa sua mensagem. Nada que você não esqueça assim que comecem os créditos finais.