Confesso que dificilmente consigo ser fisgada pela nostalgia. Dito isto, este elemento pode até ser o grande fator de atração de “Space Jam 2: Um Novo Legado” ao lado dos easter eggs, mas não é o suficiente para segurar a trama. Somos convidados a embarcar com LeBron James numa aventura pelo Warnerverso/HBOverso para formar um time de basquete que salvará seu filho Dom (Cedric Joe) sequestrado por Al-G Rhythm (Don Cheadle).
Dirigido por Malcolm D. Lee (“Todo Mundo em Pânico 5”), o filme surge em um momento oportuno, no qual nossas mentes e emoções estão voltadas para o esporte. As questões relacionadas à metalinguagem dos serviços de streaming ao brincar com a manipulação dos algoritmos também são pontos positivos para trama, mas a sensação que passa é de estar diante de um filme feito para TV no pior sentido: roteiro raso, sem tridimensionalidade e com execução confusa.
A narrativa principal gira em torno de conflitos familiares de aceitação, utilizando como pano de fundo a superação de traumas afetivos infantis. Segundo o roteiro proposto, LeBron precisou abandonar elementos da infância para se tornar um atleta de alto rendimento – a realidade de muitos jovens de classe baixa. Logo, apesar das diferenças socioeconômicas, ele quer imprimir os mesmos valores a seus filhos. Isso, entretanto, prejudica sua relação com o filho do meio, que deseja seguir uma carreira diferente.
Ausência de Carisma
A ideia de focar “Space Jam 2: Um Novo Legado” em Lebron James se mostra um equívoco pelo astro da NBA simplesmente não convencer em cena. Essa decisão também prejudica os Looney Tunes que se mantém apáticos em praticamente toda a projeção. Na verdade, particularmente, “O Show dos Looney Tunes” nunca foi o tipo de desenho que me atraiu, especialmente o personagem Pernalonga, porém reconheço o teor humorístico que a produção carregava.
A continuação, no entanto, traz uma carga pesada a esses personagens frequentes na infância dos millenials. Embora tenham pouco tempo de tela – e alguns só apareçam como lembrança -, há uma áurea de indiferença e conformismo neles. Como se tivessem amadurecido e percebido que o mundo tem mais tons frios e acinzentados do que o colorido da infância.
O roteiro deixa pistas de que isso se deve a escolha de saírem do mundo animado, que pertenciam, em busca de novos ares como “Matrix” e “Liga da Justiça”. Como até mesmo eles, porém, o personagem de James tem dificuldade em aceitar o jeito de ser e interagir, a sensação que se estabelece é a de que nessa nova era falta-lhes carisma.
Em busca de um legado
Para quem gosta de caçar referências, “Space Jam 2: Um Novo Legado” é um prato cheio. Desde citações recentes da cultura pop, como “Game of Thrones” e “Harry Potter”, até clássicos dos anos 90, é possível vislumbrar na viagem de LeBron para montar um time e na quadra onde o espetáculo final se desenha. Contudo, dentro de tantas lembranças, o longa se perde em saber com quem quer dialogar.
Durante suas duas horas de projeção, há uma tentativa frustrada de emular a nostalgia do primeiro filme e capturar o ensejo dos adultos que contemplaram Michael Jordan duelar contra aliens. Ao mesmo tempo, percebe-se o desejo de criar um vínculo com as crianças contemporâneas, que possuem gostos e interesses bem divergentes do que o filme tenta destacar. O que leva a reflexão póstuma: o mote familiar proposto consegue dialogar com a sociedade atual?
A sensação que permanece após assistir “Space Jam 2: Um Novo Legado” é de um filme esquecível, que não consegue encontrar um público certo e nem contar uma narrativa contemporânea independente do fator nostálgico. Quem sabe esse não seja o momento da Warner rever seu modelo de produção, ou simplesmente astros do esporte entenderem o que LeBron afirma em certo momento: “Sabemos que jogadores não deveriam atuar”.