Por anos, a comédia foi um gênero que deixou uma grande marca em Hollywood. Nomes como Charlie Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd definiam aquilo que hoje chamamos de superastros. No entanto, devido a egos, censura ou a velocidade com que se mudava o nome das estrelas, suas carreiras encontravam uma forma de chegar ao fim. Surgiam então novos astros e duplas como Stanley Laurel e Oliver Hardy, o foco central de “Stan & Ollie”.

Dirigido por Jon S. Baird, o filme busca trazer uma espécie de homenagem à dupla, relembrando seus últimos anos e a genialidade de ambos, que nunca paravam de pensar em piadas. A história de “Stan & Ollie” começa apresentando os dois em 1937, no auge de suas carreiras. Filmado em plano-sequência, vemos a dupla conversando sobre o trabalho em um camarim e depois os acompanha pelos corredores do estúdio em direção ao set.

É evidente a fama de ambos pela quantidade de figurantes em cena, desde técnicos a dançarinas e pistoleiros. Após isso, “Stan & Ollie” salta 16 anos no tempo, em 1953, e traz uma contraste: se antes eram reis, agora eram plebeus, largados em uma Inglaterra pós-guerra, onde o nome da dupla é constantemente associado ao fato de estarem aposentados.

O roteiro assinado por Jeff Pope busca sempre trazer um conflito em cena: ora eles têm que convencer um produtor que ainda são atraentes para o público, ora precisam deixar de lado as diferenças e ressentimentos para seguirem com seus trabalhos. É fácil notar esses momentos e percebe-se que existem somente para a trama seguir em frente. Do início ao fim, não se teme por algo mais dramático ou drástico por parte dos dois: “Stan & Ollie” busca sempre estar neste campo de filme “good feelings”.

Mas isso não quer dizer que a trama é necessariamente vazia. O longa consegue discutir bem a questão da fama e o peso que é em dar um ponto final em uma carreira. O cansaço e a idade avançada de ambos para continuarem realizando seus números de comédia está latente, porém, não existe um limite onde inicia os personagens Stan e Ollie e termina os verdadeiros Stanley Laurel e Oliver Hardy. Os dois doam suas vidas para o show e não é raro quando a vida imita a arte nas situações cotidianas da dupla: ao subirem para pegar um trem, uma mala pesada dos dois acaba caindo, fazendo-os voltarem tudo de novo.

STEVE COOGAN BRILHA

Nesses momentos, entende-se que o foco de “Stan & Ollie” está em manter viva na memória do público uma dupla tão influente na primeira metade do século XX. E para poder realizar isso de forma eficiente, Jon S. Baird conta com a ótima dupla de atores John C. Reilly e Steve Coogan para trazer vida aos dois personagens.

Assim como o público ria dos verdadeiros interpretes, nesta versão reconstruindo a vida de Stan e Ollie é bastante cômico os números da dupla através das atuações de Reilly e Coogan. E ao final, durante os créditos, fica evidente as semelhanças físicas e de gestos quando são mostrados alguns trechos dos filmes reais.

John C. Reilly consegue compor um ótimo personagem a partir de suas expressões faciais e físicas e, quando o filme pede algo mais dramático, ele atende bem as expectativas. Agora, quem realmente rouba as cenas é Steve Coogan: o britânico, além de fazer exatamente bem tudo o que seu colega de cena faz, ainda tem em sua vantagem um arco dramático mais desenvolvido.

É Laurel quem ainda tem algum ressentimento com Oliver, quem ainda busca fazer um último filme e também aquele que não cogita se aposentar de maneira alguma. Desta maneira, Coogan brilha, sendo marcante o momento em que recebe um não em uma cena bastante importante para o filme ou quando percebe que suas gracinhas não o irão ajudar a fazer uma recepcionista rir.

“Stan & Ollie” ao final cumpre seu papel de filme biográfico. Sem ousar muito mostra para um público mais jovem quem foram os grandes astros de 70 e 80 anos atrás. Se hoje são reverenciados Robert Downey Jr., Chris Evans e Brie Larson por seus papéis em filmes de heróis, nos anos 1940 e 1950 eram Laurel e Hardy e seus outros colegas de profissão quem dominavam a imaginação de crianças e adultos nestes filmes de comédia pastelão.