Estamos diante da véspera da venda da WayStar e do casamento súbito de Connor (Alan Ruck) no segundo episódio da quarta e última temporada de “Succession”. A família Roy encontra-se em um cenário de intrigas e incertezas, nada diferente do que já fora visto ao longo de toda a série da HBO. Aqui, entretanto, o embate ganha um caráter suicida, pois, fica nítido mais do que nunca como não há o menor interesse de quase todos ali em cessá-lo, mas, sim em continuar com os duelos e traumas infinitos, afinal, este é o modus operandi da família – mesmo que renda prejuízos incalculáveis a todos.

Este sadismo dos Roys está por toda parte: começa com a performance de Logan (Brian Cox) circulando pela ATN de óculos escuros julgando a tudo e a todos a ponto de alguém compará-lo ao tubarão do clássico de Steven Spielberg acompanhado de um discurso aos berros e recheado de palavrões. Depois, o joguinho relacionado a amante com os dois sacos de pancadas preferidos de “Succession” – Greg (Nicholas Braun) e Tom (Matthew Macfadyen). Os irmãos também sempre que possível gostam de passar por cima dos outros com carteiradas como faz Ron (Kieran Culkin) com a pobre moça que os impede de embarcar no jatinho.

O alvo preferido, porém, são eles mesmos e os ataques são múltiplos: na esfera pessoal, Logan auxilia Tom a consultar todos os advogados possíveis para inviabilizar Shiv (Sarah Snook) de conseguir o divórcio, enquanto Connor simplesmente se vê ridicularizado pelos irmãos quando corre o risco de perder a noiva. Já no campo dos negócios, Kendall (Jeremy Strong), ciente da possível desistência de Lukas Matsson (Alexander Skarsgård) caso fosse mais pressionado na compra da WayStar, topa seguir no modo kamikaze para pedir mais dinheiro. O objetivo? Irritar o pai ao esticar indefinidamente o negócio.

A DINÂMICA FAMILIAR DOS ROYS

O caldeirão explode em um cenário propício para aquela guerra: um patético karaokê de iluminação duvidosa em um buraco qualquer de Nova York. Ali, Logan se coloca como um sujeito misericordioso, defensor da família, que age daquela forma por amar a todos e usa com toda relutância possível a palavrinha mágica: ‘desculpa’. Não demora para ser confrontado pelos filhos em uma pergunta que sintetiza o estado perturbado da família: “desculpas pelo quê?”.

Fica claro como foram tantas guerras entre eles que mal se sabe por onde começar o processo de perdoar – Ron até brinca que parece o conflito Israel e Palestina. E, no fundo, há pouco interesse em superar e seguir em frente, afinal, essa foi a dinâmica estabelecida pelos Roys desde o início da vida. Encerrar a disputa familiar é quase como marcar o fim deles como família – Shiv até brinca com isso no meio do embate ao responder Kerry ( Zoe Winters). Neste ponto, é possível até estabelecer que o ódio, as intrigas e as pernadas sejam o jeito peculiar de amar de Logan com os filhos e entre os próprios irmãos.

Por outro lado, o criador e roteirista de “Succession”, Jesse Armstrong, se mostra habilidoso suficiente para notar como aquele ambiente cobra um preço – seja na sanidade de Kendall ao rir de forma cartunesca na reta final do episódio, seja com Connor ao trazer uma tristeza genuína, quase justificando o ser patético que é. Surpreendentemente, Ron é aquele que mais sente: desde o primeiro episódio, ele se mostra relutante em desafiar Logan, afinal, para além do medo, há também o amor e a veneração ao pai. Ceder como faz na última cena é também um pedido torto de hastear a bandeira branca. Muito provavelmente em vão.

No fim das contas, faz sentido a constatação de Logan de que os filhos não são pessoas sérias. Falta, porém, notar como o diagnóstico também o serve.