Dirigido por Joe Mantello (“Entre Amigos”), “The Boys in the Band”, disponível na Netflix, é mais um daqueles filmes que segue a linha verborrágica. Baseada na peça da Broadway de mesmo nome, a produção conta com um elenco estelar e assumidamente gay para narrar uma noite de festa que culmina em revelações, discussões e angustias.
O roteiro é uma adaptação da peça de Matt Crowley, que o escreveu junto com Ned Martel, e traz sete amigos que se reúnem no apartamento de Michael (Jim Parsons) para comemorar o aniversário de um deles. Tudo vai bem até que um convidado inesperado quebra as expectativas para a noite. E o que antes parecia uma festa entre velhos conhecidos – e, portanto, regada de intimidade passivo-agressiva -, torna-se um ambiente tóxico e carregado de preconceito, ressentimento e mágoas.
Mantello conta sua história majoritariamente em um espaço pequeno, mas muito bem aproveitado. O design de produção e os planos fotográficos nos fazem ter uma noção mais ampla do que realmente poderia ser o apartamento de Michael. Durante toda a projeção, os personagens de “The Boys in the Band” se movimentam entre a cozinha, a sala, a varanda e o quarto que visto sob novos ângulos nos oferecem a sensação de estarmos em locações diferentes, seja por notarmos um piano que não tínhamos visto ou um plano zenital que nos dá uma vista mais interessante do apartamento.
O ponto é que suas dimensões são essenciais para a construção do ambiente e de sua atmosfera doentia. As escolhas de Mantello em parceria com o diretor de fotografia Bill Pope (“Matrix”, “Baby Driver”) procuram dinamizar o texto essencialmente teatral, sem perder a sutileza e elegância das discussões que se desenrolam. E tudo isso converge para a última hora de projeção quando todas as máscaras são despidas e as relações e conflitos velados são expostos. O interessante é que a cenografia acompanha a confusão estampada nos diálogos e o apartamento outrora arrumado e cuidado por Michael e Donald (Matthew Bomer) se transforma.
ACIDEZ SOBRE O PESO DA INTIMIDADE
Essas pequenas sacadas acompanhadas dos flashbacks dos personagens desvincula um pouco a produção do teatro. Contribui também para a fluidez da trama, a familiaridade que o elenco tem com “The Boys in The Band”, tendo em vista que são os mesmos atores que estiveram trabalhando na exibição da peça em 2018. Esse conforto possibilita que as atuações deles cresçam por meio dos pequenos gestos, olhares e reação a fala e atitude dos outros personagens ao seu redor.
Nesse quesito, Tuc Watkins e Zachary Quinto se destacam. A fala compassiva e os olhares trocados com seu parceiro, atestam a afabilidade de Hank (Watkins) e o quanto ele destoa dos outros membros da roda. Já Quinto, oferece a Harold, um tom debochado e comedido, sem alterar a voz em nenhum momento, nem mesmo quando seus comentários são mais ácidos. Essa parece ser uma característica do próprio ator, que costuma oferecer um tom mais calculista e frio a seus personagens.
Tudo isso nos faz imergir em uma produção interessante. Ácida quando necessária, leve para quebrar um pouco as relações tóxicas presentes e importante para refletir sobre a convivência e o peso ruidoso da intimidade.
Um belo exemplar de como não ser na sua roda de amigos.