Baseada no livro homônimo de Raphael MontesIlana Casoy, ‘Bom dia, Verônica’ é mais uma série nacional na Netflix que traz muito orgulho para o audiovisual brasileiro. Digo isto, pois, além de contar com uma história instigante e muito bem apresentada ao longo de oito episódios, a série é capaz de abordar muitos temas relevantes e debates complexos decorrentes no Brasil e ao redor do mundo. Tudo isso ainda é visto através das atuações memoráveis de Tainá Muller, Eduardo Moscovis e Camila Morgado. 

A história acompanha a protagonista Verônica Torres (Tainá Muller), escrivã de polícia que trabalha em uma delegacia de homicídios em São Paulo. Casada e com dois filhos, sua rotina acaba sendo interrompida quando testemunha o chocante suicídio de uma jovem mulher. Na mesma semana, ela recebe uma ligação anônima de Janete Cruz (Camila Morgado), uma mulher desesperada por ajuda contra seu marido agressivo Cláudio Brandão (Eduardo Moscovis). 

“Bom Dia, Verônica” cria uma narrativa interessante ainda que existem, como qualquer drama policial, pistas repentinas ou soluções óbvias surjam em momentos pontuais da trama. Isso, porém, não atrapalha o rico desenvolvimento presente na história central. Assim, até a própria construção dos personagens é realizada de forma que eles não pareçam complexos logo no primeiro momento, revelando pequenos detalhes sobre suas vidas conforme a série avança. 

Atuações de destaque 

Embora todo elenco seja agraciado com boas atuações, o trio principal é simplesmente de tirar o fôlego. Começando com Tainá Muller como protagonista: ela consegue segurar a trama sozinha muito bem, mostrando exatamente a diferença na evolução de uma escrivã idealista para uma pessoa disposta a fazer justiça com as próprias mãos. Já Eduardo Moscovis brilha seja no comportamento abusivo e violento de Brandão seja nos pequenos detalhes que revelam traumas não resolvidos do personagem. 

Mesmo que Muller e Moscovis sejam gigantes, Camila Morgado e sua Janete, com certeza, são as responsáveis por manter o público fixado em “Bom Dia, Verônica”. Dos choros frenéticos até a negação do relacionamento abusivo, a atriz constrói uma personagem capaz de gerar empatia imediata, algo fundamental para alertar o público sobre a covarde violência doméstica e os seus traumas psicológicos, infelizmente, mais comuns do que imaginamos em nossa sociedade. 

A expertise Montes-Casoy 

Nada seria ter grandes atores sem um roteiro capaz de dar a eles uma boa história. E as mentes brilhantes e criminalistas de Raphael Montes e Ilana Casoy justificam todo sucesso de “Bom Dia, Verônica”. Além de assinarem o livro, ambos estão no roteiro, produção e, no caso de Montes, criação da trama, o que ajuda muito no momento de discernir quais elementos essenciais para a adaptação. 

Escritores com carreiras sólidas na literatura criminal e de suspense, Montes e Casoy mantém uma proximidade com a estrutura literária na narração feita pela protagonista, mas, ao mesmo tempo, une isso com uma montagem dinâmica e uma direção de fotografia excelente. O domínio da dupla sobre a narrativa ainda permite fazer com que as subtramas consigam ter relevância, algo raro em filmes e séries do gênero.  

Com uma grande diversidade de temas pertinentes abordados em apenas oito episódios, temáticas macro como corrupção, justiça e violência contra a mulher geram um debate denso e complexo, sem impedir a realização de referências a crimes e falhas no sistema criminal brasileiro no decorrer da temporada. Com isso, “Bom Dia, Verônica” se torna uma das melhores obras originais Netflix feitas no país. 

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