“Eu adoro essa cara de confusão”, diz Scourge – um robô – para Optimus Prime – outro robô. Corta para a lataria absolutamente inexpressiva de Prime, enquanto a música dramática sobe. Acontece que carros-robôs simplesmente não têm muita personalidade na maior parte do tempo. De modo que a fala de Scourge poderia até soar como uma piada – em mãos mais hábeis, claro. 

Há mesmo algo muito engraçado na solenidade robótica de Optimus Prime, enquanto termos como Maximals e Autobots e Unicron são disparados. É todo um jargão bobo que trai as origens de brinquedo infantil de “Transformers – O Despertar das Feras”. 

Por que, nesse caso, a Hasbro simplesmente não abraçou esse lado lúdico, a exemplo do recente e ótimo “Dungeons & Dragons – Honra Entre Ladrões”? Nunca saberemos. O que nos sobra, nesse caso, são os visuais nem um pouco empolgantes desse amontoado mecânico na tela. 

Como logo descobrimos, o cinza metálico se torna entediante muito rápido. O roteiro, saído diretamente da linha de produção das tranqueiras hollywoodianas, também não ajuda. Pior: ele não só passa pelos plot points batidos de sempre, como sequer se dá o trabalho de construí-los minimamente. 

Elena (Dominique Fishback), por exemplo, é estagiária em um museu. Sua superiora é aquele típico personagem burro e arrogante que os heróis no cinema vêm aturando desde sempre. Só que aqui, o desinteresse e estupidez da chefe despertam algumas dúvidas: afinal de contas, ela não trabalha em uma repartição qualquer; não, estamos falando de um museu onde, presume-se, os profissionais são bem qualificados. Do contrário, como ela teria se tornado a superiora da nossa Elena? 

Mesquinharia da minha parte? E quanto ao Noah (Anthony Ramos), o outro humano dessa história, que, lá pelas tantas, se reconhece como líder e herói – sem que, no entanto, o roteiro de “Transformers – O Despertar das Feras” tenha lhe dado qualquer ação heroica a desempenhar. Na maior parte do tempo, o rapaz corre de um lado para o outro, desviando de lasers. E devemos acreditar que ele é um líder? 

Nada disso seria problema se o filme se empenhasse em ter personalidade. Mas a opção parece ter mesmo sido pelo menor denominador comum, com um clímax que mira na grandiosidade de “Vingadores: Ultimato”, mas retém daquele filme apenas a textura plastificada do CGI. Prepare-se para uma experiência não muito diferente a de assistir às cutscenes de um jogo que você não pode jogar. 

Prepare-se, também, para revirar os olhos diante dos personagens humanos e rir de toda aquela pose dos robôs. Só mesmo Mirage se salva, o Autobot-Porsche sacana e engraçadinho. É que é fácil se contentar com pouco quando é preciso aturar duas horas de robôs fazendo PIU-PIU-PIU uns contra os outros.