“Velozes e Furiosos” chega ao sétimo filme sem oferecer absolutamente nada novo do que já foi visto anteriormente. Perseguições de carros, batidas de carros, carros voando, carros trafegando em alta velocidade por estradas desertas, carros super modernos com lataria de primeira pronta para ser estragada, carros escapando de tiros, granadas e bombas, além de mulheres decotadas e com a bunda de fora. Tudo isso resumido a um fiapo de história e frases de efeitos disparadas a cada segundo. Mesmo assim, não é possível dizer que a franquia seja um desastre, pois cumpre o que promete com relativa facilidade: ser um entretenimento banal em duas horas com espetaculares cenas de ação. No meio de tudo isso, há a dramaticidade de se despedir de um elo fundamental desse universo: Paul Walker.

Vin Diesel em Velozes e Furiosos 7Analisar “Velozes e Furiosos 7” é, ao mesmo tempo, tentar entender porque algo tão repetitivo consegue estourar como a franquia fez, principalmente, a partir do quarto filme. O maior acerto da série é não se levar à sério. Não há uma pretensão em trazer subtramas com contextos pseudo-politizados ou criar um drama além do necessário na relação dos personagens. Este sétimo filme, por vezes, quase cai nessa armadilha ao desperdiçar tempo demais com o drama envolvendo a amnésia de Letty ou a forma como Dominic Toretto se sente no papel de “O Poderoso Chefão” para defender a sua família. Por serem dois péssimos atores, Michelle Rodriguez e Vin Diesel não conseguem segurar essas sequências, tornando risível vê-los tentar atuar. O mesmo pode ser dito do restante do elenco.

Por outro lado, o que poderia ser visto como uma falha acaba sendo jogado a favor da série, especialmente, neste sétimo filme. Frases chinfrins como “as palavras para o que vou fazer com você não foram inventadas” são ditas à exaustão por Vin Diesel sempre acompanhadas de closes ou planos de baixo para cima (os contra-plongées) para realçar a superioridade moral de Toretto. As veias saltadas de Dwayne Johnson e do protagonista com as camisetas mais dispensáveis do cinema servem para expor quão caricaturais são aquelas figuras, o que torna essas composições impossíveis de serem levadas à sério e a pobreza da atuação se torna um reforço dessa característica. O roteiro de Chris Morgan sintetiza essa banalidade descontraída em uma frase dita pela hacker Megan (Nathalie Emmanuel) na qual define, de maneira breve, a personalidade de todos os protagonistas, servindo de admissão da superficialidade e rindo das próprias limitações.

Naquilo que realmente interessa, “Velozes e Furiosos 7” se sai satisfatoriamente bem. Com uma montagem inspirada no trabalho feito no excelente “Rush”, o filme aposta em planos nos mais diversos ângulos como a caixa de marchas, os pedais, o volante, diversos enquadramentos dentro e fora do carro distribuídos em uma velocidade rápida, mas, capaz de ser compreendida pelo espectador, diferente da confusão, por exemplo, que acontece em “Transformers”. Os trabalhos de mixagem e edição de som também conseguem resultados impressionantes por variar entre os momentos de explodir os tímpanos com sequências de redução de ritmo, o que ajuda a criar mais tensão.

Os melhores resultados visuais em “Velozes e Furiosos 7” ficam para as três primeiras sequências iniciais, sendo o que o público realmente espera do projeto. A colisão entre os carros de Toretto e Ian Shaw (Jason Stanham) situada em uma passagem subterrânea lembra faroestes clássicos de Sergio Leone ao colocar os dois antagonistas em uma tensão crescente para, então, ir para o confronto (pena não ter um Ennio Morricone para dar um ganho). Já todo o trecho iniciado no avião e passado no penhasco explora a indestrutibilidade dos personagens, enquanto o momento em Abu Dhabi abraça o nonsense ao ponto de deixar no chinelo o salto de Vin Diesel em direção a Michelle Rodriguez no sexto filme. Pena a batalha final não estar no mesmo nível por ter pontos de repetição com tudo o já visto na série e neste próprio longa.

Paul Walker em Velozes e Furiosos 7A morte de Paul Walker, claro, ronda “Velozes e Furiosos 7”. Todo o discurso de lealdade e união familiar do grupo liderado por Toretto pode até não soar convincente na tentativa de fechar um ciclo daqueles personagens (o dinheiro arrecadado nas bilheterias com a franquia impede pensar que todos vão deixar de fazer novas sequências), mas em relação ao ator falecido em um acidente de carro em novembro de 2013 (ironia cruel do destino) encaixa bem. A saída para fechar com dignidade a passagem do ex-detetive Brian O’Conner se mostra eficiente no ponto de vista narrativo pelo fato do personagem ter ficado sem grande função nas sequências, tornando-se um mero ajudante do protagonista vivido por Vin Diesel e figura mais parecida na tela com o público pelo porte físico franzino frente aos brutamontes.

E não dá para não se emocionar com a última sequência do filme no adeus a Paul Walker. Defeitos à parte das visíveis (e perdoáveis) falhas técnicas do rosto do ator e da falta de sutileza do texto dito por Toretto/Vin Diesel, é impossível não ver a compilação de imagens do ator nos outros “Velozes e Furiosos” e pensar como a morte dele foi tão estúpida, causada justo por aquilo que admiramos na tela. Será, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes do cinema em 2015.

“Velozes e Furiosos 7” abraça a banalidade característica da série sem medo de ser feliz, rindo de si próprio sem querer insinuar algo que não é. Nada acrescenta à vida do sujeito que pagou o caro ingresso do cinema, mas quem vai esperando isso em um filme com Vin Diesel, Dwayne Johnson e carros explodindo, carros pegando fogo, carros andando após serem metralhados, carros voadores?