Uma animação em 2D de um pequeno estúdio e com baixo orçamento. Essas não parecem ser as características de um filme premiado ou notório na temporada de premiações, mas ‘Wolfwalkers’ atende a todos esses requisitos com benefício de abordar temáticas mais adultas assim como o favorito ‘Soul’. Diferente da produção da Pixar, o filme do estúdio irlandês Cartoon Saloon utiliza uma visualidade mais simples e analógica, com direito a rabiscos aparentes como lembrança da animação realizada à mão. O efeito, apesar de não ser totalmente eficiente para a história, em nada impede que esta seja muito bem desenvolvida e facilmente apreciada.
Com um orçamento de US$ 2 milhões contra 200 milhões de ‘Soul’, ‘Wolfwalkers’ é mais uma animação de Tomm Moore que remete ao folclore irlandês. Após conceber ‘Uma Viagem ao Mundo das Fábulas’ e ‘A Canção do Oceano’, Moore alcança um novo reconhecimento sendo indicado a diversas premiações como Globo de Ouro (o que também foi alavancado com a distribuição pelo streaming Apple TV).
Desta vez, Tomm Moore se junta a Ross Stewart para dirigir a história dos Wolfwalkers: um grupo de seres humanos capazes de se transformarem em lobos. Tudo começa quando Robyn (Honor Kneafsey), uma jovem caçadora aprendiz, vai para a Irlanda com seu pai na tentativa de eliminar uma última alcatéia. Quando a jovem salva uma garota nativa selvagem, sua amizade a leva a descobrir a existência dos Wolfwalkers, transformando-a na mesma coisa que seu pai tem a tarefa de destruir.
Ao escolher a caça aos lobos como motivação principal, o longa não hesita em desenvolver narrativas mais densas. Afinal, nem todo filme infantil sabe tratar temas como a morte (por isso o sucesso de ‘Viva: A Vida é Uma Festa’), o que ocorre aqui, pois, geralmente, a temática é tratada de forma muito ampla ou através de metáforas. Nesse aspecto, ‘Wolfwalkers’ não tem medo de expor seus personagens à morte e ainda encontrar o culpado em um dos protagonistas.
Além de abordar a relação entre caça e caçador com a humanização dos lobos, a história também consegue mirar críticas em vários aspectos como a questão ambiental e o negacionismo religioso na motivação para o lorde protetor queimar a floresta e matar os animais. Assim, mesmo sendo claramente um filme destinado ao público infantil, ‘Wolfwalkers’ não apela ao humor ou a uma história totalmente agradável, sendo um filme muito mais informativo do que engraçado na realidade.
REVIRAVOLTAS EXCESSIVAS
No aspecto visual, a utilização da animação em 2D é bem peculiar e interessante. Com a grande maioria dos estúdios utilizando animações em CGI e o 3D, já é bem impactante encontrar um lançamento que fuja à regra, ainda mais quando, no decorrer do filme, se encontram alguns resquícios de rabiscos iniciais à mão sem a menor preocupação de serem vistos.
Porém, com o avanço da história, consecutivas reviravoltas e belas mensagens, a diferença visual é minimamente sentida, com uma pequena exceção: nas cenas que exigem uma movimentação maior dos personagens, como a corrida dos lobos, o cenário estático acaba não sendo suficiente para acompanhar os personagens, criando leves contrastes.
Talvez pelo desfecho alongado e consecutivas reviravoltas finais, “Wolfwalkers” pareça mais longo do que verdadeiramente, algo negativo considerando o público-alvo, mas, não compromete a qualidade ou impressão positiva passada pelo longa. No geral, o roteiro bem escrito compensa os poucos elementos que ficam a desejar.
A história, inclusive, já tem uma continuação confirmada, uma escolha positiva tanto pela continuidade da trama quanto pela oportunidade do mundo de fábulas ser novamente adaptado pela concepção única de Tomm Moore.