Artistas, assim como qualquer pessoa, vivem em suas respectivas bolhas, mas, para eles, isso pode ser perigoso e prejudicial. Tome-se o exemplo deste “You Hurt My Feelings”, novo filme da cineasta Nicole Holofcener, de À Procura do Amor (2013) e Gente de Bem (2018): é mais um filme sobre nova-iorquinos ricos, brancos e privilegiados que fingem que têm problemas na vida.

Parece um filme do Woody Allen, mas sem nenhuma observação arguta sobre a vida ou sem o tempero do contraste entre o pessimismo e o romantismo inerentes ao autor. Ora, até o Noah Baumbach, outro cineasta que vive em sua bolha, de vez em quando consegue colocar um salzinho em seus filmes. Aqui, só o que se tem é tédio.

Em “You Hurt My Feelings”, temos o casal Beth e Don, vividos por Julia Louis-Dreyfus e Tobias Menzies. Ela é uma escritora e professora; ele um psicólogo, e ao contrário das pessoas ao seu redor, os dois têm uma convivência harmônica. Eles têm um filho (Owen Teague) enrolado em um relacionamento com uma garota e que não consegue terminar de escrever uma peça de teatro. A vida do casal começa a sair dos eixos quando Beth ouve, sem que Don perceba, a opinião honesta dele sobre o livro que ela escreveu – uma autobiografia, claro, porque neste tipo de filme todo mundo geralmente só olha para o próprio umbigo.

DESAFIANDO O TÉDIO

Para ser justo, You Hurt My Feelings até tem algumas boas cenas aqui e ali, principalmente, aquelas com o casal que faz terapia com Don e mesmo assim não param de brigar – são figuras mais interessantes que o casal protagonista. A melhor cena do filme é aquela em que eles pedem ao psicólogo o seu dinheiro de volta, depois de dois anos de terapia infrutífera. Mas o dilema dramático é tão pequeno e a condução de Holofcener tão rasa, que o longa se torna fugaz antes mesmo da sua conclusão.

Os dois atores principais ajudam bastante You Hurt My Feelings, no entanto. Eternamente conhecida por Seinfeld, Louis-Dreyfus aqui tem uma abordagem humana e o papel lhe permite explorar algumas nuances além do seu tradicional tipo neurótico – pelo menos ela não repete o mesmo papel de quase sempre. E Menzies, revelado pela série Roma, tem a melhor atuação do filme, vivendo um sério candidato a pior psicólogo do cinema, que até confunde os problemas emocionais dos seus pacientes. Às vezes, a composição do ator e as ações do seu personagem sem noção rendem algumas risadas e bons momentos no filme, os poucos que existem.

E para seu mérito, não é como se Holofcener não reconhecesse que seus personagens são ensimesmados e que seus problemas são insignificantes. Ela o faz: tanto que numa cena, Beth confronta Don e diz que seu livro importa para ela, dentro do “seu mundinho narcisista”. E há muito a se explorar dentro do tema das mentirinhas que se contam dentro de um relacionamento ou de um casamento, pequenas falsidades sem as quais a convivência seria praticamente impossível.

O problema é que You Hurt My Feelings não faz nada de interessante com esse reconhecimento, ou com esse tema. Nem o roteiro do filme nem a direção desafiam os personagens, ou demonstram disposição para explorar esses aspectos mais a fundo. Fazer isso arriscaria furar a bolha. Então, fica-se com um filme no qual até se dá umas risadinhas aqui e ali pela superficialidade daquelas pessoas e daquele universo, mas durante o qual é difícil não dar umas olhadas para o relógio de vez em quando, pensando se falta muito para acabar.

Ao menos é curtinho: só dura uma hora e meia. Mais do que isso, dentro desta bolha, seria realmente difícil de se aguentar.