‘Que eu consiga representar todas as mulheres que estejam em relação opressiva e ajude a libertá-las’.
Com este mantra, Jocê Mendes chegava ao set de filmagem de “O Buraco”, novo filme do cinema amazonense dirigido por Zeudi Souza (“Perdido”, “No Rio das Borboletas”). Gravado ao longo de mês de dezembro respeitando as normas sanitárias impostas pela pandemia da COVID-19, o terror psicológico sobre violência doméstica em uma casa da periferia de Manaus está disponível no YouTube até o próximo dia 18 de janeiro gratuitamente.
No curta de 20 minutos, Jocê encarna uma dona de casa vítima do horror da violência física e psicológica imposta pelo próprio marido interpretado por Victor Kaleb (“Sons do Igarapé”). As sucessivas agressões são vistas pelo filho do casal através do buraco na parede do quarto dele. Aline Guedes e Daura Caroline completam o elenco do curta dirigido e roteirizado pelo próprio Zeudi.
Para a construção da personagem, Jocê Mendes se inspirou na atuação de Camila Morgado na série “Bom Dia, Verônica”, e, principalmente, na entrevista feita com a atriz amazonense Rosa Malagueta na pré-produção do curta. “Eu não sou mãe, nunca sofri violência física, no máximo, psicológica. Para mim, era muita responsabilidade por não estar no lugar de fala daquelas mulheres, porém, ao escutar estas vítimas, isso me deu uma licença poética para que pudesse representá-las”, declarou em entrevista ao Cine Set.
‘ATO POLÍTICO, LIBERTADOR’
Apesar da tensão inerente ao tema do filme, as gravações, segundo Jocê, fluíram em clima de seriedade e parceria necessários para que tudo desse certo. “O set foi leve, cheio de sensações, vibrações, emoções, choros e comemoração a cada cena. Permitimos nos jogar sem medo de se machucar ou se cortar. Aliás, fiz uma das cenas com pé furado de prego, mas não quis perder o calor do momento. Foi lindo e dolorido, mas cheio de amor pelo momento vivido” recordou.
“O filme dá esta possibilidade de revolução, de denúncia, de protesto, de liberdade. Acredito que a personagem irá contribuir na questão de identificação: em que lugar me sinto representada em cada cena? Muitas vezes, a mulher nem sabe que está sendo violenta, oprimida por achar que aquilo é o normal, pois, o sistema patriarcal criou este pensamento de que merecemos apanhar quando erramos ou merecemos ouvir uma palavra mais alta de um homem por ele mandar, bancar a casa. A mulher tem que ser perfeita. “O Buraco” é um ato político, libertador”, completa a atriz.
Com inspiração do longa espanhol “Pelos Meus Olhos”, de Icíar Bollain, “O Buraco” conta com Claudilene Siqueira como diretora de produção, Flávia Abtibol foi a assistente de direção, Robert Coelho foi o diretor de fotografia, Heverson Batista ficou na direção de som, a direção de arte esteve sob a responsabilidade de Aline Guedes e a montagem com Castro Jr. O filme ainda não tem data para estrear.
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