Sabe aquela sessão de cinema em que valeu a pena estar ao lado de inúmeros desconhecidos para acompanhar as emoções dos personagens que passavam na tela? Um público que ia além de ser mero espectador e parecia estar sintonizado em cada passo da história, vibrando ou chorando com a narrativa do filme?

Os integrantes do Cine Set reuniram as principais experiências coletivas vividas por eles dentro de uma cinema e relatam esses momentos em um post especial:


Caio Pimenta
Filme escolhido: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei (2003)

Já escrevi que a sessão mais importante da minha vida foi “Titanic” (clique aqui para entender). Então, resolvi escolher outro. Em 2003, duas das maiores franquias dos anos 2000 chegariam ao fim: “Matrix” e “O Senhor dos Anéis”. Era um grande fã de ambas, porém, “Revolutions”, lançado em novembro, foi uma decepção gigantesca para o que prometia a série de Neo & cia. Os elogios da imprensa estrangeira para o último capítulo da saga de Peter Jackson, entretanto, causavam uma enorme curiosidade: afinal de contas, como superar o excelente “A Sociedade do Anel” e o ótimo “As Duas Torres”? Nessa mesma expectativa, mais 299 espectadores entraram na sala 3 do Amazonas Shopping, no dia 25 de dezembro, para acompanhar “O Retorno do Rei”. A vibração com cada conquista de Aragorn, Gandalf e Frodo era acompanhada de aplausos e comemorações, enquanto um silêncio total estava presente em momentos mais tensos. A imersão e a reação daquelas pessoas à história e o olhar de felicidade de cada um daqueles que passaram o dia de Natal longe das famílias somente para ver um filme mostram o quanto a trilogia fechara seu ciclo de modo tão satisfatório para entrar na história do cinema pela porta da frente.


Camila Henriques
Filme escolhido: Pânico 4 (2011)

Uma experiência coletiva bem legal que tive não foi com um filme cult ou com algum blockbuster arrasa-quarteirão, e sim com um título com um toque de “guilty pleasure”: “Pânico 4”. A (até agora) última parte da série de filmes slasher de Wes Craven estreou 11 anos depois de “Pânico 3”, então era natural que o público não se interessasse tanto, certo? Bem, no meu caso, isso não aconteceu. Fui ver o filme no dia da estreia (não dava para arriscar um spoiler, né) e o que vi foi uma sala 100% compenetrada (sendo que boa parte dela estava tomada por um grupo de amigos fã/fanático pela série) e suspiros a cada referência aos três primeiros filmes. “Pânico 4” pode não ter sido lá uma obra-prima, mas garantiu lugar na minha memória afetiva por esse momento e porque, dane-se, é um guilty pleasure MESMO!

Danilo Areosa
Filme escolhido: Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010)

Minha experiência cinematográfica mais marcante é voltada ao cinema nacional, cujo cenário político atual conflituoso me fez recordar de uma sessão inesquecível que presenciei em uma sala lotada, em 2010. O filme em questão era “Tropa de Elite 2”, de José Padilha. Naquele ano, a política não estava tão rachada como hoje, mas já existia uma certa inquietação do povo em relação a corrupção e a violência. Sai da sessão totalmente imerso, tanto pelo petardo que o filme era e pela forma como o público reagiu emocionalmente. A cena em que Capitão Nascimento dá umas boas porradas no político corrupto, fez o cinema vir abaixo. Deu para notar que naquele momento, filme + público dialogavam em uma sinergia lúdica emocionalmente perversa como vingança contra a corrupção. Nesse ponto, a obra de Padilha funcionou como uma ótima catarse cinematográfica. Imagino que um terceiro capítulo de “Tropa de Elite” cairia muito bem hoje, para encenar este ódio político vivenciado pelo país.

Gabriel Oliveira
Filme escolhido: O Rei Leão (1995, relançado em 3D em 2011)

Algumas idas ao cinema acabam marcando mais pela memória e ligação afetiva com um filme do que pela qualidade da obra propriamente dita. Para mim, uma dessas experiências especiais é “O Rei Leão”: poder ver enfim numa sala de cinema aquele que foi meu primeiro VHS, que passei a infância toda assistindo, foi um momento particularmente emocionante. Como se não bastasse minha própria história com o filme, fui acompanhado de amigas que também tinham uma ligação parecida e o resultado foi de nostalgia coletiva, com direito a todos cantando junto as músicas do filme e chorando na morte de Mufasa – em minha defesa, não tinha mais ninguém na sala para se incomodar nem presenciar a breguice desse momento, felizmente.

Ivanildo Pereira
Filme escolhido: Batman (1989)

Ao longo da minha vida tive grandes experiências na sala de cinema, mas acho que nenhuma ainda superou, em termos de impacto, a sessão de Batman, de Tim Burton, com uma plateia na idade apropriada. Voltem comigo no tempo até uma tarde de domingo de 1989, na qual eu, com dez anos de idade, fui ao cinema com a minha família ver o filme daquele que já era, àquela época, o meu super-herói favorito. Cinema Chaplin, no Centro da cidade. Na entrada, um aviso de que o filme estava “nos últimos dias”. Sala completamente lotada, com pessoas chegando a sentar no chão dos corredores. Inicia o filme. Vem a primeira aparição do Batman. As gracinhas do Coringa. O Batmóvel. A plateia participava, ria, aplaudia. E quando apareceu a nave do Batman, o cinema explodiu em gritos e aplausos. Naquela época não tínhamos ideia de que os super-heróis se tornariam comuns no cinema, ou o quanto os blockbusters de Hollywood iriam crescer e dominar as telas, e o filme de Burton foi essencial nesse crescimento. Àquela época, não havia nada igual a Batman. Até hoje é um filme ao qual retorno – tenho em disco – e pelo qual tenho muito carinho, apesar de reconhecer nele alguns problemas. Por um momento, toda vez que ele começa, volto ao Chaplin e a ter dez anos novamente, e relembro o impacto de uma das mais incríveis sessões de cinema a que já presenciei.

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte II

Lucas Jardim
Filme escolhido: Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II (2011)

“Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” foi minha primeira sessão de meia-noite (elas ainda não estavam tão em voga) e a sensação de dividir com um bando de moleques de 16, 17 anos o fim de um ciclo que nos acompanhou durante boa parte da infância e adolescência foi sobrepujante. Praticamente qualquer evento na tela gerava reações, os gritos não pareciam ter fim e, pra fechar, alguns de nós ainda fomos juntos a uma festa depois!

Pâmela Eurídice
Filme escolhido: Mesmo Se Nada Der Certo (2013)

Tenho para mim que uma das experiências coletivas mais interessantes que tive foi ao assistir “Mesmo Se Nada Der Certo”, do diretor John Carney. Não apenas porque ansiava assisti-lo na tela de cinema, mas por sentir que os presentes na sessão estavam envolvidos na mesma atmosfera que eu. Carney tem a característica de evocar as sensações de suas histórias através da trilha sonora e de sua concepção pouco usual de tratar um musical, afinal o diretor, que também é músico, cativa os seus expectadores com a sutileza das composições musicais em seus filmes. Um dos momentos mais especiais e memoráveis ocorreu quando todo mundo na sala fez um grande coro cantando Lost Stars. Não tinha como resistir a mais uma das escolhas musicais do diretor. Quem também não foi assisti-lo pra contemplar um Adam Levine ator?


Susy Freitas
Filme escolhido: Star Wars – O Despertar da Força (2015)

A escolha vai soar manjada, mas sem dúvida a experiência coletiva de ir à pré-estreia de “Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força” figura entre as mais marcantes para mim. Não sou fã de pré-estreias e nem de ver filmes em salas lotadas, mas era perceptível um clima diferente naquela ocasião: vi como nunca antes pais e filhos unidos em torno de um filme, grupos enormes de amigos reunidos, todos com um misto de animação, ansiedade e apreensão. Eu, que havia tomado uma overdose de Star Wars em dezembro de 2015, com maratonas das duas trilogias, compartilhava principalmente esse último sentimento: não queria que estragassem aquela coisa tão simples, porém tão interessante. Quando todos entraram na sala, eu já estava com enjoo; estava ansiosa para ver o filme, mas imaginando no quanto as pessoas iriam ficar falando e agindo como idiotas no decorrer da sessão. Eu não poderia estar mais enganada! O silêncio era sepulcral durante o filme, salvo os momentos cômicos ou especialmente fantásticos. Todos gritaram quando a Millenium Falcon surgiu na tela e quando Kylo Ren parou o raio do blaster em pleno ar com o poder da Força, e eu acho que falei “Caralho!” um pouco alto demais. Foi uma das raras vezes em que senti que todos de fato estavam numa sala de cinema única e exclusivamente para ver um filme, e no fim das contas, era um filme bom, o que foi fantástico como fã e cinéfila.