Antes da tão comentada Segunda Vernissage de Cinema Amazonense, houve a primeira edição do evento, a qual teve como destaque a exibição do curta Histeria, de Rummenigge Wilkens. Este trabalho é mais uma prova de que a produção de cinema amazonense está na iminência de conseguir um maior alcance em termos nacionais, visto que os filmes produzidos aqui estão cada vez mais encorpados e com mais coisas a dizer.
Claro que isso é fruto do Amazonas Film Festival que, depois de chegar à sua décima edição, vai, finalmente, cumprindo o papel de estimular a produção local e fazer com que o pensamento de apenas apreciar obras cinematográficas, abra espaço para a necessidade de se produzir material.
Já que foi citado o nome do Amazonas Film Festival, devo comentar que considero inexplicável a ausência de Histeria dentre os filmes participantes da mostra competitiva Amazonas.
É claro que é sempre complicado falar de curadoria de festival, ainda mais porque muitos dos conceitos utilizados pelos jurados são subjetivos, e o que é bom pra um, pode não ser bom pra outro. Porém, duvido muito que todos os filmes selecionados sejam melhores do que Histeria. Já vi alguns dos escolhidos e o filme de Wilkens está, pelo menos, no mesmo nível de uns e melhor que outros.
Mas, mas, mas, como já foi falado anteriormente, toda essa especulação é muito subjetiva, então… vamos esperar pra ver, embora o pressentimento de que um novo Paris dos Trópicos esteja na lista é algo que me assusta muito.
Voltando ao Histeria.
O filme conta a história de Herculano (Rummenigge Wilkens), um adolescente fortemente reprimido pelo pai (Wander Luís) por ser homossexual. O fato faz com que ele adquira uma nova personalidade, uma espécie de projeção feminina do personagem (Jessy Garcia), levando-o à tal histeria do título do filme.
Falado em espanhol, o trabalho tem na fotografia de Thiago Morais as suas maiores qualidades. Utilizando-se de um eficiente preto e branco, que conversa de maneira inteligente com a proposta do filme trazendo, ao mesmo tempo, crueza e certo suspense, dando um interessante ar fantasmagórico, que resvala no expressionismo alemão, enquanto que os enquadramentos mostram um rigor extremamente interessante, com planos majoritariamente fechados, e muito bem colocados, causando uma sensação claustrofóbica no espectador, salientando a agonia do personagem e do seu conflito.
Aliás, nota-se que a fotografia, assim como os demais elementos do filme estão perfeitamente sob o controle de Wilkens, que exibe um notório bom gosto cinematográfico, deixando muito claro pelas suas escolhas, que tem total domínio sobre o que está fazendo, visto que Histeria é um filme claramente compacto, encorpado, que sabe o que quer e o faz sem firulas, com elogiável segurança, como também pode ser observado na boa montagem de Edy Gusmão e Josilene Beserra.
Apesar dessas qualidades, e de ser um filme essencialmente bem contado, o trabalho apresenta certos problemas. Mesmo tendo uma atuação eficiente em boa parte do filme, Jessy Garcia desliza quando o personagem pede um cinismo mais denso. Em todas as falas que a atriz fala para a câmera, referindo-se ao pai, e quando provoca a “versão masculina” de Herculano, nota-se apenas um sarcasmo de primeiríssima camada, das caras e bocas, com pouca substância.
Da mesma forma que acontece com o próprio Wilkens, que é responsável pela cena mais difícil do curta, quando está com a camisa de força e pede a ajuda de sua mãe (Ila Clícia), em que vemos um momento verdadeiramente impactante no início, mas que vai passando do tom no decorrer da cena, fazendo com que o que era verdadeiramente chocante tornasse-se artificial.
Também fica notória uma perda de ritmo da metade para o final. Evidente que nesse momento entra em jogo a escolha da direção de tornar aquilo propositalmente o mais lento possível, o que é uma escolha correta, acredito, mas ainda assim poderia ser revista, visto que se o trabalho fosse um pouco mais enxuto, certamente teria o seu impacto, que já é poderoso, potencializado.
Mas, evidentemente, esse é um trabalho que merece muito, muito mais elogios que críticas, pois exibe um cinema com uma proposta autoral um pouco diferente do que a maioria dos realizadores amazonenses oferece, e o faz com muita segurança e potencial.
Melhor ficarmos de olho no Rummenigge Wilkens!
Perdi a exibição desse curta e espero uma nova chance de poder conferi-lo.
Absurda ausencia deste filme. Os tres curtas exibidos naquela vernissage indicaram a chegada de um verdadeiro autor! Histeria já faz parte da historia.
Ainda não sei dizer se o resultado da curadoria da categoria Amazonas foi trágico ou cômico, na tarde de sábado quando uma amiga me ligou avisando que a lista dos selecionados havia sido publicada no site oficial do festival, corri para ver quem eram os selecionados tive uma baita surpresa e não foi nada boa. Grandes filmes que mereciam estar no festival não estavam, como o Doc da Keila Seruya sobre a banda da bica, um curta incrível sobre a ditadura Militar de Sâmia Litaiff, o fantástico “Necromante” do Ricardo Manjaro e Edson Presto e o tão comentado “Histeria”,fiquei literalmente pasma, ainda mais quando vi três filmes da mesma pessoa, e foi nessa parte da lista que eu vi a comicidade da curadoria. Não vou entrar no mérito ou desmérito dos outros filmes selecionados, como bem disse o Diego, essa decisão é bem subjetiva. Mas que o festival perde com isso, sem duvida perde, um filme impecável em qualidade técnica e estética, salvo momentos em que a atuações dos atores sofrem oscilações. A meu ver independente de ter sido selecionado ou não para o Amazonas Film Festival, o curta provou seu potencial, sua qualidade e seu brilhantismo, e que ao termino dos créditos finais e as luzes do cinema se acenderem vai ser um filme que ficara para sempre em nossas memorias.
Um filme que foi refilmado após o furto de todas as imagens, com a mesma ou maior qualidade tecnica do primeiro para mim é digno apenas de elegoios, teve alguns problemas, mas esses não ofuscam a obra de arte que o filme em si se tornou, eu nunca tinha visto, cade detalhe, fotografia,arte,efeitos especial, tudo, sem exageros e com a maior sutileza lembrando que o filme se passava nos anos 60.
Parabéns a toda equipe do filme.
Gente (CineSET)uma duvida, quando fui a primeira vernissage eram três filmes ou quatro se não me engano, existe uma previsão para essas outras criticas?
Com relação ao filme adorei mesmo, nunca pensei que veria algo assim, fiquei muito feliz em ver isso em Manaus e ver que quem fez isso não foi uma pessoa de fora e sim um amazonense e isso para mim é motivo de orgulho por ser da terrinha, a sutileza do filme a trilha sonora tudo perfeito, porem notei mesmo o problema de atuação na parte do cinismo. Cara tinha umas partes que eu não conseguia olhar, como aquela cena da lobotomia a cena do olho e a parte do vomito.
A meu ver foi uma das maiores injustiças esse filme não ter sido selecionado, a crueza mostrada no filme talves tenha contribuido para a não seleção, mas se isso for verdade só mostra que o festival precisa amadurecer, madurecer muitooooooo, com relaçao a escolha dos seus filmes e espero sinceramente não ver de novo mais um pais dos tropicos como foi na edição passada, mas pelo que vi na lista de selecionados não é para se surpreender com certos filmes.
Esse filme é um lixo, muito bem acertada a decisão da curadoria. Parabéns Dheik.
Olá Débora,
estamos tentando aos poucos fazer as críticas dos filmes amazonenses. Os curtas da primeira Vernissage vão ganhar avaliações aqui no Cine Set.
Porém, as próximas críticas serão dos curtas “O Necromante” e “Balbina: no país da impunidade”.
Se vocês leitores, puderem contribuir com contatos ou dicas para futuras críticas, tragam para o Cine Set. Nosso objetivo é continuar analisando a produção local em paralelo com os lançamentos do cinema comercial.
Grato pela atenção!
Caio Pimenta
editor-geral do Cine Set.