Bastam três minutos de filme para saber que a continuação de “Muita Calma Nessa Hora” vai exigir do espectador justamente aquilo que o título clama. Após um acidente com a Kombi de Estrella (Débora Lamm), surge o ator Emílio Orciollo Neto. Vivendo um caipira montado em uma bicicleta, o personagem orienta a garota com instruções confusas sobre o caminho a ser seguido. Sim, senhores: é o mesmo ator reprisando a mesma piada e situação feita em “O Palhaço”.

Ok, o momento poderia ser visto como uma homenagem ao belo filme de Selton Mello. Porém, à medida que o tempo passa, a continuação do longa de 2010 mostra que o trecho de Emílio nada mais era que uma antecipação da falta de criatividade dos roteiristas Bruno Mazzeo, Lusa Silvestre e Rosana Ferrão em criar piadas próprias e ter uma trama para contar.

“Muita Calma Nessa Hora 2” pode ser visto como um episódio estendido do seriado “Cilada”. O cenário é um festival de música com atrações completamente sem nexo algum (Chiclete com Banana, Jota Quest, Marcelo D2, cover dos Los Hermanos) e todas as situações típicas do evento: dificuldades em ir ao banheiro, as carteiradas nos camarotes Vips, o estrelismo dos artistas, a correria para pegar o melhor lugar. Nesse contexto, os personagens principais vão se revezando cada um com pequenos problemas para resolver sem ligação quase nenhuma entre eles.

O roteiro do filme se mostra incapaz de conseguir criar boas tramas para o quarteto protagonista. Enquanto Mari está ali para realçar a beleza da top model Gianne Albertonni e se envolve em um relacionamento insosso com um pseudo Marcelo Camelo (Rafael Infante), Aninha (Fernanda Souza) precisa ser uma completa inconsequente para desvendar os mistérios de uma cartomante (a canastrona Heloisa Perissé) e  exercer a organização dos camarins do festival. Tita (Andréia Horta) está no filme apenas para incluir Augusto Henrique (Marcelo Adnet) na história, pois, a personagem dela pouco tem a fazer. Por fim, Estrella (Débora Lamm) serve apenas de estereótipo do maconheiro sempre com a Kombi colorida, uma samambaia e uma referência musical pobre à tiracolo para cada situação. A ligação entre esses eixos não existe e parece que esse não era o objetivo.

Sem história para os personagens principais, resta apelar para uma série de tentativas de piadas. Como uma espécie de “Todo Mundo em Pânico” tupiniquim, sobram referências a filmes, programas de televisão e à cultura pop brasileira. Para se ter uma ideia, este filme consegue a proeza de reunir “Avenida Brasil”, “O Poderoso Chefão” e (acredite!) “Zorra Total” nos 90 minutos de projeção. Somos testemunhas de piadas de trocadilhos do tipo “IPad pode” ou momentos constrangedores com o cavalo de pau debaixo do cobertor do personagem de Nelson Freitas. Para piorar, a criatividade passa longe com a repetição de piadas como os casos do já citado “O Palhaço” e do agora bordão de Marcelo Adnet “vomito nos meus equipamentos”.

Quando aparenta caminhar para uma crítica certeira ao meio musical brasileiro, a produção se ressente de coragem para sacanear para valer os personagens abordados. Mazzeo e Infante até criam personas divertidas como o sertanejo Renan e o roqueiro metido a intelectual líder da banda Los Cunhados, respectivamente. Porém, a medida que vai passando o tempo e os personagens se mantêm em cena, percebe-se que o humor não vem de tiradas com a pobreza do discurso ou de como os fãs são surdos para gostar do lixo produzidos pelos artistas pop do Brasil. Tudo fica resumido a mera caricatura relacionada ao olhar blasé, cabelo cheio de gel ou piadas de banheiro.

Com uma patética atuação de Marco Luque (quem disse para esse rapaz que é comediante?), propagandas do Telecine a cada cinco minutos e uma direção de Felipe Joffily incapaz de traduzir o espírito de um festival de música ao optar sempre por planos fechados, “Muita Calma Nessa Hora 2” deixa a impressão clara de um trabalho caça-níqueis. Repetir piadas, não ter história, fazer merchandising ou contar com atuações fracas pouco importa. O público estará presente seja lá o que você for apresentar e com chances boas de dizer que o filme é ótimo, servindo apenas para divertir.

Fazer cinema assim, pelo visto, é fácil.

NOTA: 4,0