Muita gente diz que a Academia de Hollywood é uma instituição de gostos e valores antiquados, composta majoritariamente de homens brancos e de faixa etária elevada. Bem, a vitória de Green Book no Oscar, que acabou de levar o prêmio maior da noite, o de Melhor Filme, não vai ajudar a mudar essa percepção. Trata-se de um filme até divertido num estilo “sessão da tarde”, mas raso e que aborda de maneira simplória o grande problema da sociedade norte-americana, o racismo, apoiado em duas indiscutíveis boas atuações – onde já vimos isso antes? Ah, certo, foi em Conduzindo Miss Daisy (1989) há 30 anos, também vencedor de Melhor Filme. Pelo menos não podemos dizer que falta coerência à Academia.

Ao longo da sua trajetória na temporada de premiações, Green Book ganhou o importante prêmio do Sindicato dos Produtores – o maior termômetro para o Oscar. E provou que polêmicas podem ser esquecidas – declarações islamofóbicas do roteirista; Viggo Mortensen usando a palavra “nigger” num debate pós-sessão; a família de Don Shirley dizendo que a história real não foi bem como aquela mostrada em tela – mas a emoção de um feel good movie, aquele que agrada ao grande público de maneira fácil, ah, isso é precioso. Num ano em que a Academia buscou se aproximar mais do gosto popular – de maneira até um pouco desesperada, eu diria – e se manter relevante, isso fez a diferença.

Só lamento pelo Spike Lee, que sofreu a indignidade de perder de novo para o Conduzindo Miss Daisy, quando ele, sim, fez um filme ousado e sem feel good sobre o tema do racismo nos EUA, Infiltrado na Klan. Naquela época a Academia poderia ter valorizado mais Faça a Coisa Certa (1989) de Lee, mas optou pelo seguro. 30 anos depois, o cinema ainda tem um bom caminho a percorrer.