Caio Pimenta aponta quais deveriam ser os indicados ao Oscar 2021 nas oito principais categorias da disputa. 

ROTEIRO ADAPTADO 

Para começar, essa lista de roteiro adaptado dá o tom do que você verá por aqui: alguns nomes fortes da temporada de premiações, outros esnobados e uma surpresa. 

Para mim, os indicados seriam “Uma Noite em Miami”, do Kemp Powers, “Nomadland”, da Chloé Zhao, “Estou Pensando em Acabar com Tudo”, do Charlie Kaufman, “First Cow”, da Kelly Reichart e Jonathan Raymond, e “O Homem Invisível”, do Leigh Whanell. 

Sim, “O Homem Invisível”. Acho que é um terror bem acima da média tendo como maior mérito trazer, dentro de uma história acessível e envolvente, discussões sérias como o relacionamento abusivo e machismo. 

Já “First Cow” traz um roteiro delicado ao abordar algo tão grande, como a construção da identidade de um país, dentro de uma história aparentemente simples. E “Estou Pensando em Acabar com Tudo” pode não ser o melhor trabalho do Kaufman, mas, ainda assim, mais instigante que 90% do que Hollywood costuma fazer. 

ROTEIRO ORIGINAL 

Esqueça “Mank” ou “Os Sete de Chicago”. Os indicados a Melhor Roteiro Original, na minha visão, deveriam ser estes aí: 

Bela Vingança”, da Emerald Fennell, “Soul”, do Pete Docter e Mike Jones, “Nunca Raramente às Vezes Sempre”, da Eliza Hittman, “Another Round”, do Thomas Vintenberg e Tobias Lindholm, e “Judas e o Messias Negro”, do Shaka King e Will Berson. 

Quebrando tabus e sem falsos moralismos, “Nunca” e “Another Round” pegam dois temas polêmicas e desafiam o público a todo momento. Para mim, uma miopia enorme da Academia estes dois trabalhos estarem praticamente sem chances. 

Pelo menos, “Bela Vingança” e sua ode feminista deve ser nomeada. Já “Soul” merece esta vaga com toda a engenhosidade de falar de algo tão abstrato de forma tão fluída e fácil. Apesar de não ser o meu favorito, “Judas e o Messias Negro” consegue trabalhar muito bem o suspense com ótimos personagens. 

ATRIZ COADJUVANTE 

As minhas indicadas em Melhor Atriz Coadjuvante seriam a Maria Bakalova, de “Borat 2”, Dominique Fishback, por “Judas e o Messias Negro”, Youn Yun-Jung, por “Minari”, Toni Collette, por “Estou Pensando em Acabar com Tudo” e a Talia Ryder, por “Nunca Raramente às Vezes Sempre”. 

Bakalova e a Jung roubam a cena a todo momento e, caso venham a perder no Oscar, sinceramente, será uma injustiça tremenda. Quando a Fishback, não dá para entender como vem sendo pouco cotada para a disputa, afinal, para o Kaluuya ganhar uma dimensão além da política, se deve muito à relação com a personagem dela. E o sofrimento de quem sabe que aquela história terá um final triste está presente em diversos momentos do trabalho. 

O delicioso estranhamento trazido pela Colette será novamente esnobado igual ocorrera em “Hereditário”. Já a Talia consegue representar tão bem o acolhimento e o apoio fundamental à personagem da Sidney Flanigan. A parceria das duas é grande parte do sucesso do “Nunca Raramente às Vezes Sempre”. 

MELHOR ATOR COADJUVANTE 

Os favoritos estão aqui na minha lista de Melhor Ator Coadjuvante: 

Deveriam ser nomeados o Daniel Kaluuya, por “Judas e o Messias Negro”, Leslie Odom Jr, de “Uma Noite em Miami”, Paul Raci, por “O Som do Silêncio”, Bill Murray, por “On the Rocks”, e o Orion Lee, por “First Cow”. 

Impossível fugir do Kaluuya e do Leslie nesta categoria. O mesmo deveria valer para o Paul Raci e o Bill Murray, porém, o primeiro não tem tanto nome e o segundo está em um filme que não decolou nesta temporada de premiações. 

Por fim, gostaria muito de ver o Orion Lee com toda a sua discrição singela nomeado por “First Cow”, mas, isso não vai acontecer. 

MELHOR ATRIZ 

Prepare-se para ficar chateado, mas, esta é a minha lista de indicadas a Melhor Atriz: 

Carey Mulligan, por “Bela Vingança”, Viola Davis, por “A Voz Suprema do Blues”, Sidney Flanigan, por “Nunca Raramente às Vezes Sempre”, Julia Garner, por “A Assistente” e Carrie Coon, por “The Nest” seriam nomeadas. 

‘Cadê a Frances McDormand e a Vanessa Kirby?’, você deve estar se perguntando. Sinto muito, mas, fico com as atuações arrebatadoras da Flanigan, Garner e da Coon. Aliás, a estrela de “The Nest” sequer ser cogitada não dá para entender: somente a cena de dança dela, de saco cheio do Jude Law, já valeria nomeação automática. 

Das favoritas, por mais que fique em segundo plano por conta da montagem questionável de “A Voz Suprema do Blues”, a Viola Davis é uma força da natureza em cena. Não tinha como deixá-la de fora. E a Carey Mulligan, bem, ela merece todos os prêmios. 

MELHOR ATOR 

Agora, eu não vou fugir tanto assim dos favoritos. Os meus indicados em Melhor Ator seriam estes: 

Chadwick Boseman, por “A Voz Suprema do Blues”, Riz Ahmed, por “O Som do Silêncio”, Delroy Lindo, por “Destacamento Blood”, Kingsley Ben-Adir, por “Uma Noite em Miami”, e o Mads Mikkelsen, por “Another Round”. 

Das surpresas da lista, se o Banderas representou os atores internacionais em 2020, o Mikkelsen merece herdar esse posto neste ano. Já o Kinglsey tem uma atuação econômica e sutil como pede o Malcolm X de “Uma Noite em Miami” servindo de contraponto a todos os outros nomeados da categoria. 

Por fim, só uma observação: ainda não vi “Meu Pai”, por isso, o Anthony Hopkins não está aqui na lista. Quando conseguir ver o filme, darei a minha opinião aqui para vocês. 

MELHOR DIREÇÃO 

Se você achou a lista do Globo de Ouro inclusiva, te aviso: a minha está muito mais. 

Para Melhor Direção, os meus indicados seriam a Eliza Hittman, por “Nunca Raramente às Vezes Sempre”, Kelly Reichart, por “First Cow”, Emerald Fennell, por “Bela Vingança”, Chloé Zhao, de “Nomadland”, e o Spike Lee, por “Destacamento Blood”. 

Que ano incrível para as mulheres! Quatro trabalhos gigantescos com abordagens completamente diferentes umas das outras e tocando em assuntos duros e universais com muita personalidade. Fico feliz pela Chloé e a Emerald que devem ser nomeadas, enquanto a Reichart e a Hittman, infelizmente, devem ser esnobadas. 

Já o Spike Lee, além de um ter feito mais um grande trabalho recente – aliás, é a melhor fase do diretor em 30 anos – há também o componente político de um sujeito fundamental pela luta dos direitos civis nos EUA. 

MELHOR FILME 

Chegamos, então, em Melhor Filme e, na minha visão, seria uma lista com oito filmes: 

Os indicados incluiriam “Nomadland”, “Uma Noite em Miami”, “Bela Vingança”, “O Som do Silêncio”, “Soul”, “Destacamento Blood”, “First Cow” e “Nunca Raramente às Vezes Sempre”. 

Desta turma, os filmes da Chloé Zhao, Regina King, Emerald Fennell e Darius Marder devem aparecer nomeados ao Oscar de Melhor Filme. Já a animação da Pixar e o drama de guerra do Spike Lee ainda são incertos. 

Dá para ficar muito claro o quanto não sou muito fã de “Mank”, “Relatos do Mundo”, “Os Sete de Chicago” ou “Minari”. Para mim, todos são, no máximo, bons filmes com destaques individuais, mas, no geral, coletivamente não chamam tanta atenção. 

E, novamente, uma pena as esnobadas para “First Cow” e “Nunca”.