A adolescência está longe de ser a fase mais fácil e otimista de passar no incrível jogo da vida. É uma fase arriscada para competidores, seus familiares e até mesmo seus joysticks. Para os pais e a sociedade, os competidores fazem drama em demasiado e a toa. Para os competidores, a sociedade e os pais os ignoram e não compreendem todas as dificuldades que enfrentam ao passar por esta etapa: mudanças hormonais, sociais e de identidade. Em meio a esse turbilhão de informações e vivências que se passa nesse estágio da vida, o certo é que um dia se olhará para trás e, na maioria dos casos, as risadas, lágrimas e tantas emoções desconcertantes e sinceras acompanharão a nostalgia e saudosismo que essa fase representa na vida de qualquer ser humano.

Dificilmente, a adolescência consegue ser um período sossegado da vida. Os adultos parecem esquecer que um dia passaram por ela e os adolescentes transformam tudo numa grande tragicomédia. Os ânimos estão constantemente altos, tanto positivamente, quanto negativamente. Não é a toa que os índices de suicídio nesta faixa etária aumentaram 40% em todo o mundo nos últimos anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, OMS. Dados alarmantes e que mostram o quanto é preciso ter um olhar sensível para a forma como funciona este estágio da vida, afinal todos que temos acima de 18 anos, um dia estivemos nele.

Um exemplo do olhar sensível dedicado à adolescência está no filme Quase 18 de Kelly Fremon. Além de dirigir, ela assina o roteiro trazendo uma trama que consegue imergir na adolescência com precisão, através dos dramas da adolescente Nadine, interpretada por Hailee Steinfeld, que sempre se sentiu desajustada e deslocada de todos os grupos que compõe a estratificação social do ensino médio, encontrando refúgio em sua única amiga, Krista (Haley Lu Richardson).

Fremon consegue printar o mundo através do olhar de um adolescente. Mostrando, que diferente dos últimos exemplares distribuídos, existem dramas adolescentes que podem ser engraçados usando situações cotidianas, bem aquém das tramas utópicas envolvendo essa fase que tanto tem dominado a sétima arte e ganhado legiões de fãs por ai. Além de construir uma trama com todos os elementos e inserções que orgulhariam John Hughes, Fremon entende o universo adolescente. Ela consegue transpassar a ideia do que a adolescência realmente se constitui: uma fase que se dramatiza tudo. Indo bem além desse conceito, já que ela não diminui esses dramas, porque entende, mais uma vez, a importância de toda a vivência e suas articulações do decorrer desta fase, o quanto o contexto em que se inserem os dramas adolescentes são importantes para a construção das pessoas e a maturação dos seres humanos. Esta é a vida. Não adianta olhar para adolescência e seus problemas esquecendo as nuances que envolvem seus jogadores.

Ao olhar para “Quase 18”, percebe-se o cuidado que se teve na construção da narrativa para assegurar este olhar mais sensível. A trama traz as figuras mais constantes na adolescência: o melhor amigo (a), o irmão (a) mais velho (Blake Jenner), os pais que não entendem o filho (Kyra Sedwick), o crush (Alexander Calvert), o professor-confidente-conselheiro (Woody Harrelson) e o amigo (a) que você pôs na friendzone (Hayden Szeto). E o mais importante é o quanto colocando todos esses personagens juntos, a trama realmente flui. A química entre o elenco é funcional, o que norteia dinamicidade e fluidez a condução da obra.

Hailee Steinfeld, que já mostrava a que veio em Bravura Indômita (2010), é o grande nome da película. Ela imerge em todas as situações que cercam Nadine levando o espectador a embarcar em seu estado de espírito e comprar a ideia de quem é a personagem. Não é a toa que a atriz foi indicada ao Globo de Ouro pela performance. Nadine é chata, birrenta, encrenqueira, excêntrica e perdida sobre sua própria identidade e tudo o que a envolve, e tudo isto pode ser lido nas expressões de Steinfeld sem ela precisar dizer uma palavra. Ela impõe um tom cômico, único e sem exageros a personagem que, como a maioria dos adolescentes com essas características, tornam Nadine irritante para os adultos, não só os que convivem com ela, mas os que assistem a película, também. Mais uma mostra do desempenho da atriz.

O destaque do filme também vai para Blake Jenner, que quebra os estereótipo e preconceitos que seu personagem poderia suscitar dando um tom mais sensível a Darian. Hayden Szeto também consegue arrancar alguns suspiros, risos e torcida com seu pretendente asiático, direto e amigável. E para completar, representando a ala adulta, Woody Harrelson pontua cada característica que o professor tem na vida da adolescente. Fala o que ela precisa ouvir, no tempo preciso, e nunca o que ela quer.

“Quase 18” tem um timing apurado. A edição é boa, consegue movimentar-se bem durante toda a película e sustentar o fôlego e a atenção do espectador. Os planos sequenciais trazem cortes que respeitam a inteligibilidade do espectador e brincam com o que é ver o mundo através da ótica de uma adolescente. O roteiro busca fugir do óbvio. As escolhas de Nadine não seguem a linha de raciocínio premeditada que outros dramas adolescentes acabam construindo, pelo contrário, a condução da personagem é surpreendente e não apenas a dela, mas dos que foram comentados aqui como destaques do longa-metragem. Até certo ponto isto funciona, mas demonstra uma perca de foco na trama central, embora retome no fim da obra.

Fremon delineia um típico drama adolescente que consegue arrancar a simpatia e identificação do público, principalmente daqueles que estão na faixa etária abordada na película. A diretora e roteirista consegue criar uma trama que carrega os conflitos adolescentes esboçados de maneira cômica, divertida que pouco beira ao clichê e carrega questionamentos sobre estar nessa fase e como agir diante das dramaticidades que são próprias neste contexto de decisões erradas, egocentrismo, incompreensão. Deixando evidente que ser adolescente não é fácil, principalmente se você não se ajusta na pirâmide social, mas é passageiro, basta mudar o ângulo que vem enxergando a vida.