“Heroína. Ícone. e Dissidente” esse é o subtítulo do documentário “RBG” sobre a vida e carreira da juíza da Suprema Corte Americana, Ruth Bader Ginsburg. Segundo favorito ao Oscar de Melhor Documentário, o longa-metragem dirigido e produzido por Betsy West e Julie Cohen tenta traçar a intensa trajetória daquela que foi a segunda mulher a ocupar uma posição no mais alto nível do sistema judiciário americano. De uma agente desafiadora da perpetuação das desigualdades de gênero à sua transformação em ícone pop na internet.

Construído sob uma linguagem simplificada, West e Cohen buscam desvendar o suporte por trás dessa personalidade com um histórico tão irreparável. Apresenta não só a aluna destacada, juíza e front na luta contra desigualdade de gênero, como também a filha de imigrantes judeus, o papel crucial do marido e sua paixão por ópera. Tudo isso condensado ao curioso encanto da internet, tão ávida de representações positivas dentro das posições de poder, que a atribuíram outro papel, o de estrela.

Contudo, mesmo com boa intenção o documentário não faz jus a figura. Os feitos de Ginsburg para os direitos civis das mulheres perdem o impacto pela escolha narrativa. A opção de relembrar a cada momento as alcunhas midiáticas dadas a ela ou o fascínio em torno da sua figura, ocupa o espaço que deveria ser usado para explorar sua luta e conquistas para as mulheres dentro do judiciário e para ativa participação na vida política.

O interesse do longa parece mais focado em atrair o público jovem ou entender o entusiasmo desse grupo em uma senhora de mais de 80 anos, o que por alguns minutos é interessante observar, mas para uma figura tão central e importante na mudança do status quo, acaba deixando de lado o que realmente importa: seu efetivo papel na história. Oscilando entre a companheira relação com o marido, seus casos mais enfáticos e sua presença na mídia, a narrativa não passa do superficial. Não alcança a significância e grandeza da sua jornada. Especialmente por falar sobre alguém tão fundamental em uma área ainda dominada por homens, cuja a diferença fica ainda mais dramática quando comparado cargos ocupados por indicação política aos de carreira.

Além disso, o esforço em relacionar Ruth Ginsburg a pessoas que só representam aquilo que ela se opunha e enfrentou durante toda sua vida enquanto mulher profissional e como cidadã, não é bem-vindo. Cria-se a sensação de querer desculpar sua constante dissidência dentro de um ambiente ainda opressivo. Ruth é muito mais que a personalidade icônica que a narrativa insiste em enfatizar, é a persistência de ruptura com instituições que insistem em nos colocar abaixo. Um filme pequeno para alguém tão Notória, como o meme sugere.