A mítica figura de Joana D’Arc sempre mexeu com o imaginário coletivo, seja pelas inúmeras retratações na arte da sua breve mas intensa vida, como pela fascinação instantânea com ela. Nessa nova representação feita cineasta Bruno Dumont, de “Camille Claudel, 1915”, a história da heroína francesa recebe toda originalidade característica do francês, que faz questão de ser fora da curva de tudo aquilo já criado sobre Joana D’Arc. O diretor segue os anos anteriores a jovem mulher se unir às forças da França para lutar contra a invasão inglesa. Com um tom peculiar e provocador, Dumont conta a parte pouco contada da história da mártir católica. Por esse e outros motivos, preparei essa pequena lista de três motivos para assistir Jeannette.

CINEBIOGRAFIA NADA TRADICIONAL 

Um dos pontos altos do filme é exatamente a falta de comprometimento com a narrativa histórica convencional. Pelo contrário, as escolhas de Bruno Dumont demonstram o total desprendimento do francês com o que supostamente constitui um bom roteiro. Com uma estrutura diversificada, “Jeannette” mescla elementos opostos sem parecer desconexa. O aspecto teatral, a musicalidade e o ritmo comprovam o valor criativo e único do trabalho, além de toda licença poética empregada pelo cineasta ao contar mais uma vez essa história.

MUSICAL DE PRIMEIRA

 “Jeannette” é acima de tudo um musical, mas não qualquer musical. Com muito mais melodias que diálogos, a história é contada nas letras cantadas pelos personagens no melhor do heavy metal e do rap. As súplicas aos céus e as conversas com Deus são traduzidas por uma Joana D’Arc metaleira batendo cabeça, e no tio rapper da jovem. O canto amador é combinado com atitudes performáticas totalmente livres e sem coesão, mas que pelo talento de Dumont acompanham muito bem a execução do filme e garantem o riso.

O SAGRADO E O CÔMICO

Outro grande destaque é o uso do cômico para falar do divino, o diretor usa recursos totalmente opostos a austeridade do assunto. A protagonista canta, dança e faz headbanging enquanto ouve o chamado e roga ao Senhor. Por mais contraditório que seja, o francês faz essa interseção sem ridicularizar a fé ou o sagrado. Não há essa intenção, pelo contrário, ele quebra os padrões e a aura que seguem a figura de Joana D’Arc, para criar uma experiência fílmica divertida, mas que preserva sua qualidade sublime.