Lá se vão doze anos que Dwayne Johnson largou a bem-sucedida carreira de lutador na World Wrestling Entertainment (WWE), talvez a liga de luta encenada (estilo Telecatch, alguém?) mais famosa do mundo, por uma carreira desacreditada, quase ridicularizada, em Hollywood – e para se revelar uma grata surpresa como comediante e estrela de ação, postos onde ele se mantém firme e forte, enquanto colegas como Vin Diesel e Jason Statham suam os peitorais em produções B e C (fora a série Velozes e Furiosos, claro).

A provar que o domínio do ator continua intacto – seu último trabalho, Terremoto: A Falha de San Andreas (2015), era um divertido e eficiente filme-catástrofe, com uma renda vultosa na bilheteria –, é Dwayne quem puxa os bons momentos da comédia Um Espião e Meio, o novo filme do diretor Rawson Marshall Thurber (de Família do Bagulho). A química com o parceiro de cena, Kevin Hart (de Um Voo Muito Louco e Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família) é praticamente a única razão pra se assistir ao filme, uma comédia fraquinha, com grandes problemas de ritmo.

Johnson vive Robbie Wheirdicht (a sonoridade do sobrenome, em inglês, já é de saída uma piada ruim), um aluno obeso e perseguido pelos colegas na escola onde Calvin Joyner (Hart) é rei: carismático, popular, brilhante nos estudos e nos esportes, eleito o estudante com mais chances de vencer na vida. Numa homenagem a Joyner, Wheirdicht é arrancado do chuveiro e arremessado, nu, na quadra de esportes, e só Hart é sensível à humilhação do colega. Passam-se vinte anos, e, às vésperas de uma reunião da turma de Calvin e Robbie, o primeiro recebe uma mensagem de um homem misterioso chamado Bob Stone – que se revela ninguém menos que Wheirdicht, repaginado e hipertrofiado como um espião da CIA, que precisa da ajuda de Joyner para localizar um criminoso que quer vender os códigos operacionais dos satélites americanos.

Como se vê, há duas tramas em jogo: a do trauma de Wheirdicht/Stone, que define a relação deste com Joyner ao longo de todo o filme; e a de ação, convencional, o painel onde Johnson pode exercitar o que sabe fazer melhor. Na verdade, nem tanto: Um Espião e Meio é, bem mais que um filme de ação (medíocre), uma ótima demonstração das habilidades cômicas de Johnson, remetendo a filmes como Be Cool: O Outro Nome do Jogo (2005) e o trabalho brilhante (sim!) em Sem Dor, Sem Ganho (2013). Hart, um comediante notável por si só, serve a maior parte do tempo de escada para o colega bombado, com ótimos resultados, como na sequência da terapia. O contraste entre o baixinho de voz fina e o gigante musculoso também faz render as cenas de pancadaria, a ponto de quase redimir as gags banais, a trama confusa e o ritmo quase bipolar do filme, que intercala momentos de preguiça, onde nada acontece, com cenas hiperativas de correria e tiroteios.

Infelizmente, o saldo é somente esse: correto e bem intencionado no tema (ainda que sua crítica ao bullying parta do efeito cômico de se ver Johnson como um obeso nu, à Eddie Murphy), com um ótimo par central e trama e direção absolutamente indiferentes, mecânicos. Um filme-passatempo, longe das qualidades que o rótulo pode alcançar, mas não um filme desprezível – Johnson e Hart funcionam tão bem juntos que o filme tem boas chances de emplacar novas parcerias, e, à falta de melhores comédias na temporada, esta aqui não vai fazer feio.