Lançado em 1998, o filme ‘Ação entre amigos’ é o segundo filme dirigido por Beto Brant e sua segunda colaboração com o roteirista Marçal Aquino. Desde os primeiros minutos, através de interessantes créditos iniciais, podemos notar que o filme que vai falar de passado, de traumas e principalmente do período da Ditadura Militar no Brasil.

Logo após os créditos o diretor já mergulha literalmente o personagem em um mar de lembranças ruins. Amarrado e além de estar se afogando, flashes de traumas do passado martelam sua mente – prisão e tortura – e ao acordar, Oswaldo (Genézio Barros), ainda sente falta de ar, essa atitude vai se refletir em diversos momentos do filme, incluindo seu final. Não se espante em encontrar outros momentos simbólicos durante o filme. Em certo momento os personagens são detidos pelos militares, logo em seguida é mostrada uma pia suja cheia de água, remetendo a um espaço de tortura. Entretanto, nos damos conta de que estamos a salvo em uma borracharia no presente.

Na história, quatro amigos, entre eles Oswaldo, resolvem sair em um final de semana pra pescar, porém um deles tem um plano diferente. Os quatro no passado participaram do movimento contra a ditadura, e ao tentarem assaltar um banco de maneira atrapalhada – para ajudar na causa – todos do bando são presos, além da detenção, a tortura fez parte da vida carcerária. Já no presente, Miguel (Zé Carlos Machado) descobre que o torturador está vivo e convida os outros três para executar o seu plano de vingança.

Não tem como negar o aspecto de Road Movie que o filme possui. O roteiro não perde a oportunidade, e aproveita o momento que os personagens estão na estrada pra estabelecer a intimidade que existe entre eles, e fazer com que o espectador empatia por todos. Cada um possui personalidades distintas e se comportam de maneiras diferentes com a ideia de vingança. Não deixa de ser reflexivo em certo momento, um dos personagens disparar contra a ideia de encontrar o torturador: “Já se passaram 25 anos! Nós já vivemos mais de lá para cá do que tínhamos vivido até então”.

Outro ponto a se elogiar é a trilha de André Abujamra, que pontua cada momento importante da trama, auxiliando a criar uma atmosfera de inquietude e expectativa, do que está acontecendo ou estar por vir. Talvez o elemento mais fraco a se relevar seja a parte do elenco que interpreta as versões mais jovens dos personagens, principalmente Rodrigo Brassoloto – que interpreta o jovem Miguel – diálogos e surtos histéricos artificiais quase que comprometem os flashbacks, o que não acontece graças ao impacto de uma cena relacionada a tortura, e claro, ao talento dos mais velhos no presente.

Com uma virada inesperada ao final, depois que enfim os torturados encontram o torturador e verdades vem à tona, a amizade dos protagonistas não sai ilesa. Para muitos o desfecho pode parecer anticlimático, mas prefiro encarar esse momento como um sentimento compartilhado dos personagens com o público, como se fosse expectativa versus realidade. Com a expectativa quebrada, a perda do controle da situação foi apenas a questão de tempo, o que deixa a conclusão ainda mais forte e surpreendente.  Um filme que faz parte de uma filmografia que vale muito a pena uma conferida.