Diego Bauer

Mais um Amazonas Film Festival, meu momento favorito no ano, junto com o Festival de Teatro. Chance de acompanhar filmes que certamente não chegarão aos cinemas daqui, visitar todos os dias o espetacular Teatro Amazonas, além de poder sentir esse clima especial que um festival proporciona aos seus espectadores. Bom, introdução feita, vamos ao que interessa.

PONTO FORTE: Como já é costume, a categoria internacional do festival sempre conta com excelentes opções, e mais uma vez, este ano não foi diferente. Filmes bem atraentes como Lunchbox, Wajma e Entre Nós dividiram espaço com o excepcional Pelo Malo de Mariana Rondón. Mas ainda assim, nada foi tão impactante, verdadeiro e poderoso como Tatuagem de Hilton Lacerda. Um filme único, que pelo AMOR DE DEUS precisa ser visto pelo maior número de pessoas possível. Vi neste festival o melhor curta-metragem que tenho na memória, o brilhante Au Revoir, de Milena Times, um filme que certamente deixaria Bergman orgulhoso. Além disso, Anos de Luz é a prova do amadurecimento de Aldemar Matias, o nome de maior talento e sensibilidade do cinema amazonense.

PONTO FRACO: O Cine Set vem a algum tempo ressaltando a evolução que o cinema amazonense vem alcançando nos últimos anos, mas não se pode deixar de falar que a categoria Amazonas foi muito, muito fraca. Com exceção de Anos de Luz, Jardim de Percevejos, Watyama, Germes e A Lista, o que se viu foi um desfile de filmes feitos para ser qualquer coisa, menos cinema. Reportagens, exercícios de faculdade, registros de acontecimentos urbanos imediatos e divagações absurdas foram vistas em vez disso, fazendo com que a categoria voltasse alguns anos no tempo. Então, creio que o ponto fraco do festival foi a curadoria da Mostra Amazonas, realizada por Guilherme Whitaker e Torquato Joel, que mostrou-se extremamente questionável, ainda mais quando filmes de qualidade muito superior a alguns dos selecionados ficaram de fora. Realmente lamentável. Além disso, o júri internacional deixar de fora da premiação Tatuagem e Pelo Malo, os dois melhores filmes do festival… é algo inexplicável.

SURPRESA: Francis Madson e Rafael Lima. Quer dizer, fica bem difícil falar que Francis Madson é uma surpresa, visto que ele já é um dos nomes mais relevantes do teatro amazonense tendo, apesar da pouca idade, um trabalho extremamente conceituado e instigante. Mas no cinema ele ainda é um novato, e logo em seu primeiro filme, Jardim de Percevejos, chegou colocando o pé na porta, e com uma personalidade muito forte, como era de se esperar, realizou o melhor curta amazonense de ficção deste ano com sobras. Junto com ele outro estreante, Rafael Lima, que dirigiu o curta mais divertido deste festival, com muita inteligência e dignidade. É muito, muito bacana ver Lima ganhando todos os prêmios que ganhou, pois sente-se que isso não vai torná-lo um arrogante metido a besta (como já tem muitos por aí neste festival), mas sim que isso servirá pra que ele continue com humildade e continuando a realizar outros belos trabalhos.

Renildo Rodrigues

O AFF desse ano pode ser considerado o mais importante de todos para o cinema amazonense – mesmo que ao preço de uma queda na visibilidade do evento. Com prêmios maiores e uma seleção bastante generosa de curtas-metragens (tão generosa, por sinal, que incluiu desde obras de um minuto até três trabalhos de uma mesma cineasta), a edição de 2013 comprova a consolidação da produção local, mesmo que o conteúdo ainda não esteja à altura.

Já a Mostra Internacional trouxe uma seleção bastante interessante, para justificar a espera anual dos cinéfilos, que muito provavelmente não vão ver quase nenhum deles em cinemas comerciais. Lamentavelmente, perdi a exibição de “Tatuagem”, mas o surpreendente “Entre Nós” e o angustiante “Cabelo Ruim” vão ficar entre as coisas boas que vi em 2013.

Ponto positivo: O trabalho de formação dos alunos do Jovem Cidadão e o espaço dado aos realizadores locais mostram a preocupação da SEC em valorizar o talento local. Parabéns!

Ponto negativo: embora acrescente pouco do ponto de vista artístico, a presença de celebridades televisivas chama público e empresta visibilidade nacional ao Festival. Abolir essa participação, mesmo que para dar mais dinheiro às produções locais, é uma decisão, a meu ver, radical.

Surpresa: “Jardim de Percevejos”. Com suas imagens perturbadoras, mas hipnóticas, e uma trama de apelo inquietante, o primeiro filme de Francis Madson revela um grande talento para o cinema do estado.

Susy Freitas

Os curtas deram o gostinho de descoberta para os cinéfilos mais que os longas nesse AFF. A história singela e a delicadeza da direção de Thais Fushinaga em “Os irmãos Mai” chamou minha atenção. Tanto esse curta quanto “O quinto andar”, de Marco Nick, sintetizou algo que ainda faltou a maioria dos curtas amazonenses desse ano: a capacidade de tocar o espectador a partir de poucos e sutis elementos.

Falando em curta amazonense, “Fora do Eixo”, de Marcos Tubarão, passou batido para muitos, mas considero um dos mais provocativos do festival, tanto em forma como conteúdo. O discurso caótico e non-sense sintetiza o espírito do Sirrose com a narração (ou seria viagem?) de Marcio Santana, embora o movimento literário local não seja o tema do documentário. O tratamento da imagem, calcado nos contrastes, casa perfeitamente com o clima de opressão e pesadelo do roteiro.

Outro ponto interessante é que tanto “Fora do Eixo” como o premiado “Germes” trazem consigo um senso de identidade local implícito (ainda que urbano) sem se utilizar dos clichês vistos em, para citar apenas um exemplo, “Um braço de rio no quintal”, de Dheik Praia.