Em uma semana em que o número de estreias nos cinemas em Manaus atingiu a impressionante marca de oito filmes, “Fragmentos de paixão” é um curioso exemplar nas salas da cidade. Ao passo que o documentário nacional peca pelo formato muito próximo ao dos programas televisivos, ele traz para discussão um tema que parece ser extremamente corriqueiro, mas que estranhamente afeta a vida de muitos brasileiros: a alta incidência de raios em nosso país.

“Fragmentos de paixão” apresenta ao espectador dados acerca do perigoso fenômeno natural, que chega a matar 130 pessoas por ano no Brasil. O documentário foi dirigido por Iara Cardoso e é apresentado por seu marido, o cientista Osmar Pinto Junior, que atua como entrevistador e condutor do espectador dentre depoimentos e muito conteúdo de pesquisas científicas. Dentre os relatos expostos no documentário, estão os de pessoas que tiveram a vida afetada por raios, como o policial que convive com as sequelas de ter sido atingido por um raio até a simpática história do homem que conheceu sua futura esposa quando esta o socorreu após ele ter sido vitimado por um raio.

Por mais que o tema do documentário se revele interessante, a direção dura da jornalista Iara Cardoso não acerta a levada do filme. Dessa maneira, importantes informações são passadas em vários momentos com a sutileza de um gráfico de telejornal, além de serem expostas repetidamente. Para citar apenas um exemplo, é falado quatro vezes que o pesquisador Henrique Morize fez o primeiro registro fotográfico de um raio num intervalo de tempo de cerca de dez minutos.

As redundâncias também se dão no plano visual, quando a diretora opta por cenas óbvias. Uma delas se repete quando mostra Osmar Pinto Junior dentro de um avião só para tornar claro (de maneira desnecessária) que ele viajou para diferentes estados em sua pesquisa para o documentário, apesar de isso ser explicado pela narração em off do cientista e por intertítulos.  O áudio também se prejudica pela narração em off quase ininterrupta, seja na voz de Osmar, seja na de uma narradora não identificada, o que deixa uma atmosfera estranha a já estranha experiência de ver um documentário com cara de vídeo institucional no cinema.

Os depoimentos, que poderiam dar mais identidade ao documentário, também não são integrados de forma a gerar muita afeição ou curiosidade acerca das personagens. As falas são extremamente breves e que, no geral, perdem o fator surpresa pelo fato de Osmar Pinto Junior acabar explicando, de antemão, tudo que o entrevistado lhe fala alguns minutos depois. Além disso, os depoimentos são muito breves e sem naturalidade, uma vez que o pesquisador parece conduzi-los de forma a obter falas pré-determinadas, o que se configura num problema mais de direção que do próprio cientista, que não é devidamente orientado sobre como proceder.

“Fragmentos de paixão” é um ótimo exemplo de que como as peculiaridades da linguagem cinematográfica devem sempre levadas em consideração pelos realizadores tanto de documentários como por qualquer um que se interesse por transpor obras de uma mídia para o cinema. Por mais que a temática do filme seja relevante e a produção de um conteúdo de difusão científica que seja inteligível para o público em geral seja louvável, o caráter de cinema em si não foi devidamente respeitado e enfraqueceu bastante o produto final.

Nota: 5,0