“Killer Joe – Matador de alugel” pode ser considerado o retorno de dois nomes de grande talento que andavam meio apagados nesses últimos tempos: o do diretor William Friedkin e o do ator Mathew McConaughey. Com um drama pra lá de bizarro, ambos mostram que ainda garantem boas surpresas em suas devidas funções na indústria do cinema.

Na trama de “Killer Joe”, McConaughey é o intragável detetive e matador de aluguel Joe Cooper. Ele é contratado para matar a mãe do atrapalhado traficante Chris (Emile Hirsch) pelo próprio jovem. O motivo: a mãe de Chris vendeu sua droga e ficou com o dinheiro, deixando-o em maus lençóis com seus “superiores”. Para assegurar o pagamento pelo assassinato, Joe pede Dottie (Juno Temple), a irmã mais nova de Chris, como “garantia”, uma vez que a mãe da moça tem um seguro de 50 mil dólares em seu nome. O acordo cria uma série de situações violentas e que, sem dúvida, mostram o quão disfuncional a família de Chris é.

Sabe aquela sensação de que você está vendo algo grotesco, mas não consegue parar de olhar? É isso que a direção de William Friedkin garante ao espectador em alguns momentos de maior violência física e psicológica no filme. Elas não dominam o filme, mas o impacto dessas cenas mostra que o diretor não perdeu a mão desde seus tempos de “O Exorcista” (1973). Embora afirme não ter se prendido tanto à fase de ensaios com a mesma intensidade que em seu clássico do terror, fica claro que, tal como em “O Exorcista”, Friedkin prepara lentamente o terreno de “Killer Joe” para seu ápice de violência, com a degradação dos valores familiares servindo de alicerce.

Além de Friedkin, o ator Mathew McConaughey é outro que surpreende. Em meados dos anos 1990, ele chamou a atenção em “Tempo de matar” (1996), consolidando a boa fase com “Contato” (1997), “Amistad” (1997) e “Ed TV” (1999). Porém, nos anos 2000, a infinidade de comédias românticas fez o público esquecer que McConaughey era capaz de sair do piloto automático, tornando-o mais conhecido por seu sorriso perfeito e barriga “tanquinho”. Por sorte, ele se envolveu em “Killer Joe – Matador de aluguel” e lembrou a todos que consegue ser um ótimo ator, apagando completamente a imagem de galã.

Apesar do brilho de McConaughey ressurgindo das cinzas das comédias românticas, deve-se dar o devido crédito ao resto do elenco de “Killer Joe – Matador de Aluguel”. Thomas Haden Church também rouba a cena como Ansel, pai de Chris e um dos pais mais relapsos da história do cinema. É ele que traz certo alívio cômico com sua cegueira perante a série de situações que Chris mete a família e que obviamente darão errado. Embora até fique um pouco apagado perante McConaughey e Haden Church, Hirsch não faz feio e garante mais uma boa atuação como Chris, ora transparecendo certa frieza, ora garantindo ao espectador que ele será engolido pelo turbilhão de violência que ele mesmo deu início.

Que o espectador fique avisado: se você adorou “Como perder um homem em 10 dias” (2003), “Armações do amor” (2006), “Um amor de tesouro” (2008) ou “minhas adoráveis ex-namoradas” (2009) fuja de “Killer Joe – Matador de Aluguel”. Tudo, absolutamente tudo no personagem-título é detestável, dos pequenos trejeitos até às chamativas roupas de couro, sem contar seu claro sadismo. Quem duvidar disso, que aguente o nojo dos últimos trinta minutos do filme. Não há violência gráfica, chuveirinhos de sangue entrecortados por uma montagem alucinante à La Tarantino; tudo parece muito real, do fracasso das personagens enquanto seres humanos ao desfecho de morte, fúria e absurdo.

NOTA:8,0