A médium Sophie (Emma Stone) utiliza uma prática comum para conquistar novos adoradores: explorar fragilidades. Nada melhor que apontar caminhos inesperados para uma pessoa infeliz ou com graves problemas. Toda a racionalidade do homem e engenhosidade ainda não criaram métodos para sermos felizes e, por isso, soluções milagrosas de alegria e paz nos caem tão bem. E quem não deseja estar satisfeito ou, pelo menos, ter alívio para a tristeza? Até mesmo o mais racional dos homens busca isso. Em “Magia ao Luar”, esse sujeito atende pelo nome de Stanley (Colin Firth).

Dane-se a lógica e o bom senso de uma pessoa que julga ser estas as suas virtudes: quando Sophie começa a trazer ilusões de um possível mundo desconhecido e mais mágico, o protagonista sente ser esta a possibilidade de ver tudo sob uma ótica menos pragmática e mais possível. Contribui para essa crença uma vida repleta de traumas familiares, “amaldiçoado” por um padre, noivo sem saber se realmente gosta da companheira, insatisfeito com todos os colegas de trabalho e com desconfianças contínuas do ser humano.

Conhecido por ser um judeu ateu, Woody Allen não perde a oportunidade de mostrar como a crença em Deus continua sendo algo vazia e sem sentido, exemplificada em uma bela cena com Colin Firth em um hospital. A ilusão, entretanto, não chega a ser condenada e, na verdade, acaba sendo a chave para uma existência mais plena.

Seja na mágica de um inglês vestido de chinês para enganar a plateia a partir de uma série de truques ou com a exibição de um filme dentro do cinema levando atores atuais para a década de 1920 e escondendo toda a parte técnica da produção, o ser humano precisa da ilusão e de magia nesse mundo. Um universo paralelo da consciência criativa. Ou terá que viver em uma rabugice eterna como Stanley acaba sendo em grande parte do longa.

Longe de ser o melhor Woody Allen dos últimos anos (isso fica para “Match Point” e “Meia-Noite em Paris”), “Magia ao Luar” falha ao trazer uma trama batida e sem grandes surpresas, um casal principal que não convence muito (Colin Firth parece o pai de Emma Stone), soluções óbvias (Firth passa a vestir branco ao ficar de bem com a vida e tomadas com o sol ao fundo se proliferam) e deixar a ótima Marcia Gay Harden sem função. O longa, porém, consegue superar os problemas com o embate entre razão e ilusão dentro das nossas fragilidades na luta para somente ser feliz, sentimento dos mais irracionais.