Ultimamente, parece que possuir uma franquia de sucesso, ou uma ideia para um filme capaz de viralizar na internet, é tudo o que importa para os estúdios de Hollywood.

O número de flops constrangedores de filmes pegando carona em sucessos do passado (Independence Day mais do que todos) ou de novas histórias sem um mínimo de originalidade e inteligência, que só podem supor uma visão imbecilizante do público (o novo A Múmia), deveria servir de alerta para os homens que apertam os botões, mas não. A equipe por trás de Meu Malvado Favorito 3, por exemplo, pode relaxar na lealdade irrestrita das crianças pequenas, que veneram Gru, os Minions e companhia, e promete lotar os cinemas de qualquer modo. Pra quê, eles poderiam perguntar, pensar em coisas como renovar e desenvolver os elementos que fizeram do filme original um sucesso em primeiro lugar?

Sem ser um desastre completo como os dois filmes citados acima, Malvado 3 tem muito pouco a oferecer a seu público-alvo, até aqui infalível no apreço ao ritmo agitado e à verdadeira festa de cores que são as marcas registradas da série. Elas continuam lá, em lances como a bola de chiclete inflável do vilão Balthazar Bratt (voz de Trey Parker, de South Park, no original americano [os fãs do desenho só podem imaginar como ele avacalharia tudo com sua imaginação anárquica – mas as crianças ficariam a uma distância segura do filme]), a mansão do irmão-gêmeo de Gru, Dru (ambos vividos por Steve Carell), ou as sequências hiperativas envolvendo os Minions, mas incapazes de mascarar as tramas e os personagens cada vez mais óbvios e sem personalidade.

Desta vez, Gru, agora com a família completa após a chegada da espevitada Lucy (voz de Kristen Wiig), mudou de lado e juntou-se à Liga Anti-Vilão, o órgão governamental que persegue os maiores gênios do mal em atividade. Mesmo com toda a experiência, porém, ele falha em capturar Bratt, um ex-ator mirim de grande sucesso nos anos 1980, que foi dispensado com as mudanças da puberdade e jurou vingança a Hollywood. Vestindo um terno roxo com ombreiras e um mullet, e utilizando chicletes, raios laser e muita música daquela época, Bratt busca um diamante que fará funcionar um robô gigante, com o qual pretende esmagar a cidade do cinema. E ainda há Dru, o irmão de Gru. Hostilizado pelo pai por não ter se tornado um vilão como o irmão (sem que Gru, que nunca conheceu o pai, soubesse, ele também era um vilão vocacional), o loiro, delicado e atrapalhado Dru pede ao irmão que o ajude a se tornar o mais novo gênio do mal da família.

Como se vê, as motivações dos novos personagens não são lá essas coisas, mas nem é esse o problema: é a pobreza do desenvolvimento das situações e diálogos. Gru e Dru, que têm o maior tempo em cena, se saem melhor, mas Dru é basicamente uma escada para as diversas gags envolvendo ele e o irmão. A escolha de Bratt como vilão parece um aceno para os pais e babás dos pequenos, que são os únicos que irão entender e apreciar as inúmeras referências aos anos 1980. O confuso nisso é que Meu Malvado Favorito nunca foi para esse público, o que torna difícil justificar as insistentes piadas envolvendo ícones kitsch daqueles tempos – seriados de TV, brinquedos, acessórios de moda, e por aí vai. Em meio a tudo isso, o filme tenta não descuidar dos demais personagens, criando subtramas individuais para quase todos – e diluindo mais ainda a força do arco principal. Os momentos que mostram Lucy aprendendo a ser uma mãe para as filhas de Gru são ok, mas as histórias das próprias meninas só arrastam o filme, com a chatíssima subtrama da busca de Agnes por um unicórnio, ou a do cortejo de Margo por um garoto do país fictício do filme, Freedonia.

E – supremo pecado – o pouco tempo em cena dos Minions. Não sei se a Illumination, o estúdio por trás da animação, anda injuriada com toda a demanda por mais e melhores esquetes dos bichinhos amarelos, mas para mim, e acredito que para todo mundo, reduzir a participação dos Minions é um golpe duro no nível de ânimo e no próprio interesse por Malvado 3. No início do filme, saudosos dos tempos de vilania de Gru, eles impõem um ultimato ao chefe – ou ele volta a ser o terror da humanidade ou eles vão embora. Ato contínuo, eles partem numa jornada que, como sempre, rende as melhores cenas da produção: os esquetes do reality musical e da prisão reafirmam que os Minions, mesmo depois da superexposição no filme dedicado somente a eles, ainda são uma das coisas mais eficientes da comédia cinematográfica atual.

Infelizmente, com menos Minions e mais momentos pouco originais, ou interessantes, de interação entre os personagens humanos, Meu Malvado Favorito 3 só confirma que a sorte de emplacar uma franquia de sucesso é a razão de ser, e a não a consequência, para os criadores das aventuras de Gru e companhia. Está na hora de começar a devolver às crianças as razões para o entusiasmo que elas demonstraram no primeiro capítulo.