É sempre interessante, semanas antes da cerimônia do Oscar, acompanhar os filmes indicados nas principais categorias, ver se os que estão com maior buzz realmente merecem tal reconhecimento, além de escolher um longa favorito para torcer no dia da premiação (e depois se decepcionar por ele não ter uma campanha publicitária que o faça vencer).

Morando em Manaus, a cada ano que passa fica mais difícil acompanhar esses trabalhos, que não chegam à cidade. Mesmo assim, a curiosidade dos cinéfilos manauaras é mais forte do que a inoperância das redes de cinema da cidade, e sempre se encontra uma maneira de assistir aos filmes.

Um olhar interessante de ser observado é o dos realizadores locais, que podem estar longe de ter as condições de trabalho que os filmes mais badalados de Hollywood possuem, mas ainda assim têm bagagem cultural suficiente para opinar sobre os trabalhos indicados, e o seu contexto financeiro, histórico e narrativo.

Dito isto, conversei com alguns realizadores de curtas e longas-metragens de Manaus, querendo saber qual é, dentre os títulos indicados a Melhor Filme, o seu favorito no Oscar 2015. Além disso, os realizadores também deviam dizer qual longa, dentre todos os vencedores da categoria de Melhor Filme do Oscar em todas as suas edições, era o seu favorito.

As respostas seguem abaixo.

A Noviça Rebelde oscar

Aldemar Matias: Confesso que não sou muito de Oscar e cada vez me interessa menos… Não baixo os filmes enquanto estão em cartaz na esperança de vê-los no cinema. E Manaus não ajuda, né… Mas entre os melhores de todos os tempos dos que ganharam Oscar, fico entre “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “A Noviça Rebelde”. E “Se Meu Apartamento Falasse” também.

O Grande Hotel Budapeste oscar 2015

Emerson Medina: Eu vi poucos candidatos. “O Grande Hotel Budapeste”, dos que vi, é o meu preferido. O uso de técnicas artesanais (maquetes, marionetes), a direção de arte agradabilíssima para contar uma história sobre o fim de uma era que está no nosso imaginário como Belle Époque. Uma era de cavalheirismo onde mesmo entre ladrões havia algum código a ser respeitado. Uma era que sobreviveu a uma Guerra Mundial para sucumbir a outra, como bem mostrado nas sequências dos trens.

Agora a minha torcida mesmo é para o hermano “Relatos Selvagens” por unir uma abordagem da natureza violenta do ser humano (ou a propensão a ela) com ironia.

Annie Hall Noivo Neurótico, Noiva Nervosa Oscar

Moacyr Massulo: Filme favorito em 2015: “O Grande Hotel Budapeste”. Dos cineastas americanos em atividade Wes Anderson é o meu preferido. Tem um trabalho autoral, com estilo e direção únicos. Admiro toda a filmografia. Porém, acho que ainda não vai ser esse ano que ele leva melhor filme. “Boyhood” e “Birdman” têm mais a cara da Academia.

E o filme favorito de todos os melhores filmes do Oscar é: “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, do Woody Allen. Foi premiado em 78, como melhor filme, diretor, atriz e roteiro. É a história de relacionamentos mais sublime que já vi. Até hoje a trama permanece atual. É Woody Allen no auge da criatividade.

Onde Os Fracos Não Tem Vez Oscar

Rafael Ramos: “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Tem uma coisa engraçada nisso, foi o único filme que não tinha assistido até a noite da premiação, dos candidatos a melhor filme. Bizarro!  Então naquela dia lembro bem que a minha torcida era pro “Sangue Negro”. Fotografia, trilha do Greenwood, atuação soberba do Day-Lewis, difícil acreditar que tinha um filme tão bom ou até melhor que o do PTA, né? Enfim, me frustrei na noite, mas depois de algumas semanas assisti ao filme dos Coen e… fiquei perplexo. Que filme foda! Que duelo sensacional no Oscar de 2008. Difícil dizer – os dois filmes são impecáveis -, mas o Chigurh do Bardem pra mim é o ponto de desequilibro. Se tenho uma frustração no cinema é não ter visto esse filme no cinema. E passou em Manaus, né.

Birdman Oscar 2015 Michael keaton Edward Norton

Rod Castro: Durante muito tempo da minha vida, época em que eu escrevia sobre cinema para jornais de Manaus e participava dos programas de rádio do Joaquim Marinho, levei o Oscar muito a sério. Esse posicionamento não se repete mais. Assisto aos filmes, mas não me cobro de assistir a todos, como antigamente. Dos que vi esse ano, fico entre três, em ordem de preferência: “O Grande Hotel Budapeste” (o melhor filme do Wes Anderson), “Birdman” (grande trabalho do Alejandro González Iñárritu) e o sensacional “Whiplash” (do jovem Damien Chazelle). Qualquer um dos três que levar, já vou gostar – acho difícil, mas o Anderson ganhando seria uma bela imagem para o cinema contemporâneo. Se Iñárritu levar, será a consagração de mais um dos “los tres amigos” (Cuarón, Iñárritu e Guillermo del Toro, que começaram juntos e sempre colaboram entre si – que fique de exemplo) e Hollywood estaria, mais uma vez, consagrando o cinema técnico – os planos sequência de Birdman são tão bem elaborados quanto os de “Gravidade”.

Dos filmes que já venceram o Oscar, cito o “Lawrence da Arábia” que é um dos meus 3 filmes favoritos de toda a vida. A obra mostra todo o poderio da indústria americana: milhares de figurantes; cenários, reais, embasbacantes; grande elenco; direção de arte fenomenal; direção de fotografia histórica – gravar no deserto, naquela época, naquelas condições, e mesmo assim produzir imagens nunca antes vistas; e a trilha sonora que até hoje está em minha lembrança. Mas lembrem-se: Oscar é injusto, dois filmaços, na minha opinião, foram totalmente ignorados: “Os Intocáveis” de Brian de Palma e “Blade Runner” de Ridley Scott. Tá, ainda não acredita em injustiça? Fernanda Montenegro, um dia, teve que aplaudir a Gwyneth Paltrow.

Boyhood oscar 2015

Sérgio Andrade: Consegui ver no cinema alguns principais concorrentes e entre eles tenho favoritos. Para melhor filme 3 dividem, para mim, a preferência, por terem propostas inusitadas de linguagem e trazerem uma lufada de ar renovador, são eles: “Boyhood”, “Birdman” e “O Grande Hotel Budapeste”. Torço para algumas categorias específicas, filme em língua estrangeira , por exemplo, tem ótimos títulos e vi quase todos, “Ida”, “Leviatã” e “Timbuktu” são geniais e merecem ganhar, mesmo com o incensado argentino “Relatos Selvagens” no páreo. Melhor ator destaco o Michael Keaton, que de fato funciona em “Birdman”. Lamentarei muito se Marion Cotillard não ganhar como melhor atriz, ela está avassaladora em “Dois Dias, Uma noite”. Sei que já tem um Oscar no currículo, mas merece outro. Também quero destacar a fotografia de “Ida”, que concorre e que gostei muito.

Já os vencedores de Oscar pra mim sempre foram feitos de escolhas meio sem noção, são muitos exemplos. Como puderam dar Oscar a “Kramer vs. Kramer” no lugar de “Apocalipse Now” em 1980? Ou mesmo para “Operação França” em vez de “Laranja Mecânica” em 1972? Fico então com algo bem antigo, “Do Mundo Nada Se Leva”, de Frank Capra, vencedor de 1939.

* Texto original alterado para substituir a equivocada expressão humor negro.