O primeiro teaser de Paraísos Artificiais o vendeu como um relato naturalista das raves e de seus frequentadores. Tempos depois, o trailer oficial o mostrou como um Meu Nome Não é Johnny do mundo do bate-estaca, em que jovens da classe-média se envolvem com drogas a ponto de traficá-las.
Felizmente, o filme não se limita a ser um mero “recorte da realidade” e nem mostra mais do mesmo. O drama/romance dirigido por Marcos Prado (Estamira) e produzido por José Padilha (Tropa de Elite) é potencializado pelos elementos citados, em vez de ser menor que eles.
Usando flashbacks na maior parte do tempo, “Paraísos” mostra como o raver Nando (Luca Bianchi) chegou à situação extrema de traficar entorpecentes.
Acompanhamos a história dele em três tempos: no presente do filme, quando saiu da cadeia; dois anos antes da prisão, quando foi a um festival de música eletrônica no Norteste; e sua temporada em Amsterdã, que aconteceu entre as duas situações. Na Europa, ele se apaixona pela DJ Érika (Nathalia Dill), que também participou daquele Woodstock das pickups acompanhada da namorada, Lara (Lívia de Bueno).
Ao longo da história, conhecemos melhor a relação entre os protagonistas, que não se conheceram na Holanda e mostram, convincentemente, que o mundo é um ovo.
Paraísos Artificiais se destaca pela sua abordagem sóbria das drogas.
Por exemplo, o veterano da bicho-grilagem Mark (Roney Villela) as considera “uma viagem intensa e profunda de autodescobrimento”. Além disso, o filme mostra, tal como Easy Rider, a expansão dos sentidos relacionada a essas substâncias.
Cenas em que o momento é dilatado e contemplado se basearam na ideia de que o ectasy intensifica as experiências e ocupam boa parte do filme, mesmo quando não há sexo e/ou uso de substâncias ilícitas. Nelas, a fotografia, que privilegia planos fechados e movimentos suaves, realça as sensações.
Por outro lado, o título do filme afirma que esse bem-estar passageiro se revela uma ilusão com o passar do tempo.
A narrativa reforça essa ideia ao mostrar como as experiências de Nando com o ecstasy ocasionaram, direta e indiretamente, a tragédia dele e de sua família.
Além disso, há uma morte ocasionada pelo uso abusivo de LSD.
A trilha sonora e o design de som competem com a abordagem das drogas pelo posto de maiores qualidades de “Paraísos”.
Naturalmente, a música eletrônica predomina. Nos sentimos numa rave se assistirmos ao filme no cinema. Felizmente, essa predominância não exclui trilhas como new-wave da bad-trip de Nanda. Há um apreço a detalhes como você não ouvir o que os personagens falam por causa do barulho da festa ou das ondas do mar.
Ao mesmo tempo, é admirável a união do som com a imagem e a história. O melhor momento dessa combinação acontece na primeira vez de Nando com ecstasy. A música e os outros sons intensificam o medo, a tensão e a explosão de euforia do presonagem.
Por falar em personagens, suas apresentação e contextualização ocupam uma parte considerável do primeiro ato. O corte para a história de Érika pode, inclusive, fazer o espectador considerá-lo uma quebra ao desenvolvimento do filme.
Porém, a partir da metade, percebe-se que o paralelismo da história se mostra, por causa das relações entre as partes, necessário e impressionante.
Contribuem para esse trunfo de “Paraísos” as atuações, coordenadas pela preparadora de elenco Fátima Toledo, responsável por Cidade de Deus e Tropa de Elite. Nathalia Dill, Luca Bianchi e Lívia de Bueno transmitem a profundidade das emoções e conflitos dos seus personagens com competência.
Guardadas as devidas proporções, “Paraísos Artificiais” se assemelha a Easy Rider ao mostrar a liberdade, o descompromisso e o proveito do momento intensificados por drogas e o preço cobrado por eles, que muitas vezes é altíssimo.
Tal como o clássico, a produção brasileira em nenhum momento levanta bandeiras em favor dos entorpecentes, mas também não os aborda com moralismo. Essa atitude se revelou como um grande trunfo seu.
No contexto nacional, o filme se une a Xingu, Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios e – vá lá – On The Road como um exemplar legítimo da ótima safra do cinema nacional.
Essas produções mostram que, agora, o nosso cinema se preocupa cada vez mais em contar uma boa história do que em fazer um tratado sociológico ou chocar com violência e pobreza naturalistas.
Por fim, ele me mostrou que trailers podem causar impressões equivocadas, tanto para o mal quanto para o bem.
Pois é, como é bom morder a língua de vez em quando.
NOTA: 9.0
As drogas sempre foram um refúgio para a classe média: entre os hippies dos anos 1960 e 1970(que eram de classe média)somado ao prazer, juntou-se o componente político; agora, século 21, é só prazer. Mas não é sobre drogas o filme.É importante perceber como vários elementos comuns a uma rede de jovens participam da economia do filme. A trama é interessante, alguns diálogos são inteligentes e o final é sensacional, saindo das resoluções baratas dos filmes de “Roliúde”. Se os filmes “à la Datena” (Cidade de Deus, Carandiru entre outros)apresentam o mundo das drogas circunscritos ao ambiente da favela, “Paraísos Artificiais” revela a faceta da classe média, ainda que apenas um aspecto, mas determinante para a compreensão da amplitude da rede. A trama gira em torno dos personagens; eles são os condutores da história e não mais ficam aprisionados num ambiente que os oprimem e nem o diretor se perde no fetiche quase sexual por filtros, lentes e efeitos como Meirelles em “Cidade de Deus”. Parabéns César pelos argumentos. A cada dia tem “olhado” o filme como um espectador especial, este olhar que é o verdadeiro olhar da crítica.
Márcio, muito obrigado pelo elogio e por ter se lembrado de como o final é conduzido. Me senti respeitado como espectador ao ver que o filme deixa certas informações subentendidas.
Tem um erro grande no review.
A morte ocasionada no filme não foi causada pelo LSD, e sim pelo GHB, uma droga que nem sequer é parte da cultura trance, e sim da cultura clubber.
Olá, Rene! Muito obrigado por corrigir esse meu erro lisérgico.
gostei da resenha ,é possivel se interessar pelo filme a partir dessa resenha.Esta em cartaz ?ando fora de órbita,deixei de ser cinéfilo.
Olá, Camila! Obrigado pelo comentário.
“Paraísos Artificiais” estrou na última sexta-feira, inclusive em Manaus.
ok!obrigado .boa dica pro fim de semana.
Adoreiiiiiiiiiii…..
O filme foi muito bem produzido e mostra de maneira clara e objetiva que as drogas nunca são as melhores saidas na vida de alguem.
Só achei que tinham muitas cenas de sexo explicito….poderia ter sido mais sutil!!
Mas showwww……amei!!
Adorei o filme…muitooo bom
Olá!
Parabens, otima critica. A mais interessante e bem feita que li até agora. É um retrato da nossa juventude que busca o prazer e o SENTIR a qualquer preço, e uma sociedade corrompida pelo TER E FAZER. Mas o atalho das drogas cobra sim um preço alto, e infelizmente, a cena eletronica virou um paraiso de entropecentes realmente.
Parabens novamente!
as cenas de sexo, sempre lentas, e poéticas, são intercaladas com as cenas do uso das drogas, mais intensas. Isso intensifica a sensação de “ondas” que o filme dá.
Sem essas cenas também, não perceberiamos a intensidade dos romances, a juventude… E sua relação com as drogas. Faz ser um romance mais real, mas não menos bonito (são cenas longas, mas suaves… foram usadas de uma forma bem diferente do que eu já tenha visto)
Excelente resenha meu amigo. Palavras muito bem colocadas e que fazem justiça ao que o filme realmente é. Eu fiquei super satisfeito com o filme, e fico agora, muito mais satisfeito ainda com o resultado dele para todos nós. Abraço amigo!
Diana:
Muito obrigado pelo comentário. Como disse, penso que o filme mostrou as consequências do uso de drogas de uma maneira longe do moralismo e, ao mesmo tempo, sem levantar bandeiras. Quanto às cenas de sexo, achei-as muitas de início. Mas, quando entendi a proposta do diretor, compreendi elas melhor. 🙂
Laila:
Muito obrigado pelo comentário.
Cintia:
Muito obrigado pelo comentário. Esse ponto que você colocou rende horas de conversa!
tmsjs:
Muito obrigado pelo comentário. Concordo com o seu ponto de vista sobre as cenas de sexo.
Helmuth:
Muito obrigado pelo comentário. Uso todas as minhas forças pra escrever uma crítica. Fico agradecido por teres gostado do que escrevi. Espero que também tenha algum ponto de discordância, para podermos debatê-lo. 😀
Péssimo filme! Nudez e sexo típicos de filmes nacionais. Exagerado e chato. Perda de tempo…
Concordo com a Sheila! O diretor ficou obsecado em mostrar o corpo da Nathalia, em cenas exageradamente longas! as falas são tão pobres, que senti vergonha alheia em alguns momentos! Como a parte ridícula delas conversando sobre quando forem velhinhas! que tipo de diálogo é esse? os diálogos são toscos, comuns demais e desinteressantes. Se tirar as falas, não muda nada. As cenas de rolé em amsterdam são lindas, mas longas, repetitivas, tipo “ok, já entendemos que eles andaram de bicicleta em amsterdam” como se eles não tivesse tanto pra fazer ou falar na historia e o editor teve que encher linguiça…
A fotografia é maravilhosa, o tratamento da imagem, as cores e os atores, o que faz desse filme, pelo menos pra mim, um filme sobre beleza. Um excelente festival de clichês e cenas roubadas de outros filmes como por exemplo a cena do peiote por acaso me transportou direto pro filme do the doors quando eles tomam acido no deserto…hmm… enfim, fora a boa representaçao da cena rave, todas as cenas já foram vistas em algum outro filme.
Demora para engrenar, mas depois melhora. É bom pela discussão que abre sobre drogas sintéticas. Tem uma crítica completa sobre isso em http://www.artigosdecinema.blogspot.com/2012/06/paraisos-artificiais.html
Sabrina e Sheila:
Primeiramente, muito obrigado pelo comentário de vocês. Concordo que alguns diálogos poderiam ser melhor escritos, como o exercício de futurologia das duas.
Mesmo assim, penso que essas situações são em menor quantidade do que as relevantes, como os diálogos do terceiro ato, que, felizmente, deixam o desfecho em aberto.
Quanto à cena da bicicleta em Amsterdã, interpretei-a como parte da proposta do filme em se focar no momento, nas sensações, de preferência potencializados por algum fator externo aos personagens.
Sabrina, achei interessante seu ponto-de-vista sobre a fotografia de “Paraísos”.
Alexandre:
Muito obrigado pelo comentário e pelo link!
Olha pelo lado que você sitou, realmente foi muti bom.. Mas na questão do lado romantico do filme, falto muita coisa.. Teve muita cenas de sexo sem necessidade (na minha opinião), final acabou totalmente HORRIVEL!!!! Ele não sabem de onde se conhecem.. O bebê?..E é muito misturado começo, meio e fim… Eles focaram tanto nas drogas e em sexo que o romance do filme ficou totalmente HORRIVEL.. Fiquei muito brava quando o filme acabou
Acho que se fosse um livro, essa historia ficaria bem melhor
Gostei de historia e de seu ponto de vista, no treiller parecia que era mais romantico…
Porque na minha opinião o Romance do filme foi muito ruim!!!
Parabéns pela crítica!
Gostei muito do filme, mas concordo com a Diana sobre as cenas de sexo. Elas poderiam ser mais sutis e/ou mais curtas. Achei meio exagerada a duração das mesmas, até parecia uma forma de “prolongar o filme”.
Trilha sonora ótima e a sequencia da cena que o Nando toma bala pela primeira vez ficou sensacional!!!
A música, as imagens em câmera lenta, os pés pulando na areia. AMEI!!
E como amante da música eletrônica, acho uma pena que as pessoas ainda se utilizem de droga e/ou consumo exagerado de bebida p/ poder se divertir.
Acreditem ou não, curto CARETA, as 8hs de Rave… Sou TOTALMENTE contra as drogas.
Pra mim, basta o som para me fazer viajar.
Assisti o filme achei até que bacana. Claro que tenho algumas ressalvas. Mas é m filme brasileiro com uma temática diferente das costumeiras o sertão ou a violência das cidades.
Aqui tem um videocast com alguns comentários do filme.
Vale a pena conferir.
http://www.youtube.com/watch?v=4rM_MpgoJjY&list=UUNah9sI9R7zPABibsHeoBVw&index=2&feature=plcp
Oi, meu nome é Daniel Berman e eu sou um criador de séries de TV, produtor / diretor, DP, fotógrafo, editor e fundador dos Prémios móvel de fotos.
Gostar de ler o seu post! Continue fazendo o bem!
http://www.runeloot.com/runescape_powerleveling.html
A única coisa plausível no filme é o título. Pq é o filme é bastante artificial e tem uma direção e montagem perdida e frouxa. E o pior de tudo que pra fazer essa lástima audiovisual, os caras gastram mais de R$ 10 milhoes de dinheiro público.
Quem quiser assisitr “flmes de verdade” sobre drogas, assita: trainspotting, requiem, drugstor cowboy, spun, Christiane F. entre outros…