Às vezes você está tão de bom humor que até uma comédia estúpida acaba arrancando mais risadas do que o faria normalmente. Esse foi o meu caso assistindo ao primeiro Quero Matar Meu Chefe, que, convenhamos, não tem muitos méritos, mas acabou me oferecendo uma boa dose de gargalhadas. É claro que, mesmo que o filme tenha passado longe de ser um enorme sucesso de público e crítica como o primeiro Se Beber, Não Case foi, por exemplo, isso não impediu ninguém de tentar faturar mais um pouquinho com uma sequência. Curiosamente, em sua crítica do primeiro longa, Roger Ebert já fazia questão de dizer “é difícil imaginar como uma continuação seria possível, mas encontrarão um jeito. Esperem e vejam”.

Ebert estava certo, e o fato é que Quero Matar Meu Chefe 2 deixa bem claro em seu decorrer que não tem muita razão de existir a não ser aquela estritamente comercial. Mesmo assim, o filme não deixa de ter alguns bons momentos divertidos, ainda que empalidecidos diante da energia e das doses de sarcasmo presentes no filme anterior.

Grande parte desses momentos se deve mais ao carisma e à química do elenco do que ao roteiro ou mesmo à direção em si. De volta aos papeis dos protagonistas, Jason Bateman, Jason Sudeikis e Charlie Day agora decidem investir no empreendedorismo e se tornar seus próprios chefes, graças à invenção genial de um chuveiro “três em um”. No entanto, o sonho do próprio negócio vai por água abaixo depois que o trio sofre um golpe do milionário Burt Hansen (Christoph Waltz) e seu filho Rex (Chris Pine) e fica à beira da falência. Assim, eles partem para a solução mais óbvia em uma situação como essa: sequestrar o herdeiro de Hansen e exigir um resgate para pagar suas dívidas.

Claro que, como já vimos no primeiro filme, nenhum dos três aspirantes a criminosos tem realmente aptidão para ser um assassino ou um sequestrador. De fato, o trio de amigos inclusive parece ter ficado ainda mais estúpido de um filme pro outro, inexplicavelmente. Para sua sorte (ou não), o que eles não esperavam é que Rex estivesse disposto a forjar o próprio sequestro para extorquir um bom dinheiro do pai.

Não tem muito mistério na maneira encontrada para fazer essa sequência: assim como o próprio Se Beber, Não Case e outras tantas comédias, o segredo de Quero Matar Meu Chefe 2 é basicamente repetir a estrutura do primeiro longa, mas desta vez com mais piadas sujas. A aposta é sempre no mais: mais escatologia, mais ambiguidade sexual, mais burrice e inclusive mais agudos em alto e bom som do personagem de Charlie Day – que, se no longa anterior era um dos mais engraçados dos três, nesse flerta com um nível de irritabilidade altíssimo. Logo, nada de original nesse quesito: a cena de abertura em que o trio participa de um programa de TV constrangedor, por exemplo, recicla uma velha piada com sombras e insinuações sexuais que já vimos desde Austin Powers até em Os Normais.

Ainda assim, de alguma maneira, o longa passa longe de ser um desastre completo. A estupidez dos protagonistas se torna quase uma virtude, uma vez que, além de colocá-los em situações absurdas em que o nonsense acaba gerando o riso, destaca mais uma vez seus vilões e coadjuvantes. Chris Pine é irreverente como o herdeiro mimado, e Jennifer Aniston e Kevin Spacey, reprisando seus papeis do filme anterior em participações especiais, mais uma vez se mostram super à vontade, como se estivessem se divertindo muito com seus chefes maquiavélicos – ela, a dentista ninfomaníaca sem limites e ele, o empresário sociopata. Jamie Foxx também dá sua graça de volta como o “consultor de marginalidades” Motherfucker Jones. É graças a esse elenco, que faz o melhor que pode com o que tem em mãos, que o filme enfim consegue arrancar algumas risadas, mesmo com furos gigantescos de roteiro e uma penca de piadas fracas. Pena que Christoph Waltz não tenha o mesmo destaque, já que seu milionário “sub-Hans Landa” é tão mal aproveitado na história, com pouco tempo em cena.

Talvez com uma direção e um roteiro mais inspirados do americano Sean Anders (corroteirista também do recente Debi & Lóide 2), Quero Matar Meu Chefe 2 pudesse ser uma comédia realmente marcante. Por ora, é uma sequência que não tem muito a dizer, mas que não deixa de ter seus momentos realmente engraçados.

Ou vai ver eu estava realmente de muito bom humor.

PS.: As legendas podiam ajudar um pouquinho mais com as piadas. O próprio nome do “Motherfucker Jones”, por exemplo, continua se perdendo com traduções como “Ferra-Mãe Jones”.

* Texto original alterado para substituir a equivocada expressão humor negro.