Selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2016, o Cinema de Fronteira Itinerante do Rio Negro irá expandir a atividade cineclubista no interior do Amazonas. Segundo a organizadora do projeto, a produtora audiovisual Danielle Nazareno, a iniciativa será realizada em cinco sub-regiões do alto Rio Negro a partir do apoio do projeto cultural nacional.

Com o Cinema de Fronteira, Nazareno expande as atividades do Cine Alto Rio Negro, cineclube existente desde 2011 na cidade de São Gabriel da Cachoeira. “É um desafio, porque mais uma vez revive o ideal de cineclube, conferindo autonomia para poder comprar equipamentos e as pessoas poderem ver que o cineclube não é coisa de romântico nem papo furado”, disse a produtora audiovisual.

Para Nazareno, a seleção do projeto é vista como referência de reflexão para que, de fato, a cultura tenha seu espaço privilegiado e seja vista com bons olhos, reconhecendo o valor da produção cultural, para que não se torne isolada, mas convirja em espaços unificados, colaborativos, participativos. Ainda conforme a produtora, com os cineclubes, as comunidades locais poderão utilizar o audiovisual como instrumento educacional nas escolas.

Para a etapa inicial de desenvolvimento do Cinema de Fronteira Itinerante do Rio Negro foram selecionadas cinco comunidades que representassem cada sub-região. Os locais escolhidos são Maturacá, Cucuí, Iauaretê, Taracuá e Pari-Cachoeira. “Em todos esses locais, há forte atuação dos pelotões de fronteira do Exército, além de, para a execução do projeto, contar com o auxílio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), que se confugira como um órgão fundamental no processo de implantação”, disse.


Viagem marcou início de projeto

Segundo Nazareno, o projeto nasceu em uma visita dela à comunidade de Maturacá em agosto de 2015, a convite de Flavio Bocarde, então responsável pelo parque do pico da Neblina e representante do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os dois participaram de uma assembleia juntamente com a Associação dos Ianomâmis, a prefeitura de São Gabriel da Cachoeira, secretarias municipais, Instituto Socioambiental, ONG de Saúde Indígena e FOIRN. Durante as noites, exibições simultâneas do Cine Alto Rio Negro aconteciam nas comunidades de Maturacá e Ariabu.

Desta forma, ainda conforme Nazareno, surgiu a ideia de implementar um cinema itinerante nas comunidades vizinhas ao município de São Gabriel da Cachoeira. “A ideia é proporcionar entretenimento e cidadania com políticas públicas através da exibição e produção de audiovisual para os jovens indígenas das comunidades, contribuindo na formação de um olhar diversificado na região. Com isso, o Cinema de Fronteira busca se tornar um meio de educação, reflexão e intercâmbio cultural”, declarou.


Preocupação com a perda da identidade

Danielle Nazareno afirma que um constante cuidado do projeto é a manutenção do apoio e do diálogo com órgãos públicos, instituições educacionais, a câmara municipal e políticos da região. Para ela, São Gabriel da Cachoeira não possui tanta preocupação com a cultura indígena, ocasionando a perda da identidade da cidade. “Não temos um espaço cultural próprio que venha a promover a cultura indígena, que abrace as etnias e forneça oficinas que arraiguem o valor cultural presente no município. A carência disso promove um alto isolamento das características indígenas na própria cidade”, declarou.

Pensando nisso, o Cinema de Fronteira Itinerante do Rio Negro pretende ter como base o Cacuri Espaço Cultural, uma iniciativa de Danielle Nazareno em sua própria residência. Para ela, a ideia é ter um local que forneça não apenas um diálogo com o campo cultural do audiovisual, mas se estenda ao compartilhamento de expressões artísticas. “Os espaços culturais têm surgido da necessidade do ser humano de compartilhar um bem”, conclui.