Companhia teatral surgida em Manaus no ano de 2013, o Ateliê 23 traz “Ensaio de Despedida” como um de seus maiores sucessos. Protagonizada por Taciano Soares e Thais Vasconcelos, a peça dirigida por Eric Lima estreou em fevereiro de 2017 e, um mês depois, abriu a 11ª Mostra de Teatro do Amazonas. Recentemente, foi reencenada pelo grupo com Jorge Florêncio no lugar de Thais na programação Combo 23, em dezembro de 2020.
Agora, a peça vira filme: novamente comandada por Eric Lima, a produção teve as gravações finalizadas em setembro. Este, aliás, será o segundo curta-metragem do Ateliê 23: “A Bela é Poc” foi gravado no primeiro semestre deste ano – você pode conhecer todos os detalhes sobre o projeto no podcast do Cine Set ‘Novidades do Cinema Amazonense – Parte I”.
Eric Lima contou ao Cine Set que o Ateliê 23 já conversava sobre adaptar a peça para o formato audiovisual. “A pandemia impulsionou que esses planos se concretizassem”, disse. Com a narrativa feita sem linearidade – tal qual o espetáculo teatral – “Ensaio de Despedida” acompanha quatro atores – dois homens (Dimas Mendonça e Taciano Soares) e duas mulheres (Dinne Queiroz e Júlia Kahane) -, que se entrelaçam para contar a história de um único casal. Desta forma, conforme o filme avança, o gênero dos personagens torna-se fluido.
Em dado momento, temos um casal homossexual e logo após um casal heterossexual formado pelos mesmos personagens. Como esse rodízio acontece somente entre atores, não envolvendo os personagens, ao final, ainda se conta a história de uma única relação.
DE MIKE NICHOLS A SAM MENDES: REFERÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS
Sucessos recentes como “Closer – Perto Demais”, de Mike Nichols, “Histórias de um Casamento”, de Noah Baumbach, e “Foi Apenas um Sonho”, de Sam Mendes, são referências para “Ensaio de Despedida”. Porém, se a peça traz trechos desses filmes, Eric preferiu na adaptação para o cinema trabalhar estas produções de forma mais discreta.
“Dentro desse lugar mais democrático das relações, foram colocados esses diálogos conhecidos, por serem fortes e icônicos, na boca de personagens de outras sexualidades”, declarou. Eric ainda enxerga essa abordagem como uma reparação para “aqueles que já se sentiram como algum desses personagens e torna-se mais uma opção para que as pessoas possam se identificar no filme”.
Por dentro dos relacionamentos
Desenvolvida pelo Ateliê 23, a pesquisa Bionarrativas Cênicas foi fundamental para a construção do roteiro. Nela, o grupo utiliza elementos biográficos para a construção da cena. Esse é um processo importante, segundo Eric, para ter-se referências sobre as relações internas dos envolvidos na produção.
“Muitos itens da peça, assim como do roteiro do filme, foram construídos sob as histórias de relacionamentos vividos pelos intérpretes e pessoas do processo, assim como de outros conhecidos”, revelou. Para o diretor do Ateliê 23 e um dos atores do filme, Taciano Soares, a experiência de participar de “Ensaio de Despedida” foi renovadora.
A principal diferença entre trabalhar no cinema e no teatro é a intenção da atuação. Enquanto no espetáculo, há na necessidade de ser um corpo estendido e preencher todo o palco, na sétima arte, a intencionalidade está no ângulo da câmera, para aquilo que o diretor que mostrar
Um Novo Olhar
Aqueles que já tiveram a oportunidade de assistir “Ensaio de Despedida” no teatro poderão contemplar uma nova abordagem para a história. A direção de arte, assinada pelo próprio diretor ao lado de Laury Gitana, marca um novo olhar sobre o tema.
O curta acontece dentro de um apartamento, com os personagens em constante movimento de entrada e saída, simbolizando a forma como estão presos a sua relação. “Existe um contraste grande dentro da casa onde se passa a narrativa: na mesma sala de estar existe um lado cheio de vida e informações e do outro vazio, branco, sem personalidade. Opostos seria a palavra de ordem”, disse o diretor.
“Ensaio de Despedida – o Filme” toca em assuntos corriqueiros dentro de uma relação que independem do gênero como traição, desencontros e relacionamentos abusivos. Para Eric Lima, o entrosamento da equipe fez a diferença na realização da adaptação, por serem pessoas que “trabalham juntos há alguns anos, o que tornou o processo muito natural e orgânico. A experiência dos atores, por exemplo, foi importantíssima para que as resoluções de takes difíceis fossem muito efetivas”, disse.