O atentado às torres do World Trade Center e ao Pentágono fizeram o mundo conhecer o Afeganistão. Dominado pelo fundamentalismo islâmico do Taleban, o país asiático abrigou e deu apoio ao terrorista Osama Bin Laden. O mundo conheceu a opressão sofrida pelas mulheres, impedidas de trabalhar e marginalizadas pela sociedade patriarcal.

Agora, o que aconteceu no país após a invasão americana? Houve melhoras progressivas para o povo? Dirigido por Barmak Akram, “Wajma” apresenta este cenário e aponta os contrassensos de uma população dividida entre o avanço da influência do Ocidente contra a pobreza do Afeganistão, mas com as mulheres ainda vítimas da violência e intolerância.

Utilizando o nome dos próprios atores para os personagens, a história mostra o envolvimento amoroso da jovem Wajma com o garçom Mustafa. Sem a aprovação da família dela, os dois iniciam um namoro e começam a ser encontrar às escondidas. Porém, a garota acaba ficando grávida e o rapaz se recusa a assumir a paternidade. Desesperada, ela conta o fato para os familiares e terá que enfrentar a ira do pai.

Como se percebe pela sinopse, “Wajma” traz uma trama digna de novela de Manoel Carlos. Por isso, o contexto social acaba ganhando força durante boa parte da projeção. Observar a crescente presença de símbolos do capitalismo americano no Afeganistão como, por exemplo, a Coca-Cola na casa da família ou a cafeteria com acesso à Internet voltada para estrangeiros, aponta as mudanças trazidas pela guerra. Por outro lado, a pobreza permanece no país, já que as tomadas panorâmicas mostram a deficiência da energia elétrica de Cabul, enquanto nas ruas sobram problemas de asfaltamento e os famosos ‘gatos’ se proliferam. Contrastes de uma nação ainda sem rumo.

Sem dúvida, o clímax do filme fica reservado para os momentos de tensão trazidos pelo violento pai de Wajma. As agressões cometidas por Hadji Gul Aser e o cárcere da garota, mantida dentro de um cubículo para o armazenamento de madeira, mostram que as mulheres continuam sendo vítimas da submissão ao homem. Conquistas como usar maquiagem e entrar em uma faculdade se tornam pequenas perto de tanta intolerância e radicalismo.

Através de “Wajma” e da direção segura de Akram, o Afeganistão mostra-se um país dividido entre o Ocidente e os dogmas do Islã, mas com a violência contra a mulher permanente. Independente do Taleban e do terrorismo.

NOTA:7,5

PS:  “Wajma” é o indicado do Afeganistão para concorrer ao Oscar de Melhor Film Estrangeiro em 2014.