2012 é o ano em que A primeira noite de um homem (The graduate) completa 35 anos! Quem já viu o filme sabe que, apesar de a história ser simples, é bem ousada (para a época) e contada de forma única. O longa trouxe polêmica pelas cenas de sexo e nudez, pela relação entre uma mulher de meia-idade com um rapaz, e pelo inusitado triângulo amoroso da história.

Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) aparece voltando para a casa dos pais após terminar a faculdade, como um rapaz confuso e com medo de pensar no seu futuro. Ele, aos 21 anos, ainda é inseguro e ainda precisa se descobrir. Mrs. Robinson (Anne Bancroft), pelo contrário, é uma mulher madura e muito segura de si.

A graduação, do título original do filme, quer dizer não apenas que o protagonista está se formando, mas que ele está tornando-se um homem, moralmente falando. Ben vai aos poucos percebendo que as pessoas ao seu redor são fúteis, que sua geração está meio perdida no meio das transformações da sociedade, e assim começa um envolvimento com uma mulher mais velha e esposa do sócio de seu pai.

Uma grande qualidade dos personagens no filme é que eles são bem trabalhados e aprofundados. A dominadora Mrs. Robinson é inesquecível. Ela vai mostrando seus sentimentos e frustações aos poucos. Ben é um personagem bastante interessante também, porque vai mudando durante o filme, afinal, ele passa por momentos de transição na vida. Começa o filme como um rapaz tímido e inseguro, mas depois vai ganhando confiança e tomando atitudes de um homem forte e determinado.

As primeiras cenas de Ben e Mrs. Robinson sozinhos são de pura tensão sexual e também chegam a ser bem engraçadas porque o rapaz é realmente inseguro, não sabe o que fazer e mete os pés pelas mãos. É ela quem dá as investidas nele, que a princípio acha tudo absurdo. A cena em que ela tira a roupa e ele fica chocado em ver é bem interessante, com imagens entrecortadas, ora mostrando partes do corpo de Mrs. Robinson, ora mostrando os olhares fixos e assustados de Ben.

Depois de mostrar sua reação ao vê-la nua, há cenas que mostram como Ben se sente sufocado pela ideia de que agora é um homem que deve seguir seu próprio caminho, e encontra-se deslocado no seu próprio núcleo familiar. A cena mais clara deste momento é no seu aniversário de 21 anos, quando seus pais o obrigam a fazer uma exibição na piscina para os convidados, usando uma roupa de mergulho! Neste momento ficamos ofegantes como ele.

O momento em que os dois ficam juntos pela primeira vez já mostra como ele quer se libertar da sua situação de mocinho, para tornar-se um homem, agindo com firmeza, por si próprio. Os diálogos nessa cena são memoráveis; é quando ela pergunta para ele se é desejável, e se aquela é sua primeira vez. Quando Mrs. Robinson ensaia desistir do garoto, ele diz: – Não se mexa! São conversas reais, divertidas e sensuais.

Na verdade, não só nesta cena os diálogos impressionam, o roteiro do filme, inspirado no livro de Charles Webb, é muito inteligente e diferente. Cheio de personagens e cenas marcantes, como a que Ben ouve um amigo da família dizer a receita do sucesso profissional: – plástico! E fica irresoluto.

Em seguida, ele vai mudando de comportamento e se abrindo cada vez mais para seu envolvimento com Mrs. Robinson. A passagem do tempo no filme é mostrada de maneira bem ágil, e diria inovadora pra a época, com a câmera focada no personagem, e que depois vai revelando o lugar e o momento em que ele está. E a cada cena, Ben mostra-se mais confiante e mais adulto, até que tem uma conversa séria com sua amante, e a relação dos dois estremece com a entrada da jovem Elaine Robinson (Katherine Ross) na história.

É importante dizer que o trio principal do filme estava muito convincente em seus papéis. Hoffman, instruído pelo diretor Mike Nichols a “não interpretar” e agir naturalmente, fez um perfeito garoto assustado, mas o mais admirável foi ele ter conseguido deixar seu personagem, Ben, tão complexo e real sendo simples e sem graça, já que depois se torna mais seguro, apaixona-se, etc.

Bancroft, por sua vez, já conhecida por ter feito papéis admiráveis no cinema, como no filme, em que ganhou um Oscar, continua ótima. Forte como em outros trabalhos que já fez e, algumas vezes, mostrando-se antes de tudo uma mulher cheia de sentimentos transparentes. Já Katherine Ross trouxe a juventude e leveza da garota americana com sua doçura e beleza. Aliás, Bancroft e Ross parecem mesmo mãe e filha. Os três concorreram ao Oscar.

A trilha sonora de A primeira noite de um homem é inesquecível. Muito original ao trazer várias canções antigas e já queridas da dupla Simon &Garfunkel, o filme já começa ao som de The sound of silence. Essa música fez muito sucesso no Brasil; meus pais me disseram que quando eu era bem pequena, cantarolava a versão brasileira dessa música pra quem quisesse ouvir: “o seu nome eu escrevi, na areia…” (risos).

Mas a música tema do filme Mrs. Robinson foi a que ficou na cabeça das pessoas, sendo assoviada pelas ruas. O truque de trazer músicas amadas pelos jovens funcionou para atrair a sensibilidade do público, e é usado até hoje.

As mulheres são mostradas de forma bem real, com suas características mais comuns, como a passividade à flor da pele, e o poder que exercem sobre os homens, usando por vezes sua segurança (Mrs. Robinson) ou sua delicadeza (Elaine Robinson) para conquistar o amado.

O filme começa a se tornar um perfeito romance quando se aproxima do final. Mas para ter seu desfecho feliz, Benjamin Braddock precisa passar por dificuldades, e também deve mostrar que é homem o suficiente para ir atrás do que deseja. Neste ponto, a história se alongou mais do que devia, com o objetivo de mostrar que ele devia superar adversidades para merecer sua amada Elaine.

A primeira noite de um homem é um filme de uma nova geração hollywoodiana, que trouxe temas mais carregados para a tela, em obras como Bonnie e Clyde (1967), Sem destino e Perdidos na noite (1969), e Mash (1970), que tratavam de sexo, violência, drogas, novos valores, etc.

O diretor Mike Nichols ganhou, aos 27 anos, o Oscar de Melhor direção por esse filme; Ele surgiu de uma nova safra de diretores mais ousados. Seu filme anterior diz muito – o bem conceituado e forte Quem tem medo de Virginia Woolf?

E nesta época, os astros também mudaram e no lugar de galãs como Cary Grant e Gregory Peck, vieram franzinos como Jack Nicholson, Al Pacino e Hoffman, que trouxeram mais realismo para a telona.

Uma época de grandes conquistas para o cinema americano.

NOTA: 9,5