Remakes geralmente são vistos com grande desconfiança pela maioria dos cinéfilos. Quase sempre os produtores se prendem a fórmulas, não se arriscando em trazer uma nova visão à história. Além dos clássicos de antigamente, Hollywood possui o costume de comprar os direitos de filmes estrangeiros e refilmá-los na língua inglesa. Bombas como “Oldboy”, de Spike Lee, surgem daí.

Agora, chegou a vez de “Amigos Para Sempre”, adaptação americana de “Intocáveis”, sucesso francês de 2011. Diferente do que muitos apontavam, a dramédia sobre um ricaço paraplégico que contrata uma pessoa aparentemente inadequada para ser seu cuidador não chega a ser um total desastre.

Muito disso deve-se à sintonia entre Bryan Craston (“Breaking Bad”) e Kevin Hart (“Jumanji”). O ex-apresentador do Oscar que nunca foi, aliás, interpreta o personagem mais diferente da carreira. Mais comedido, Hart utiliza-se de facetas mais dramáticas para compor Dell. Apesar do papel mais sério, “Amigos Para Sempre” conta com diversos momentos cômicos que funcionam perfeitamente – exemplo a cena do chuveiro – e se não fosse pela competência do ator e do carisma do personagem, o rapaz poderia ser aborrecido ou até mesmo inconveniente em excesso.

Já a Cranston resta observarmos o já habitual talento do eterno Walter White. Sem poder interagir muito por conta da limitação física do personagem, o ator compõe uma figura bastante transparente e sem exageros através de sua expressão facial. Mesmo com um tom de voz baixo é possível percebermos quando Phillip está chateado, por exemplo.

A surpresa não tão agradável fica por vermos Nicole Kidman em um papel tão subaproveitado. Quase como uma governanta de luxo, esse deve ser um dos cheques mais fáceis da carreira da atriz. Já a direção de Neil Burger (“Sem Limites” e O “Ilusionista”) é competente, os flashbacks de Phillip lembram de longe até outra produção francesa, O Escafrando e a Borboleta em alguns momentos, ainda que acompanhado por música erudita. O roteiro reescrito por Jon Hartmere – baseado no original de Olivier Nakache e Eric Toledado – não se arrisca apesar de flertar com um contexto que poderia ser mais interessante.

Ao dar até um destaque maior a Dell, a produção parecia caminhar para uma discussão mais profunda acerca das condições sociais da periferia ou até mesmo sobre racismo, mas, isso nunca se concretiza. Um exemplo claro é do filho do cuidador sendo aparentemente recrutado por um traficante. A ideia é apresentada, mas, depois, abandonada e não volta mais ao filme.

No fim das contas, “Amigos para Sempre” consegue entregar sua mensagem inspiradora ao mesmo tempo em que alivia isso com bom humor. Por outro lado, não se livra totalmente das amarras de uma produção burocrática feita como um produto sob encomenda.