A bruxa está oficialmente à solta no Cine Set. Posso adiantar logo de cara, por exemplo, que esta não será a única lista de Halloween que nosso estimado portal terá esta semana. Mas esta é, sim, a primeira lista de filmes de terror nacionais publicada aqui no site, mostrando que sempre há tempo de se redimir.  

Portanto, relaxe e se prepare para adicionar ainda mais filmes à sua maratona de Dia das Bruxas.  

1. Encarnação do Demônio (2008)

 
O último filme da clássica trilogia de Zé do Caixão iniciada em “À Meia Noite Levarei Sua Alma” (1964) é um caso estranho. Quarenta anos haviam se passado entre o segundo filme da franquia e este capítulo final (apesar de aparições esporádicas do mítico coveiro temperarem alguns dos filmes de Mojica Marins nesse ínterim). O mundo mudou, e o cinema de horror também. Aranhas e morcegos de borracha ficaram pra trás. Em seu lugar, o gore dos franceses pós-2000 e o torture porn dos nossos amigos ao Norte do Equador dão as cartas.  

“Encarnação do Demônio” é Zé do Caixão/Mojica Marins entrando em choque não só com essas novas tendências, mas com o mundo que parece ter decaído ainda mais no quesito mal-estar social. Assim, depois de quarenta anos na prisão, Zé do Caixão constrói seu novo covil numa favela paulistana. Na caçada a Zé, um sanguinário policial militar (o lendário Jece Valadão) vem somar à figura do padre (Milhem Cortaz, ótimo), representante das velhas superstições que Zé tanto despreza.   

Já ao arsenal de crueldades do coveiro, Mojica adiciona estripamentos, esfolamentos e todo o tipo de nojeira sanguinolenta. Há aí, sem sombra de dúvidas, a influência de Dennison Ramalho, atuando aqui como assistente de direção e roteirista, e que mais tarde viria a dirigir o longa “Morto Não Fala”.   

2. “O Anjo da Noite” (Walter Hugo Khouri)


Deixando de lado os melodramas existenciais pelos quais é mais famoso, Khouri enfoca um casarão na Serra de Petrópolis, RJ, para conduzir sua trama de horror gótico. O resultado é algo como uma mistura de “Os Inocentes” com “Gritos e Sussurros”, em uma trama à la Henry James. Uma jovem é contratada para ser a nova babá de dois pestinhas num palacete de campo. Mas nem tudo é o que parece e, quando a noite chega, ela percebe que sua vida pode estar correndo perigo. Pouco é explicado e muito é apenas sugerido, enquanto Khouri move sua câmera em torno dos atores como se ela executasse movimentos de balé.  

3. “Mangue Negro” (2008)

O diretor Rodrigo Aragão é um discípulo do horror de baixo orçamento nestas terras subtropicais, e seu longa de 2008 um verdadeiro manifesto do it yourself. As águas poluídas de um manguezal isolado acabam trazendo à vida cadáveres canibais – uma típica premissa de um filme de zumbi, portanto. Não se trata aqui de piscadelas irônicas ou apropriação espertinha de uma estética “trash” (um dos termos mais desagradáveis já inventados pela humanidade), mas de uma celebração ao sangue falso e às peles emborrachadas. 

4. “Ninjas” (2011) 

Este curta de Dennison Ramalho é provavelmente o filme mais desagradável desta lista – o que, em termos de terror, pode contar pontos (a depender do estômago do espectador). Aqui, um PM de São Paulo, em crise de consciência após assassinar um inocente numa operação em uma favela, é recrutado para ser parte de um grupo de extermínio, os tais ninjas do título. Ramalho não está interessado em alegorias bonitinhas ou metáforas de mal estar social: seu cinema é frontal e sua violência é escancarada. Tudo é uma merda e a gente já sabe disso. Pode-se questionar, é verdade, o quão produtiva é sua abordagem. Mas uma coisa é certa: você não vai esquecer as imagens deste curta tão facilmente.  

5. “Snuff, Vítimas do Prazer” (1977) 

Com roteiro de Carlos Reichenbach, esse misto de pornochanchada com terror tenta capitalizar, é claro, no fenômeno dos snuff films. Aqui, um produtor de um desses filmes onde a matança é real reúne uma série de personalidades desavisadas para atuar no seu próximo projeto. Uma delas é a figura do ator amalucado que se internou num manicômio, encarnado pelo sempre delicioso (em todos os sentidos possíveis) Roberto Miranda. O pitch do filme para um espectador contemporâneo? Este é o “X” original, só que melhor.