“Soror” é o primeiro longa-metragem de Deborah Haven, diretora amazonense que começou sua carreira em 2016, quando foi uma das criadoras a produtora audiovisual Dream House Pictures. Seu mais novo filme trata sobre uma investigação policial no ano de 1946, quando a polícia da cidade fictícia de Soror investiga o desaparecimento da jovem professora Serena Caires, interpretada pela própria diretora. Após um ano, são encontrados restos mortais na floresta da cidade, que não são de Serena, mas possuem certa ligação com ela.
“No decorrer do filme, histórias de diferentes personagens se desenvolvem dando a entender tanto as motivações do desaparecimento de Serena quanto de quem são os restos mortais na floresta”, explicou Deborah em entrevista ao Cine Set.
A trama mistura elementos de fantasia e terror, partindo para um estudo de personagens abordando aspectos bons e ruins dos heróis e vilões. Deborah define a obra como visceral, mostrando como o ser humano pode se corromper e cometer atrocidades contra outras pessoas, sendo inimigos ou não. “Ao mesmo tempo, porém, entendemos que a palavra “Sororidade” tem outro sentido no filme: união incondicional. Sendo para o bem ou para o mal”, ela ressalta.
DESAFIOS PANDÊMICOS E DO CINEMA INDEPENDENTE
A pré-produção do filme iniciou em junho de 2020 e as gravações ocorreram entre setembro e dezembro do mesmo ano. Além de contar com as dificuldades já conhecidas para produções independentes, a equipe teve que lidar com a pandemia. A produção se preocupou em realizar vários testes de Covid-19 durante a fase presencial de produção, além de tomar o cuidado de afastar qualquer pessoa com algum sintoma.
Porém, Deborah destaca que a fase de pós-produção foi especialmente desafiadora, já que a equipe não podia se dedicar exclusivamente para a obra. Algumas das situações que tiveram que resolver foram problemas com dublagem, correção de defeitos em cena, coloração e áudio. A produção, como conta Deborah, é totalmente independente, tanto de “Soror”, quanto das outras obras da Dream House Picture.
“Foi tudo com grana nossa mesmo. Temos curtas com distribuidores de fora como a House of Disaster Tv, da Itália, e a Shami Media Group, de Nova York. Nossos filmes, em versões alternativas, são vendidos em diversas plataformas de streaming, uma delas é a Prime Video gringa. Isso nos gera monetização e ajuda muito em nossas próprias produções”.
ARI ASTER A DAVIN LYNCH: INSPIRAÇÕES PARA “SOBOR”
A diretora fez questão de destacar os artistas envolvidos na produção, tanto alguns mais experientes como Elis Marinheiro, Arthur Bulcão, Joice Caster, Acácia Mié e Roberto Hades, e novos artistas como Guilherme Lobo, Edgard Henrique, Narel Desiree, Erivaldo Rodrigues e Jackson Gatell.
O roteiro do filme é uma parceria entre Deborah, Diego Pinzón e Álex Alli que também são idealizadores da Dream House Pictures. A principal referência é o filme “A Bruxa” de Robert Eggers, um dos favoritos da cineasta, além de obras de Ari Aster e David Lynch. “Houve diversas reformulações na história até o ponto de chegarmos à sua versão final. Fizemos alterações para que conseguíssemos gravar independente aqui na cidade. E deu muito certo. Contamos com o apoio da Secretaria de Cultura na cessão de uso de espaços”, conta Deborah.
O filme está disponível para compra no site oficial da produtora. Além disso, também ficará disponível em algumas plataformas de streaming, como a House of Disaster. A Dream House Picture ainda tenta fechar com outras plataformas e divulgará em suas redes as novidades.
Deborah também conversou com o Cine Set sobre esses anos de experiência com uma produtora independente, a estética das obras, estratégias de divulgação e falou sobre a equipe da qual faz parte.
Cine Set – Falando um pouco mais sobre a produtora, pode me dizer quem faz parte da equipe?
Deborah Haven – Bem, nosso núcleo base é formado por mim, pelo diretor de arte Álex Alli, por Elis Marinheiro, a jornalista Narel Desiree, Guilherme Lobo, Edgard Henrique e Erivaldo Rodrigues. Chamo de núcleo base porque é a equipe que está mais à frente de tudo, organizando tudo sempre. Temos parcerias com outros cineastas independentes como Lucas Simões, Roberto Hades, Juan Lopes e também já trabalhamos com alguns atores bastante conhecidos de Manaus como a Joice Caster, a Acácia Mié, o Arthur Bulcão, o Gomes Lima, o Ítalo Castro e a Geísa Fröhlich. Fizemos diversas parcerias ao longo dos anos.
Cine Set – Você pode falar um pouco sobre a estética dos filmes? Algumas obras são faladas em inglês. Foi uma inspiração dos filmes nessa língua, uma estratégia para levar os filmes a mais locais? Como se deu essa escolha?
Deborah Haven – Bom, no geral nossa estética sempre foi, de certa forma, baseada nas obras que mais nos influenciam, como os climas obscuros dos filmes do Robert Eggers (“A Bruxa” e “O Farol”), alguns enquadramentos do (Stanley) Kubrick (“O Iluminado”) e por aí vai. Nós nunca tivemos antes de “Soror” uma direção de arte tão trabalhada ou tão rebuscada. Foi em “Soror” que levamos tudo a um outro patamar. A direção de arte, a fotografia e a edição a um nível que nos custou bastante pesquisa e estudo. Fizemos pesquisas de roupas da época, costuramos figurinos baseados nesses trajes, bem como objetos daquele período, penteados, metáforas visuais para cores. Cada personagem tem sua cor, sua linguagem, sua forma, seu amuleto, etc. A direção de fotografia e edição também conta com ângulos que sempre revelam informações metafóricas nos cenários, usando a própria direção de arte como apoio. O filme é todo em português e aconteceu naturalmente, apesar de já termos feito curtas em inglês. Isso acontecia em alguns casos apenas como ferramenta estratégica de atingir uma outra fatia de público.
Cine Set – E como tem sido esses anos de trabalho e a repercussão dos filmes?
Deborah Haven – Em 2016, lançamos o primeiro curta-metragem “A Carta”, que foi muito bem recebido pelo público. Isso nos incentivou a continuar. Afinal, o que nos leva a seguir em frente sempre são as pessoas que admiram nosso trabalho e, acima disso, é o amor que tempos por isso. Então, não pensamos em parar nunca. Após “A Carta” vieram cerca de 20 produções de curtas.
Uma das melhores coisas disso tudo, não só pra mim, mas todos que já participaram de qualquer projeto nosso, foi ter criado um ótimo portfólio de trabalho e experiência. Nos ajudou a ter mais experiência em set, nos abriu a mente para criar novos projetos e de conhecer novas pessoas da área, nos incentivou a estudar sempre mais. Eu amo estudar. Ainda mais se for Cinema. Então, sempre que posso, estou estudando cinema para justamente ter muito mais conhecimento e base no que eu tiver de fazer.
Participamos de diversos festivais nacionais e internacionais, o que também significa uma vitória para nossos trabalhos. Ser considerado parte de um festival, seja ele qual for, significa muito para nós, pois, acaba sendo uma valorização dos filmes. E alguns importantes festivais e mostras que participamos e, alguns até vencemos, foram Fake Flesh Film Fest do Canadá, Fic Fan Fest da Argentina, Festival of Terror da Inglaterra, Morce-Go Vermelho de Goiás, Mostra Sesc de Cinema Nacional, Shortcutz Brazil de Santa Catarina, Mostra Cine Matilha de Filmes Independentes de São Paulo, Volterra Fantasy Film Festival da Itália e 1º Mostra de Cinema Da Casa em Casa de São Paulo.